Meus últimos ternos foram comprados no fim do século passado; são de linho, fechados atrás, sem aba nos bolsos do paletó, e as calças são largas nos quadris. Encontrei-os, e também algumas lindas gravatas, numa loja do Park Shopping, o mais elegante de Brasília. Acabara de receber uma dinheirama e precisava mesmo de novos ternos, pois apesar do calor na maior parte do ano, em alguns meios de Brasília traja-se como na Ordem dos Advogados.
Genuíno homem tropical, amazônida nascido sob a Linha Imaginária do Equador, resisto o quanto posso ao uso de terno; quando muito, trajo paletó sem gravata. Mas há recintos no Congresso Nacional, onde prestei assessoria durante anos, em que não podemos entrar senão de terno, e são redutos aonde precisava ir de vez em quando. Assim , há algum tempo, não tive escolha e parti para comprar mais um terno. Bati perna à procura de terno de linho. Para encurtar a conversa, fui atendido por um vendedor jovem, no mesmo Park Shopping, que me olhou com espanto.
- Terno de linho? O que é isso? Nunca vi um! - disse o garoto. Eu estava com minha esposa e rimos à beça.
Outro vendedor me explicou que ternos de linho não se fabricam mais; só recorrendo ao alfaiate. Procurei um alfaiate e ele me disse que se eu comprasse o linho faria o terno por R$ 1 mil. Mas alfaiataria exige aquelas idas e vindas necessárias para que não nos decepcionemos com o resultado. Então, usei de sabedoria. Fui ao Conjunto Nacional, onde há várias lojas de terno, para uma peregrinação final.
Descobri que todos os ternos prêt-à-porter são de lã fria e quase todos abertos como paraquedas e com abas nos bolsos. As calças são de cós curto e as gravatas, largas como lenço. É a moda, essa dama enganadora. Assim, comprei um de lã fria mesmo, que exigiu apenas pequenos reparos. Diz o ditado: quem não tem cão caça com gato. Mas o terno é lindo.
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