terça-feira, 23 de dezembro de 2025

As rosas foram feitas para amar, e eu também

Ray Cunha fotografado pelo pintor André Cerino (2013)

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 23 DE DEZEMBRO DE 2025 – A vida é sonho e o tempo, ilusão. Este ano tem sido uma noite insone, com ditadura da toga, desvio de trilhões de reais, presos políticos, assassinos à espreita, chefões do narcotráfico impunes e aposentados do INSS assaltados. Contudo, não há somente pesadelo. Donald Trump foi empossado em 20 de janeiro e depois de amanhã é Natal. Digam o que disserem do Natal, mas é Natal.

O tempo é uma ilusão e não posso mais me iludir. Não posso passar uma noite inteira amando, arrancando lamentos de alegria de uma mulher, nem beber Cerpinha enevoada até ficar bêbedo, nem lutar boxe. Mas posso escrever e reler livros de Ernest Hemingway, Stieg Larsson, David Lagercrantz, Dan Brown, O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, Gabriel García Márquez, Ruy Castro, Isnard Brandão Lima Filho, uma infinidade de autores!

Sonho com crianças jogando bola em um campinho improvisado. Estou sentado ali perto, atento, como um cão guardando ovelhas. Se a bola cai longe, vou buscá-la, se surge um desentendimento entre elas, acalmo-as e procuro a solução mais salomônica, e se uma delas se machuca, acalanto-a. Cuido para que joguem com alegria e retornem seguras para seus lares.

Passei o ano todo trabalhando em dois livros: um deles é o último de uma trilogia de romances políticos que começou com O CLUBE DOS ONIPOTENTES e O OLHO DO TOURO, e que ficará pronto no ano eleitoral de 2026; e um volume de filosofia da Medicina Tradicional Chinesa, a ser publicado no próximo mês. Em 2026, trabalharei em novo romance.

Faço planos o tempo todo. Pretendo bater perna no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Valência, na Espanha, em qualquer ponto do Litoral. Pretendo comprar livros que desejo ler desde que eu era imortal. Todo jovem é imortal. E creio que ainda terei força para atender pacientes em trabalho voluntário nas manhãs de sábado e domingo. José Aparecido, em sua generosidade, publicará A IDENTIDADE CARIOCA em formato de folhetim, no seu Conexão Minas.

De modo que 2026 se apresenta com muitas possibilidades. Especialmente no campo político. Se Jair Messias Bolsonaro aguentar mais um pouco ao assassinato diuturno a que é submetido, deverá ser libertado no próximo ano. Até lá, Trump terá retirado do convívio da Humanidade o monstro venezuelano, Nicolás Maduro, e o regime cubano terá derretido como vampiro hollywoodiano ao sol.

É provável que tenhamos uma sequência de John Wick e um novo 007, e filmes com Léa Seydoux e Ana de Armas, e que a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet) consiga realizar seu quadragésimo primeiro congresso em Brasília/DF. A propósito, assim que o regime da toga cair vou, como abrajetiano, voltar a escrever artigos pela volta dos cassinos. Legalizar o jogo de azar, agora, é o mesmo que entregá-lo para a máfia. E a Associação Brasileira de Jornalistas e Associados (Ajoia) estará funcionando a todo pano.

Não sei se irei a Macapá/AP, minha cidade natal. Quando o escritor Fernando Canto estava vivo, sempre que eu ia a Macapá fazíamos uma farra pantagruélica, mas meu irmão Fernando Canto foi para o azul, e deve beber, agora, na companhia de Hemingway, García Márquez e outros escritores chegados a um balcão de bar. Macapá está tomada por comunistas – universidade, imprensa, políticos – e eu sou conservador.

Os meus maiores planos é fisgar um marlim azul de 637 quilos e 5 metros em Guarapari, Espírito Santo; convencer Olivar Cunha a pintar uma cafuza cor de jambo, de olhos verdes e cabelos ruivos como cascatas de fogo descendo-lhe até as ancas africanas, tomando tacacá, para a capa do meu romance JAMBU, e também pintar Santa Rica de Cássia abençoando Roberto Carlos, nos anos 1960.

Há coisas que não planejamos, simplesmente acontecem. Se eu encontrar o José Aparecido conversaremos sobre tudo e ficarei bêbedo. Continuarei amando a mulher amada, as estrelas, as rosas que o poeta ofertou para a madrugada e as madrugadas. E ouvirei Mozart, Frank Sinatra, Pérez Prado e o som da Terra no espaço. Espero, também, escrever um poema. E sentir o perfume de jasmineiros chorando no ar azul do tempo, e rosas se abrindo.

Um sentimento que desconfio que somente as rosas sentem toma conta de mim. Tenho consciência de que sou frágil, mas forte como as rosas. Que são as rosas senão flores fragilíssimas, mas quem pode enfrentar a fortaleza das rosas? Ninguém, pois nada pode contra o amor, que é liberdade, luz, sintonia fina, o éter, o azul. As rosas foram feitas para amar, e eu também.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Arilda Costa McClive entrevista o romancista amapaense Ray Cunha para o Brazilian Times

Ray Cunha é um escritor brasileiro de Macapá/AP conhecido
por seus romances que desvendam a Amazônia e o Trópico

ARILDA COSTA MCCLIVE

21 DE DEZEMBRO DE 2025 Ray Cunha é um escritor brasileiro nascido em Macapá, Amapá, Amazônia, conhecido por suas obras que exploram a Hiléia e o Trópico como elementos centrais de sua literatura. Ele é autor de romances como A CASA AMARELA, JAMBU, A IDENTIDADE CARIOCA, O CLUBE DOS ONIPOTENTES, O OLHO DO TOURO; das coletâneas de contos TRÓPICO e AMAZÔNIA; e do livro de poemas DE TÃO AZUL SANGRA, todos disponíveis na amazon.com, amazon.com.br e Clube de Autores.

Ray Cunha também é jornalista e terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa, e suas obras refletem sua conexão com a cultura e a natureza da Amazônia. Ele é um dos escritores que buscam resgatar a identidade cultural da região e explorar temas como a chamada “Questão Amazônica”.

Ray Cunha é um exemplo de escritor que investiga a cultura e a história do Brasil, especialmente da Amazônia, em busca da identidade do povo brasileiro. 

Quais são as principais influências literárias que moldaram sua escrita e como elas se refletem em suas obras? 

Ernest Hemingway foi um dos que mais me ensinaram a escrever, utilizando o ritmo jornalístico na criação literária. Ruan Rulfo e Gabriel García Márquez me mostraram como misturar os planos material e espiritual. Rubem Fonseca me orientou quanto a misturar pessoas reais a personagens de ficção, e a descrever cenas de violência, como um cirurgião descreve os tecidos, à medida que os vai seccionando. Joseph Conrad me deu uma aula de como ouvir gemidos de angústia da alma em Coração das Trevas. Benedicto Monteiro despertou em mim o olfato, de modo que comecei a sentir o cheiro da Amazônia. A Amazônia cheira a água. Franz Kafka ensinou todos nós a ver o que realmente um homem é; às vezes, um inseto. E também mostrou o absurdo da vida. Márcio Souza me ensinou que a ficção está na própria Amazônia e na História, em Mad Maria. O cinema, também, tem sido um mestre para mim. Escrevo sequências inteiras como se aquilo se passasse em um filme. Contudo, todos os livros que lemos, tudo o que fazemos, é matéria-prima para a criação literária. 

