Ver-O-Peso, acrílico sobre tela de Olivar Cunha
Dois urubus conversavam num telhado nas imediações do Ver-O-Peso, em Belém do Pará. O Ver-O-Peso, à margem da baía de Guajará, no rio Guamá, é a maior feira livre da Ibero-América. Ao norte, fica o arquipélago de Marajó, a boca do maior rio do mundo, o Amazonas, o estado do Amapá e o Caribe.
Os urubus eram primos e o que chegara tentava convencer o belenense a passar uma temporada nos campos marajoaras, contando-lhe sobre a fartura que havia lá, carcaças de búfalo, anta, capivara, jacaré e incontáveis animais. Uma maravilha. Tanto que ele estava ali para confirmar isso, gordo, próspero, enquanto que seu primo não demoraria, ele mesmo, a virar carcaça, naquela vida de disputar alguns peixinhos descartados aqui e ali, ao largo da enseada do Ver-O-Peso. O urubu belenense estava com água no bico. Bem que precisava se enfiar na carcaça de um grande animal e se fartar. Assim, se mandou com seu primo para o Marajó. O primeiro dia foi uma farra. O primo citadino ficou com o papo por acolá de tanta carniça, mas no segundo dia ele foi ficando triste e no terceiro dia ele disse que ia voltar para Belém.
- Mas por que, se lá não tem nem sombra da fartura que tu tens aqui. Eu não entendo! – disse o urubu marajoara.
- Lá eu me sinto feliz, primo. Não há local melhor para se viver do que no Ver-O-Peso. Comer não é preciso, viver é preciso – filosofou, antes de abraçar seu gordo primo e levantar um voo excitado rumo ao Ver-O-Peso.
Esta crônica não é sobre o Ver-O-Peso, mas sobre um roteiro que começa na rodoviária do Plano Piloto, o coração de Brasília. Por ela passam diariamente, de segunda a sexta-feira, 600 mil pessoas, que chegam ou partem, de ônibus, metrô ou táxi, para todos os pontos do Distrito Federal e do Entorno de Brasília. Nos horários de pico, suas escadarias parecem cachoeiras humanas, sob o eterno zumbido da grande cidade se movendo.
A rodoviária do Plano Piloto fica no ponto de intersecção do Eixo Monumental com o Eixão, a cruz desenhada por Lúcio Costa no Cerrado do Planalto Central, a cabine do avião iluminado na noite. Do seu piso superior, dá-se de cara com a pirâmide do Teatro Nacional Claudio Santoro e com o Conjunto Nacional, onde é realizado um desfile perene de mulheres bonitas. No outro lado do calçadão do Conjunto Nacional surge o Conic, um centro comercial, e por trás de tudo isso o Setor Comercial e o Setor Hoteleiro, cortados pela Avenida W3.
Para homens, ou mulheres, da cidade grande, mergulhar nesse labirinto, com seus arranha-céus e vias subterrâneas, hotéis cinco estrelas, shoppings, restaurantes, cafés, livrarias e cinemas, é redentor. É como o urubu do Ver-O-Peso, para quem a aventura é preciso, mais do que viver. E a aventura está precisamente nas múltiplas possibilidades que um passeio no coração da cidade oferece. A visão evanescente de uma mulher que de tão linda não existe, o encontro fortuito com um amigo, ou uma amiga, um passeio sem compromisso numa grande livraria, a descoberta de um café, ou simplesmente caminhar, embriagando-se com a visão de mulheres tão lindas que são inalcançáveis, porque a beleza é como a luz, está sempre à frente.
Há dois tipos de saciedade: a da matéria e a do espírito. Aquela, está presa à força de gravidade. Esta, é livre como o pulsar da alma.
Bela tela sobre este local maravilhoso que em épocas passadas foi e é ponto turistico e de sobrevivência de todo povo paraense e além de fazer parte da belíssima visão panoramica da frente de Belém do Pará ! Eu nasci em Macapá mas tenho um conceito excelente desta cidade que amo de coração chamada Belém do Pará e deste grande mercado que tambem costumo quando estou em Belém fazer passeios e compras ! Parabéns pela obra meu irmão Olivar Cunha e grande abraço meu mano Ray !
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