- Adoro a tetuda mamãe Congresso! - disse o deputado Rato Mala à sua mulher, enquanto examinava o embrulho que enviaram a ele. – Mas não se manda dinheiro pelos Correios; rouba-se nos Correios - disse, olhando o embrulho por todos os lados.
- Será que não é o vigésimo-quarto salário, querido? – Salamandra lhe perguntou, interrompendo ligeiramente a maquiagem.
- Não seja burra; o salário é depositado no banco; diga-se, não é o do Banco Rural, nem do BMG, mas o do Banco do Brasil - disse Rato Mala.
Ofendida, Salamandra ficou na dela. “Ele já me chamou de anta, cérebro de galinha, hipopótamo fêmea, marmota e agora de burra” - pensou. “Mas é o homem mais charmoso que eu já conheci; tem bolsos recheados de dólares, dólares até na cueca.”
- Aarrah! - disse Rato. - Olha só o que me mandaram: um cuecão com capacidade para grandes depósitos!
- Tenho orgulho de você, minha Catita. Logo você terá uma conta, ou várias contas tão recheadas como as do Dudu, ou até mesmo do Salim – disse Salamandra, concentrada no pincel de rímel.
Rato Mala derretia-se todo quando Salamandra utilizava seu apelido de criança, Catita ou Cafifa, e ao ser comparado ao seu ídolo, Salim. Parou, sonhador, e fez alguns cálculos mentais.
- Salaminho, ainda terei que dar muito duro para chegar a Salim - disse Rato, usando um dos apelidos de Salamandra.
- Mas pode chegar a Dudu, não pode? – disse Salamandra, toda melosa, devido à atenção que Rato estava lhe dando. – Ocê merece, pai!
- Vou para o quarto, experimentar o cuecão. Tenho que dar uma passada, hoje, no Banco Rural e depois ir a São Paulo para me avistar com alguns companheiros.
- Cuidado no aeroporto com aquele pessoal xereta da Polícia Federal.
- Eles sabem que não podem nem se aproximar de mim.
- E se estiverem com aqueles cachorros que vão diretamente ao dinheiro? Poderão morder sua virilha, querido!
- Só se for a sua. Esse tipo de cuecão é anti-farejamento, galinácio.
- Você já está me ofendendo de novo, ratuíno!
- Desculpe-me, querida, é que fico nervoso sempre que levo um carregamento grande para minha estrela-guia.
- Acho que você tem que seguir o exemplo do Dudu. Ninguém consegue descobrir os depósitos dele e ele ainda continua com as contas da Petrobras.
- Você tem razão. Vou marcar um encontro com ele.
Rato foi ao quarto e voltou de lá vestido com o cuecão.
- Veja, Salamandra! Sob medida! – disse Rato, dando uma volta para ela ver o cuecão.
Salamandra prestou atenção.
- Ué, Catita, você tem que diminuir o ventre, porque então caberão mais verbas – disse Salamandra.
- Já mandei fazer um remédio para emagrecer.
- Daquele não, homem; contém Racumin.
- Humm! Acho que aquele médico da Câmara está trabalhando pros tucanos. Não é com Racumin que irão acabar comigo. Já decidi: não precisarei perder minha barriguinha. Conversarei com José Nobre Vieira, que, flagrado com as verdinhas na cueca, aperfeiçoou o transporte de valores e desenvolveu uma técnica capaz de burlar os mais sensíveis detectores de mentira.
Salamandra olhou orgulhosa para sua ratazana, cheia de si por ter capturado um murídio tão esperto. “Se um rato desses pega o INSS, nem a CIA o deterá” – pensou, já fazendo planos para as compras no ParkShoping, à tarde.
Valparaíso de Goiás, 8 de janeiro de 2006
O conto Confraria dos Mensalistas integra o livro O casulo exposto (LGE Editora, Brasília, 153 páginas), à venda nas livrarias Saraiva, Cultura e Leitura, e na Loja Virtual da LGE Editora
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