Em seus livros a Amazônia é um cenário vivo e pulsante. Como você vê a relação entre o ser humano e a natureza na sua obra? 

É condição sine qua non que o homem se integre ao meio-ambiente, seja em uma megalópoles, seja na Hileia. Na Amazônia, o caboclo, o índio, o ribeirinho, o citadino, está inteiramente integrado à selva. Conhece os caminhos a trilhar, o que comer e os remédios, e o que evitar. Porém, os perigos são imensos: a selva é o coração das trevas e o gringo, um traficante em potencial, que trafica também crianças para abastecer os puteiros das brenhas. Então, o homem depende da selva, de modo que procurará se aliar a ela, a compreender sua mecânica. E isso é a mesma coisa que acontece às pessoas que vivem em cidades com dezenas de milhões de habitantes. Se não compreendê-las, é engolido por elas. 

Como você descreve o seu processo criativo? É um processo solitário ou você se inspira em interações com outras pessoas e lugares? 

Como dizia Hemingway: o escritor é como um pugilista no ringue. No tablado, o boxeador só depende dele mesmo. Nem seu treinador poderá ajudá-lo. É ele e sua solidão. Mas aí é que está: por causa da solidão ele encontrará uma saída, mesmo que seja a derrota. Assim é o escritor. Ninguém pode ajudá-lo quando ele se senta para escrever, ou fica em pé, mesmo, como era o caso de Hemingway. Quanto à inspiração, considero-a mais um entusiasmo momentâneo, um começo, o primeiro passo de um livro, de um capítulo, de um poema, um passo que desemboca no caminho. Para resumir, quero dizer que meu processo criativo é sentir-me perturbado por alguma coisa e começar a inventar uma história a partir dessa perturbação. 

Sua obra é profundamente enraizada na cultura brasileira. Como você acredita que a literatura pode contribuir para a compreensão e valorização da identidade nacional? 

Boa pergunta! Certa vez, em palestra na Academia de Letras do Amapá (AAL), da qual sou sócio correspondente em Brasíllia/DF, disse que o maior objetivo da instituição era armazenar, proteger e difundir, por meio da literatura, a cultura local, pois a cultura é a identidade. Assim deve ser com a Academia Brasileira de Letras (ABL), que vem sendo vilipendiada nessa missão, aparelhada que está por canhoteiros da Ditadura da Toga. Quanto à identidade de uma nação, é um sentimento pátrio que se localiza no nosso tutano. No meu romance A IDENTIDADE CARIOCA utilizo, como argumento, a revelação do mistério que envolve a maior lenda urbana do Rio de Janeiro, o Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo. Destrinçado o mistério surge a identidade. 

Quais são os maiores desafios que você enfrenta como escritor e como você os supera? 

Creio que o maior desafio que um escritor pode enfrentar é a falta de memória. Também doenças e fome pode liquidá-lo. Não sofro de nenhum desses problemas. Como sou formado em Medicina Tradicional Chinesa, sigo uma disciplina taoista. Por exemplo: como duas castanhas-do-pará todos os dias, após o café. São ricas em selênio, que tonifica os neurônios e, por conseguinte, lubrifica as sinapses. Como só o essencial e já me considero livre da fome. Já passei fome, mas isso é passado. 

Como você reage às críticas e comentários sobre sua obra? Eles influenciam sua escrita ou você segue seu próprio caminho? 

Se o comentário parte de uma pessoa iluminada, levo-o em consideração, do contrário entra por um ouvido e sai pelo outro. Quando me perguntam qual é a minha religião, respondo que é Ray Cunha. Eu mesmo oficio a missa, como a hóstia e bebo o vinho. 

Quais são os seus próximos projetos literários e o que podemos esperar deles? 

Estou sempre escrevendo e procuro manter-me em disciplina espartana, por uma razão: acho que escrever é preciso, viver não é preciso. 

Qual conselho você daria aos mais jovens para convencê-los que a leitura é fundamental para o desenvolvimento pessoal e cultural?

Nenhum. Se eu desse um conselho diria para lerem. Mas isso, se não for estimulado pelos pais, de nada adiantará. Quando minha esposa, Josiane, estava grávida da minha filha, Iasmim, já líamos contos infantis clássicos para a princesinha. Ingleses e americanos fazem com que seus filhos leiam os clássicos na infância e adolescência, pois a identidade está aí. 

Como você se conecta com seus leitores e o que você espera deles em termos de interação e feedback? 

Não espero nada dos meus leitores. Nem de ninguém. Apenas faço o que sei fazer. Antes da internet, quando algum jornal publicava algo meu, ou liam no rádio um poema meu, em vibrava de alegria. Hoje, com a internet, a Amazon, o Clube de Autores, minha vida é uma verdadeira atmosfera de eletros. Algumas pessoas leem o que eu escrevo e adoram, emocionam-se, aprendem alguma coisa, e isso é tudo. 

Como você gostaria que sua obra fosse lembrada e qual é o legado que você espera deixar para a literatura brasileira? 

A vida na matéria é uma ilusão, porque a matéria é impermanente. A vida de verdade acontece do plano astral para cima. Na verdade, quando alguém diz que quer ser lembrado por determinada obra de arte está dizendo que gosta daquela obra. Gosto de muitas coisas que criei, porque tocam mais os nervos da minha alma, contudo as obras de arte, os livros, se são verdadeiros, têm vida própria, e duram mais do que seus criadores. Gosto de pensar que alguém matou uma charada lendo um livro meu, ou que ajudei alguém a exorcizar um demônio que o torturava, ou que uma mulher muito linda sonhou com rosas vermelhas colombianas ao ler uma poesia minha.

domingo, 21 de dezembro de 2025

Tacacá

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 21 DE DEZEMBRO DE 2025 – A minha geração viveu em ditaduras. A diferença entre a maioria da minha geração é que estão adorando a ditadura atual, a da toga, pois cresceu à sombra dos seus heróis, Fidel Castro, arquiteto da ditadura cubana, e Che Guevara, outro pilantra covarde como psicopata nazista. Da minha geração, poucos construíram uma obra sólida, como o gênio do pincel e da espátula Olivar Cunha e o escritor e compositor Fernando Canto, ambos de Macapá/AP.

Nasci em 7 de agosto de 1954. Dezessete dias depois, Getúlio Vargas se matou. Getúlio foi um ditador nazista carniceiro, de 1930 até 1945, e de 1951 até o seu suicídio, em 1954. Seu segundo mandado foi democrático, por isso ele não se sustentou e estava tão encarniçado que se matou.

Cinco anos após o meu nascimento aconteceu algo que repercute até hoje em toda a América Latina: a Revolução Cubana, em 1 de janeiro de 1959. Na época, o comunismo – que hoje se sabe é uma máfia, diferente das demais porque é mil vezes mais violenta, mortal, diabólica – era envolto em uma aura de romantismo.

Uma década após meu nascimento houve uma contrarrevolução comunista no Brasil, a Ditadura dos Generais, que durou 21 anos, de 1964 a 1985. Era uma ditadura meia-boca. Enquanto os militares combatiam com fogo os comunistas – assassinos, sequestradores, assaltantes de banco, terroristas, narcotraficantes –, os comunistas se organizavam e se infiltravam na sociedade, promovendo lavagem cerebral, sobretudo na mídia, nas universidades e escolas, e na classe artística.

No fim da Ditadura dos Generais, os generais anistiaram todo mundo. Os comunistas, muito organizados, chegaram, assim, ao poder e ainda se indenizaram da “perseguição” que sofreram durante a ditadura, decretando altos salários indenizatórios e por toda a porca vida a eles mesmos.

Em 1990, Fidel Castro e Lula da Silva criaram o Foro de São Paulo, uma organização que reúne ditadores, terroristas, guerrilheiros, narcotraficantes e comunistas em geral da América Latina, com o objetivo de instalar ditaduras comunistas na região, intensificar o narcotráfico e destruir os Estados Unidos.

A coisa vinha dando certo até Donald Trump assumir a presidência dos Estados Unidos, em 20 de janeiro deste ano. Trump vem combatendo o narcotráfico na América Latina com todo o poderio americano. No caso do Brasil, onde vivemos uma ditadura meia-boca, a da toga, e onde o narcotráfico manda, Trump vem fazendo o que pode, para enviar os cabeças do crime organizado brasileiro para o Centro de Confinamento do Terrorismo, em Tecoluca, San Vicente, El Salvador. Mas não é suficiente.

A ditadura da toga só cairá com pressão popular. Como, se o povo é o mesmo que envia carniça para o Congresso Nacional? Claro, há as exceções, alguns poucos que lutam pela democracia plena. O restante só pensa em dinheiro. Não têm ideia do que é pátria. Sua pátria é dinheiro. O povo foi alienado pela propaganda comunista. Está estupidificado. Anestesiado. Como a língua sob efeito do espilantol do jambu.

Comecei a trabalhar como jornalista em Manaus, em 1975, aos 21 anos de idade. Comecei como repórter policial e senti o fedor, de perto, da ditadura. A polícia manauara era, então, corrupta. Cair nas mãos dela, com ou sem culpa, significava tortura, e trabalhei, durante muito tempo, em jornais sob censura. Entre os amigos, quem não incensasse comunistas como Fidel Castro e o astro pop Che Guevara estava lascado. Também o que me ajudou a compreender a mente dos ditadores foram Gabriel García Márquez, mesmo com sua visão romântica da ditadura, e Mario Vargas Llosa, e, mais tarde, o ensaísta Jorge Bessa.

A ditadura da toga me rendeu dois romances: O CLUBE DOS ONIPOTENTES e O OLHO DO TOURO. A Ditadura dos Generais me rendeu meu primeiro romance, e o que considero mais criativo, A CASA AMARELA, e JAMBU. Jambu é uma erva largamente utilizada na Amazônia, principalmente no tacacá. Ontem, fui à Pedra, na Ceasa. Tomei tacacá na Banca da Paraense. Feito na hora.

Ia intitular meu romance JAMBU de tacacá, mas me pareceu que ia sugerir um livro de receitas. Aí, pensei em espilantol, mas comentando isso com um amigo, ele observou que espilantol parece nome de medicamente. Pensei bem e concordei. Aí me veio o título definitivo: JAMBU.

Jambu porque o romance tem como pano de fundo um festival gastronômico, paralelamente à perseguição a um traficante de crianças, em uma Amazônia onde o amazônida jamais deixou de ser colonizado, escravizado, estupidificado pela brutalidade da Hileia e do colonialismo. Anestesiado, como o efeito do espilantol nas papilas gustativas.

Tacacá é uma das iguarias culinárias mais saborosas do mundo. Jambu é imprescindível na sua composição. Mas cada coisa no seu lugar. Para o cérebro, a lucidez, bom é castanha-do-pará, rica em selênio. O povo brasileiro está, no fim das contas, igualzinho o caboco amazônida, anestesiado. Não por jambu, mas pelo dinheiro que o governo arranca dos pagadores de impostos e dá para que o povão saia da rede, ou da cama, apenas para votar nele. E depois, se não votar, dá no mesmo. Não há auditoria.

Quanto ao tacacá, que dá título a este artigo, é o seguinte: leia trecho do romance JAMBU.

TACACÁ é a iguaria mais representativa da Amazônia. Segundo o antropólogo Luís da Câmara Cascudo, deriva de um mingau indígena, mani poi, preparado com goma de tapioca temperada com tucupi, cebola, alho, cheiro-verde, jambu e camarão. Há a teoria de que teria surgido em Itacoatiara/AM, conforme relata o médico e explorador alemão Robert Christian Barthold Avé-Lallemant, autor do livro No Rio Amazonas, e que esteve na Amazônia e visitou a Vila de Serpa, atual Itacoatiara, em 1859.

Classificou o tacacá como “a bebida nacional dos Mura”, uma das etnias que enfrentaram os portugueses e espanhóis com a mesma valentia e crueldade dos ibéricos. O etnólogo Kurt Nimuendaju escreveu: “De todas as tribos da Amazônia, a dos Mura foi a que mais extenso território ocupou, espalhando-se das fronteiras do Peru até o Rio Trombetas”, que limita o Amazonas com o Pará. Os Mura habitavam as bacias do Médio Amazonas, Solimões e Madeira, desde cerca de 1.450 a. C., até o século XVIII, quando foram trucidados pelos ibéricos. Seus remanescentes, cerca de mil famílias, habitam os municípios de Autazes e Itacoatiara, no estado do Amazonas.

O padre jesuíta João Daniel registra no livro Tesouro Descoberto do Rio Amazonas, escrito entre 1757 e 1776, que os “índios do Rio Amazonas… tapuias do Amazonas… povoadores do Amazonas… usam da bebida tacacá… o tucupi é um sumo venenoso extraído da raiz da mandioca... cozido, perde o veneno, e então é servido como tempero de vários guisados e bebidas”.

A iguaria, tal como é servida, hoje, é composta de goma de mandioca, tucupi, camarão seco e salgado, jambu, sal, alho e pimenta de cheiro a gosto. É servido em cuias. Coloca-se primeiramente um pouco de tucupi e um pouco de caldo da pimenta-de-cheiro com tucupi, a gosto, acrescenta-se goma, arranjam-se ramos do jambu, colocam-se camarões e acrescenta-se mais tucupi.

Toma-se tacacá (não se diz beber) muito quente, na cuia, assentada em uma pequena cesta, para proteger as mãos. Utiliza-se um palito de madeira para fisgar o camarão e o jambu (Acmella oleracea), este, o tempero por excelência da Amazônia, utilizado em pratos que vão de pizza até bebida como cachaça. Faz os lábios tremerem de prazer. É rico em cálcio, fósforo, ferro, vitaminas C, B1, B2 e B3.

Mascar jambu adormece o nervo trigêmeo e alivia dores de garganta e de dente. Em forma de chá ou macerado é diurético e ajuda a dissolver cálculos da vesícula biliar. A única contraindicação é para mulheres grávidas, pois provoca contrações do útero. É originário do Brasil, Colômbia, Guianas e Venezuela, e é conhecido também como agrião-do-pará, agrião-do-norte, agrião-do-brasil e jambuaçu. Cresce na várzea, até 30 centímetros de altura, formando uma folhagem densa e bem verde. As flores são amarelas e hermafroditas. Em Macapá/AP, cresce como mato nos quintais.

O óleo essencial do jambu é rico em propriedades antioxidantes, diuréticas e anti-inflamatórias, utilizado nas indústrias farmacêutica, cosmética e de higiene pessoal. Seu princípio ativo mais importante é o espilantol, extraído das flores, folhas e caule do jambu. Este arbusto começou a ser plantado em outras regiões do Brasil, como nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, destinado à indústria cosmética. Cultiva-se jambu também em Madagascar, Índia e China.

É habitual consumir-se o tacacá no fim da tarde, em torno das bancas das tradicionais tacacazeiras, figura típica das ruas de diversas cidades da Amazônia. As vendedoras de tacacá têm ponto fixo em diferentes locais das cidades, permanecendo muitas vezes por décadas, de avós para netas, com clientela cativa. O tacacá da Esmeralda, chefe de cozinha do Hotel Caranã, era famoso, tanto que o francês Jules Adolphe Lunier, da Cunani Exportações, dizia que se hospedava no Caranã só para degustar a iguaria.

O odor de jasmim naquele trecho da Avenida Presidente Vargas, no bairro de Santa Rita, ficava mais forte defronte à casa da Esmeralda, atrás de um jardim dominado por jasmineiros e primaveras. Passava das 22 horas quando Jules Adolphe Lunier desceu do Uber e avançou até a casa. Tocou a campainha meia dúzia de vezes, em toques curtos e ritmados. O portão se abriu um segundo depois do último toque e ele entrou, seguindo por entre os jasmineiros e as primaveras até a porta da casa, já aberta.

Beijaram-se. O francês tirou do bolso da calça um pequeno embrulho e o entregou a Esmeralda, que se sentou no sofá e começou a abrir o presente. Era um estojo de veludo com um anel de brilhante. Esmeralda era solteira e morava só; tinha um filho, que estudava em Belém. Aos 39 anos de idade, lembrava uma modelo renascentista, a pele leitosa, lábios grandes, olhos verdes como duas esmeraldas, longos cabelos encaracolados, levemente ruivos, seios fartos e rijos, pernas bem torneadas e ancas generosas.

Jules Adolphe Lunier já tomara uma quantidade pantagruélica de tacacá, e agora era senhor do “tacacá mais saboroso do mundo”. Esmeralda desconfiava, intuitivamente, do mistério que cercava o amor dedicado a ela pelo francês, mas não resistira à energia dele, e da promessa de se tornar chef em Paris.

Exauridos ao cabo de duas horas de atividade febril, ambos entregaram-se à modorra, bebericando champanhe.

– Preciso ir – disse o francês, de repente. – Amanhã vou receber uma carga valiosa.

– E amanhã é o último dia do Festival Gastronômico.

Conversavam em francês.                                   

“Sinto cheiro de flores mortas” – Esmeralda pensou.

Pouco depois Jules Adolphe Lunier fechou o portão atrás de si e caminhou para o Uber que Esmeralda chamara. A madrugada, úmida pelo sereno, dormia. O cheiro dos jasmineiros era tão forte que se tornara tangível. De vez em quando o silêncio era quebrado pelo som de um automóvel desregulado, ou de uma moto, e logo voltava a reinar.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Ditadores estupram crianças, cortam com tesoura os testículos de seus inimigos e os fazem engolir, e servem aos pais os filhos cozidos

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 19 DE DEZEMBRO DE 2025 – Ele a segurou pelo braço e deitou-a ao seu lado. Com movimentos de pernas e de cintura, montou sobre ela. Aquela massa de carne a esmagava, afundando-a no colchão; o bafo de conhaque e a raiva lhe davam náuseas. Sentia seus músculos e ossos sendo triturados, pulverizados. Mas nada disso impediu que notasse a rudeza daquela mão, daqueles dedos que exploravam, escavavam e entravam nela à força. Sentiu-se rachada, esfaqueada; um relâmpago percorreu seu corpo do cérebro aos pés. Gemeu, sentindo que ia morrer. “Grite, sua cadelinha, vamos ver se você aprende” – cuspiu a vozinha ferina e ofendida de Sua Excelência. “Agora, abra-se. Deixe eu ver se está furada mesmo, se você não está gritando só de farsante que é.” 

Quando o castraram, o fim estava próximo. Não cortaram os testículos com uma faca, mas com uma tesoura, enquanto estava sentado no Trono. Ouvia risos hiperexcitados e comentários obscenos, de uns sujeitos que eram apenas vozes e cheiros ácidos, de axilas e fumo barato. Não lhes deu o prazer de ouvi-lo gritar. Eles lhe enfiaram os testículos na boca, e ele os engoliu, desejando que tudo aquilo apressasse a sua morte, coisa que nunca imaginou que pudesse desejar tanto. 

Duas ou três semanas depois, em vez do habitual prato fedorento de farinha de milho, trouxeram para o calabouço uma panela com pedaços de carne. Miguel Ángel Báez e Modesto quase engasgaram, comendo com as mãos até se fartar. Pouco depois, o carcereiro voltou a entrar. Olhou para Báez Díaz: o general Ramfis Trujillo queria saber se não lhe dava nojo comer o seu próprio filho. Do chão, Miguel Ángel o insultou: “Diga a esse filho da puta nojento que engula a língua e se envenene”. O carcereiro riu. Foi e voltou, mostrando pela porta uma cabeça juvenil que segurava pelos cabelos. Miguel Ángel Báez Díaz morreu horas depois, nos braços de Modesto, de um ataque cardíaco. 

Os parágrafos acima são do livro A festa do Bode (La fiesta del chivo, Alfaguara/Objetiva, Rio de Janeiro, 2011, 450 páginas), de Mario Vargas Llosa. Trata-se de uma reportagem romanceada sobre a ditadura de Rafael Leónidas Trujillo Molina, o Bode, de 1930 a 1961, na República Dominicana, país que divide com o Haiti uma das ilhas do Mar do Caribe, Hispaniola, primeiro território americano a ser descoberto por Cristóvão Colombo. 

Marco Aurélio era uma máquina espantosa. Nunca adoecera e aos 18 anos já era mestre em aikido. O caso aconteceu logo que começara a fazer estágio, como estudante do curso de Política Internacional da Universidade de Brasília, no gabinete do deputado candango Nonato Domingos, mais conhecido como Mazaropi, e que vivia mais na sua cidade natal, Unaí, município do estado de Minas Gerais, na divisa com o Distrito Federal. Estava sozinho com o deputado no gabinete quando se sentiu mal. 

– Vou levar você agora mesmo para ser atendido no Hospital do Corpo – disse o deputado, que era médico e um dos sócios do Hospital do Corpo, na 716 Sul. 

Marco Aurélio seguiu-o sem pestanejar, embarcaram no carro do deputado e o motorista rumou para o Hospital do Corpo. “Nome horrível” – pensou Marco Aurélio, que cada vez mais mergulhava numa sonolência completamente desconhecida para ele. Setenta e duas horas depois seu corpo era velado no Cemitério Campo da Esperança. O rapaz era filho de um casal de preletores da Seicho-No-Ie, e uma amiga do casal, a também preletora Maria Augusta, pedira a Apolo Brito para acompanhá-la no enterro. Apolo Brito acabou sendo escalado para ajudar a erguer o caixão e pô-lo no carrinho. Foi o primeiro a pegar numa das alças, erguendo aquela parte sem dificuldade. Arriou o caixão, pediu aos outros três carregadores que aguardassem um instante, abriu a urna funerária e examinou os olhos do rapaz. 

– Esperem! – disse, em voz alta. – Aguardem 20 minutos! 

Olharam-no espantados. 

– Por quê? Não podemos esperar, pois precisamos desocupar o salão! – alguém disse. 

– Este rapaz foi assassinado! – disse Apolo Brito, falando a seguir com alguém, ao telefone celular. 

Não deu 5 minutos quando um carro da Polícia Civil chegou e dele desceu o delegado Madeira, titular da Primeira DP, sediada ao lado do cemitério. O corpo foi levado para uma sala fechada. Minutos depois o delegado saiu de lá. 

– Houve um assassinato. Este rapaz foi assassinado – disse. 

Todos estavam atônitos. A mãe de Marco Aurélio desmaiou, e o pai começou a passar mal. 

– Voltem para casa, por favor. Amanhã os senhores saberão o que houve – disse Apolo Brito. 

Horas depois o deputado Mazaropi estava preso numa cela da Polícia Federal. Ele comandava uma quadrilha de traficantes de órgãos, com ramificações em Unaí; Luziânia, cidade goiana do Entorno do Distrito Federal; Goiânia, a capital do estado de Goiás; São Luís do Maranhão; e Macapá, a capital do estado do Amapá, de onde a quadrilha tinha traficado grande parte do corpo de uma miss. Apolo Brito conhecia o delegado Madeira de um curso nos Estados Unidos; de vez em quando passava na Primeira DP para bater papo com ele, e assim ficara a par das investigações que estava fazendo sobre a denúncia de erros médicos que estavam ocorrendo no Hospital do Corpo. Ao abrir as pálpebras do estagiário do deputado Mazaropi, Apolo Brito encontrou olhos de vidro. Abriu a camisa do morto e viu que o corpo estava todo costurado. Então associou aquilo à investigação que o delegado Madeira estava fazendo. O caso teve repercussão internacional, pois além da sua natureza aterrorizante, envolvia políticos do PDB. 

O trecho acima é do romance A Confraria Cabanagem, de Ray Cunha. 

Se quiserem chamar A festa do Bode de romance, tudo bem. “Se o leitor preferir, considere este volume como um trabalho de ficção. Seja como for, ficção ou não, há sempre a possibilidade de que lance alguma luz sobre aquilo que foi escrito como matéria de fato” – escreveu Ernest Hemingway, no prólogo de Paris é uma Festa. 

Concordo com Hemingway. O que vou dizer é paradoxal, mas paradoxo significa precisamente além do senso comum. A ficção, sendo verdadeira, pode sempre lançar alguma luz sobre a realidade, dependendo do olhar do leitor. E a realidade, às vezes, é tão inacreditável que só será crível como ficção. 

Quanto ao trecho destacado do romance A Confraria Cabanagem, serve apenas para focar o personagem principal, o detetive Apolo Brito, contratado para prevenir o assassinato de um senador e que acaba deslindando a teia de corrupção que assola o Estado do Pará. 

A festa do Bode e A Confraria Cabanagem, cada qual a seu modo, revelam que em uma ditadura tudo é possível. O ditador pode estuprar meninas e seus inimigos serem torturados ao inimaginável, incluindo comer o próprio filho cozido. Se o ditador precisar de órgãos, será retirado de alguém compatível, jovem e saudável. 

Ditadores basicamente perseguem o poder absoluto, poder que, paradoxalmente, será sempre seu inferno pessoal. Ditadores, e os que gostariam de sê-lo, têm em comum alguns traços: são, em potencial, populistas, nepotistas, patrimonialistas, mentirosos, profundamente covardes, ladrões, perversos, bestas crudelíssimas, torturadores, estupradores, assassinos, criaturas diabólicas. Como se diz em psicologia: psicopatas. Chegam ao poder porque são ousados, e maus, e porque se cercam de preguiçosos, ávidos por carniça, a quem alimentam para garantiram a manada de zumbis dispostos a empalar a própria mãe por dinheiro. 

Para que consigam chegar ao poder e nele permanecer, ditadores precisam de zumbis. Os zumbis são os bajuladores, preguiçosos, carniceiros. Jornalistas e políticos capazes de entregar suas jovens esposas e filhas para o repasto fálico de velhos sem tesão, mas libidinosos, em troca de emprego e dinheiro. Zumbis são estúpidos elevados ao quadrado, capazes de defender criaturas demoníacas como Fidel Castro, Nicolás Maduro e muitos outros ditadores da América latrina. 

Mas os ditadores duradouros vivem um inferno. Vivem no luxo e na depravação, procurando extrair o máximo do prazer que a ditadura lhes oferece. Porém, vivem com medo, pois estão sempre ameaçados. Tudo lhes parece uma ameaça. Não confiam em ninguém, pois temem ser traídos. O que os sustentam, o crime organizado, alicerça-se na legalidade, como um tumor, razão pela qual quando descobertos são, naturalmente, extirpados. Ditadores querem o máximo de prazer, mas, por mais poderosos que sejam, não conseguem dar várias sem tirar, se me entendem. 

Procuram, para sua companhia, a tampa do penico. Ela, por mais que chupe com talento, está ali para se associar ao poder, mas, se puder, encherá de chifre o ditador e se arreganhará para qualquer outro que o substitua. 

O ditador estará sempre receoso de ser assassinado. Poderá morrer esfaqueado, baleado, explodido, envenenado, espancado, torturado, daí porque se esconde sob um batalhão de seguranças, em casamatas. E vive atormentado pensando que o dinheiro que roubou poderá ser roubado. Vive atormentado porque roubou um trilhão de reais e não poderá gastá-lo. Acho que os ditadores sofrem de hemorroida, porque esconder dinheiro gera constipação intestinal. 

O presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, é especialista em ditador. Gabriel García Márquez e Mario Vargas Lllosa, ambos sul-americanos e Nobel, eram especialistas em ditadores, mas especialistas de outra ordem. Estudava-os, dissecava-os e os tornavam personagens de ficção. Trump os mata como médicos oncológicos matam tumores cancerígenos, impedindo-os de sugarem açúcar, ou, simplesmente, extirpando-os. Trump impede que trafiquem drogas, ou, simplesmente, que o dinheiro chegue a eles. Ou os esmaga, como se faz com baratas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Senado aprova e segue para sanção presidencial a regulamentação do exercício da Acupuntura

Edição da amazon.com.br de FOGO NO CORAÇÃO, de Ray Cunha

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 17 DE DEZEMBRO DE 2025 – O Senado aprovou, terça-feira 16, a regulamentação do exercício profissional da Acupuntura, uma das técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, o Projeto de Lei 5.983/2019, do deputado Celso Russonamo (PP/SP), relatado pela senadora Teresa Leitão (PT/PE), e que agora segue para sanção presidencial.

Segundo o projeto, poderão exercer a atividade de acupunturista portadores de diploma de graduação e de nível técnico; profissionais da área da saúde com pós-graduação em acupuntura; e acupunturistas sem diploma, mas que comprovem que trabalharam na atividade por pelo menos cinco anos ininterruptos até a data da publicação da lei.

A luta pela regulamentação da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) no Brasil começou no início da década de 1970, após visita do presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, à China, quando a MTC começou a ganhar visibilidade no Ocidente. Em 1972, foi fundada a Associação Brasileira de Acupuntura (ABA). Nesta luta, é preciso registrar dois nomes: o do dr. Sohaku Bastos, do Rio de Janeiro/RJ, e o do professor Ricardo Augusto Comelli Antunes, de Brasília/DF.

De ampla cobertura e eficácia terapêutica, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e foi incluída na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, durante a V Sessão do Comitê Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 17 de novembro de 2010. No Ocidente, é considerada medicina alternativa, ou complementar à medicina ocidental, ou alopática.

A base da MTC é o Taoismo, tradição filosófica e religiosa chinesa que busca o Tao, o caminho, o fluir da vida, e tem no Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tzi (velho mestre), escrito há pelo menos 250 a.C., seu fundamento, da mesma forma que o budismo chan e sua versão japonesa, o zen.

O Tao é a combinação do yang, a luz, o céu, e o yin, a escuridão, a terra. A vida se move entre esses dois extremos, que se complementam. O caminho do meio é o Tao. O taoista busca a serenidade, a não ação, a moderação dos desejos, a simplicidade, a espontaneidade, a compaixão. É um modo de viver em harmonia entre o céu e a terra, entre o mundo espiritual e a matéria.

A MTC é um conjunto de terapias praticadas na China ao longo da história do país. No Brasil, é mais conhecida como Acupuntura, do latim acus, agulha, e punctura, colocação, que é apenas uma das terapias da MTC. Consiste na inserção de finas agulhas nos meridianos energéticos do paciente, deslocando a energia Qi e equilibrando-a. Para a Medicina Chinesa, a energia vital da vida, ou Qi, anima o corpo circulando nele por meio de canais conectados aos órgãos, chamados também de meridianos.

Além dos sistemas cardiovascular e linfático, há uma teia de meridianos corporais, ou de acupontos, um delgado sistema tubular, nos quais circula a energia vital.  Para a ciência, os meridianos da acupuntura são imaginários. Com efeito, os meridianos da acupuntura localizam-se no corpo etéreo, que é um corpo sutil, ou seja, a luz passa através dele.

Segundo Richard Gerber, autor de Medicina Vibracional, ou o espírito Joseph Gleber, em Medicina da Alma, os canais de acupuntura localizam-se no duplo etéreo, o corpo vibracional sutil, que, por meio do Qi, anima o corpo físico.

Porém, nos anos de 1960, o cientista coreano Kim Bong Han injetou isótopo de fósforo em um acuponto e observou a absorção da substância pelo organismo, por meio de microrradiografia. Resultado: o isótopo percorreu o clássico traçado daquele meridiano.

Experiências semelhantes foram realizadas por outros cientistas, como os franceses Jean-Claude Darras e Pierre de Vernejoul, e os norte-americanos James Hurtak e Roberto Becker. O resultado foi o mesmo obtido por Kim Bong Han.

Assim, a energia Qi, ou energia vital, flui pelos canais energéticos, meridianos ou nadis, e a saúde gira em torno do equilíbrio das polaridades Yin e Yang dessa energia. O corpo físico é um fenômeno bioelétrico, animado por energia, que o faz funcionar: respira, come, move-se, pensa e sente – um escafandro para o espírito viver na atmosfera terrestre.

O corpo físico é, portanto, apenas uma roupa que o espírito utiliza na experiência material, nesta jornada cármica necessária a espíritos que precisam evoluir moralmente para ascender aos infinitos planos de Deus.

FOGO NO CORAÇÃO – Na primavera de 2013, orientado pelo ensaísta, psicanalista e acupunturista Jorge Bessa, este que vos escreve começou o curso de Medicina Tradicional Chinesa na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc), em Brasília. Três anos depois apresentei como trabalho de conclusão de curso o romance FOGO NO CORAÇÃO, sob a orientação do professor-acupunturista Ricardo Antunes.

O ensaio romanceado aborda várias questões no âmbito da MTC, desde o estudo de caso de uma paciente com mioma a questões existenciais e transcendentais, como o misterioso Qi, em uma abordagem ampla do que é esta filosofia, ciência e técnica.

Assim, FOGO NO CORAÇÃO é como um iceberg. A parte submersa seria o universo da Medicina Tradicional Chinesa, alicerçando um thriller policial. O delegado de Repressão a Homicídios, Ricardo Larroyed, também acupunturista e professor no Instituto Holístico, investiga o suicídio e o assassinado de três modelos de moda, todas pacientes em Acupuntura, sendo que duas delas foram atendidas no Instituto Holístico, onde trabalha o principal suspeito, o professor, mestre em artes marciais e poeta Emanoel Vorcaro, sócio de Ricardo Larroyed na Clínica de Terapias Holísticas, onde Emanoel Vorcaro começa a atender a estonteante modelo Rosa Nolasco.

Por trás da trama fluem várias questões do dia a dia de quem estuda, leciona ou trabalha no âmbito da MTC. Por isso, advirto: “Todas as personagens desta novela são fictícias, assim como a ambientação foi inventada, com exceção do escritor, pesquisador, psicanalista e acupunturista Jorge Bessa, que aparece no romance com um perfil biográfico ligeiramente modificado”.

Você pode comprar FOGO NO CORAÇÃO no Clube de Autores, na amazom.com.br e na amazon.com

domingo, 14 de dezembro de 2025

O povo brasileiro precisa de identidade nacional que una o país como pátria e não como puteiro

Edição do Clube de Autores: o jambu é alegórico, adormece o povo

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 14 DE DEZEMBRO DE 2024 – De 30 de outubro de 2022, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que Lula da Silva seria o presidente da República a partir de 1 de janeiro de 2023, até 8 de janeiro, o povo foi para as ruas e acampou na frente dos quartéis militares, em todo o país, acusando o TSE de fraude e pedindo aos militares que interviessem, dando a vitória para o presidente Jair Messias Bolsonaro, que concorria à reeleição.

No 8 de janeiro, o presidente do TSE, o ministro do Supremo Tribunal Federal (TSE), Alexandre de Moraes, mandou o Exército prender todo mundo que acampava na frente do quartel general do Exército, em Brasília, e quem a polícia pode pegar em manifestação na Praça dos Três Poderes, mais de mil pessoas, entre as quais famílias com anciãos, acusou-os de golpe de Estado, liderados por Bolsonaro, que se encontrava nos Estados Unidos, e os jogou na prisão, onde alguns já morreram e outros estão morrendo aos poucos, debilitados, como é o caso de Bolsonaro, que, a qualquer momento, deverá vir a óbito. Consolidava-se, naquele momento, a ditadura da toga.

Recentemente, o presidente norte-americano Donald Trump impôs sanções econômicas ao Brasil e aplicou a Lei Magnitsky a Alexandre de Moraes e à sua esposa, a advogada Viviane Bastos de Moraes, por violações de direitos humanos e censura. A Direita brasileira logo elegeu Trump herói nacional. Poucos meses depois, Trump retirou as sanções e a Lei Magnitsky, em troca de que Lula da Silva podasse seus negócios com o regime totalitário da China e cedesse terras raras para Tio Sam. A indignação varreu a Direita. De herói, Trump caiu para traidor.

O brasileiro é assim: sofre de fé cega. Acredita, como os evangélicos, que Jesus, ou seja, Deus, é fiel a ele e que vai tomar seu partido, porque se acha do bem. Deus não se mete na vida de absolutamente ninguém, pois é Deus para todos; cada qual é responsável pelos seus atos. O problema é que a estupidez, caracterizada pela impossibilidade de raciocínio, impede o senso crítico. A ditadura, no Brasil, só acabará se o povo assim o decidir. Não são as Forças Armadas nem Trump que imporão a democracia plena.

Falta, ao povo brasileiro, uma identidade que lhe desperte sentimento pátrio. Pelo contrário, há alguns fatores que jogam brasileiros contra brasileiros. O cadinho da mestiçagem é um deles. Brasileiros europeizados contra mestiços e negros. O Sudeste e o Sul que se consideram arianos frente aos nordestinos e amazônidas.

Durante o Império, o imperador unia os brasileiros. Após o golpe militar da República, os republicanos produziram uma propaganda tão feroz contra o Império que até hoje a História do Brasil, estudada nas escolas e universidades, está cheia de mentiras. Nem a propaganda no regime de Getúlio Vargas os superou. Os republicanos tiraram da História os verdadeiros heróis e os substituíram por mitos, além de avacalharem com a importância dos lusitanos na formação do Brasil e com a Família Real.

Desde a Revolução Russa de 1917 que os comunistas ambicionam tomar conta do Brasil, que é um subcontinente paradisíaco, tanto em beleza e clima quanto por seu litoral e reservas de água doce de superfície, reservas biológicas e metais, além da questão geopolítica, pois quem dominar o Brasil pode melhor se posicionar para destruir os Estados Unidos, o império que garante a Pax Americana.

Em 32 de março de 1964, os militares aplicaram um golpe, a Ditadura dos Generais, que durou até 1985. Durante a ditadura, enquanto os militares tentavam acabar com os comunistas na bala, os comunistas aparelhavam as universidades, a imprensa e os artistas. Quando acabou a ditadura estava tudo aparelhado e os militares ainda anistiaram os guerrilheiros comunistas.

Em 1990, o ditador de Cuba, Fidel Castro, e Lula da Silva, fundaram o Foro de São Paulo, um cartel latino-americano de ditadores comunistas, narcotraficantes, terroristas, guerrilheiros, militantes de Esquerda, todos dispostos a varrer os Estados Unidos da face da América.

Em 1 de janeiro de 1995, o comunista Fernando Henrique Cardoso, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), braço do Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula da Silva, chega ao poder, de onde só sai oito anos depois, em 1 de janeiro de 2003, substituído pelo candidato de Cardoso, Lula da Silva, de extrema Esquerda.

Resultado: Lula da Silva está, até hoje, no poder, agora, em vias de instalar, definitivamente, uma ditadura nos moldes da China, sua parceira.

E o povo? O povo vota. Mas há três problemas: vota em urnas inauditáveis e em bandido. Primeiro, porque o sistema eleitoral brasileiro foi planejado para cegar o eleitor, e, depois, o eleitor vive sob o cabresto curto dos coronéis de barranco. O terceiro problema são as migalhas que o Estado proporciona ao eleitor, garantindo feijão com arroz e cachaça, de modo que não precise procurar emprego, mas apenas curtir os campeonatos de futebol e o Carnaval na televisão. Enfim, estimulando a estupidez.

Dei o título de JAMBU a um dos meus romances ambientados na Amazônia, como alegoria. Jambu é um erva largamente usada como tempero na Hileia, principalmente no tacacá. Adormece as papilas gustativas, gerando uma sensação especial no sabor da famosa iguaria amazônica. Os amazônidas continuam entorpecidos por um efeito semelhante ao provocado por jambu, mas seu entorpecimento é o mesmo que sentiam no Brasil colonial, quando foram escravizados pelos portugueses.

Hoje, são escravizados pelos próprios amazônidas, políticos e empresários, que continuam explorando os povos da Amazônia, explorando minerais, traficando, inclusive crianças, e incendiando a floresta, em uma atividade infernal de terra arrasada, típica dos comunistas.

O Sudeste e o Sul não deixam de ter razão quando falam mal dos nordestinos e amazônidas, pois arcam com as despesas mais pesadas, pagam os impostos escorchantes e repõem os trilhões que o Estado gasta a rodo, ou, simplesmente, desvia.

A solução? Esperam por um Dom Pedro I ou por Donald Trump. Ou seja, dormem em berço esplênido. Não compreendem o exemplo de Dom Pedro I e Trump retirou as sanções e a Magnitsky, pois Lula da Silva se arreganhou para ele e deu tudo o que Trump queria. Ainda não se sabe que tudo é esse, mas desconfia-se que é muito. Sabe Deus o que Lula deu para ele!

Mas só quem pode resolver o nosso problema, a ditadura, é o povo! O povo! Por isso, a solução ainda vai demorar. Vai depender de estratégia. Só quando tivermos uma elite patriótica, com jornalistas, empresários, intelectuais, bilionários, que pensem no Brasil como nação e não como puteiro, e invistam nas crianças e jovens, é que seremos, não digo uma Suíça, ou Dinamarca, ou Suécia, ou Israel, mas, pelo menos, teremos o mesmo sentimento pátrio de um americano.

Tentar arrombar a casa de um americano é pedir chumbo quente no couro. Um Pearl Harbor, então, é uma declaração de guerra. Sabemos como terminou a Segunda Guerra Mundial, com os americanos despejando as primeiras bombas atômicas no Japão.

Os americanos sabem muito bem o que são e o que querem. Uma coisa é certa, de alguma forma, Trump acaba fazendo o papel de Dom Pedro I, garantindo a nossa soberania. Aliás, os comunistas tentam confundir o povo afirmando que Trump quer acabar com a nossa soberania. Soberania só é possível quando o povo sabe quem é e o que quer, garantindo, assim, uma identidade nacional, o tutano de uma nação. Quando Trump nos defende da China, amicíssima de Lula, livra-nos do inferno, literalmente.

sábado, 13 de dezembro de 2025

Trump não é Dom Pedro I, mas um reforço contra a ditadura. Democracia depende do povo

Há quem pense que Trump é o restaurador da democracia no Brasil

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 13 DE DEZEMBRO DE 2025 – Desde a descoberta da América e Caribe pelos ibéricos e desde os impérios português e espanhol, no século XV, que o Novo Continente é ambicionado pelas potências hegemônicas e pelo comunismo, a maior máfia do mundo, pois as Américas guardam as maiores províncias biológicas e minerais do planeta, principalmente o território brasileiro.

Desde a União Soviética, a América do Sul, especialmente o Brasil, é alvo da ambição dos comunistas, que vivem em regime ditatorial e são como gafanhotos, como parasitas do capitalismo. Atualmente, a China, maior ditadura do planeta, vem investindo pesadamente no Brasil, quintal geopolitico dos Estados Unidos, a maior democracia do mundo.

Também, o Brasil é o maior entreposto de drogas do planeta. Dos portos brasileiros saem para os Estados Unidos e Europa milhares de toneladas de drogas, todos os anos. Também o Brasil abriga bandidos e terroristas do mundo todo, porque aqui se sentem seguros.

Ainda, o presidente Lula da Silva tenta instalar uma ditadura comunista, com apoio do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente do ministro Alexandre de Moraes, que rasgou a Constituição, fechou virtualmente o Congresso Nacional, prendeu políticos e jornalistas por crime de opinião e instituiu a censura.

Por essa razão, foi alvejado pela Lei Magnitsky, dos Estados Unidos. Mas, ontem, o presidente Donald Trump voltou atrás. Por quê?

Antes de responder a essa pergunta, voltemos a 2022, fim do mandato do presidente Jair Messias Bolsonaro, líder da Direita e candidato a reeleição contra Lula. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proclamou Lula vitorioso. O povo não gostou e foi protestar na Praça dos Três Poderes, dia 8 de janeiro de 2023. Bolsonaro estava nos Estados Unidos. Alexandre de Moraes disse que a manifestação era um golpe de Estado liderado por Bolsonaro e a partir daí prendeu mais de mil pessoas, aplicando penas de mais de 15 anos de cadeia. Para Bolsonaro, aplicou 27 anos em regime fechado.

Bolsonaro está preso. Em 6 de setembro de 2018, ele foi golpeado com um facão no baixo ventre pelo militante de Esquerda, Adélio Bispo de Oliveira; não morreu, mas ficou com sequelas graves. Assim, está à morte na prisão, sem ter cometido nenhum crime, o que leva a supor que a ordem é assassiná-lo de qualquer jeito e na prisão é mais fácil.

Em 20 de janeiro deste ano, o republicano Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos. Percebendo que o Brasil está virando uma ditadura comunista, que o país é o maior entreposto do narcotráfico mundial e que a China está comprando territórios imensos no Brasil, Trump virou suas ogivas contra Alexandre de Moraes, executor da política de Lula, aplicando-lhe a Lei Magnitsky.

O povo brasileiro achou que Trump estava fazendo isso para restaurar a democracia no Brasil e continuou dançando samba. Aí, ontem, Trump retirou a Magnitsky de Moraes e a Direita brasileira desabou, achando que Trump é traidor.

Trump é presidente dos Estados Unidos e não do Brasil. Se o povo do Carnaval quer soberania terá que parar de viver pulando igual cabra montesa, ir para as ruas e exigir a deposição dos tiranos, igual a geração Z fez no Nepal.

Trump não é Dom Pedro I. É um senhor reforço que o povo recebeu, pois não deve esperar nada do Congresso Nacional, o maior valhacouto brasileiro.

E por que Trump voltou atrás na Magnitsky? Trump fez um acordo com Lula. Retirou a Magnitsky do pescoço do cão de Lula e sanções econômicas em troca de o molusco acabar com a censura, riscar a China de acordos tecnológicos e ceder terras raras para empresas americanas.

Metais de terras raras são utilizados na indústria de smartphones a turbinas eólicas, LED, TVs, baterias de veículos elétricos, aparelhos de ressonância magnética, satélites, computadores, tecnologia militar, caças, submarinos, lasers, mísseis Tomahawk etc.

A China controla 92% da produção global de terras raras na etapa de processamento. Entre 2020 e 2023, 70% das importações americanas de compostos de terras raras saíram da China, segundo relatório do Serviço Geológico dos Estados Unidos.

O Brasil é o segundo país em reservas de terras raras do planeta, atrás somente da China. Os Estados que concentram as maiores reservas são Goiás, Minas Gerais e Amazonas.

O município com as maiores reservas e projetos de exploração é Minaçu, em Goiás, seguido por Poços de Caldas e Araxá, em Minas Gerais, que também produz nióbio. Seguem-se São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e Caracaraí, em Roraima.

Mas a cidade que mais se destaca neste mapa é Poços de Caldas, município do sul de Minas Gerais com 171.533 habitantes (IBGE, 2024), famosa pelas suas águas termais. Poços é o epicentro de uma das regiões mais desenvolvidas do país, relativamente próxima de São Paulo e Rio de Janeiro.

Os americanos estão de olho no Brasil, principalmente Poços de Caldas. As instituições que zelam pela democracia no Brasil, como a Associação do Brasil de Jornalistas Independentes e Associados (Ajoia), sediada em Belo Horizonte/MG e com representantes em todo o país, precisam esclarecer para o povo que o mais importante de tudo não é Carnaval, futebol e cerveja, mas soberania, e soberania só se tem com democracia plena, e democracia plena só se tem mandando os tiranos para o caralho.