No primeiro beijo, na noite de 15 de maio de 1988, quando ignorávamos O último imperador da china, de Bernardo Bertolucci, no antigo cinema do Conjunto Nacional, soube que eu era teu para sempre, e que todas as minhas fugas, mesmo aquelas em que eu seria atraído por uma sereia, acabariam nos teus braços. E quando deste à luz nossa princesinha, nasceu em mim um leão no auge da sua força, que brame na praia quando o sol se põe, para o mar azul. Quando eu fui insano, nós três corremos muito perigo, porque minha fúria destruía tudo ao nosso redor, mas Deus, que é meu Pai, destinou um anjo de luz, alto como Hemingway, de olhos grandes como os do ET de Spielberg e fulminante como uma Glock 9 mm, para iluminar meu caminho. Assim, escapamos de todas. Além do mais, Josiane, eu te ofertei minha biblioteca e, para a Iasmim, dei um portal que lhe permite ver as coisas verdadeiras, invisíveis aos olhos, mas tangíveis ao coração: O pequeno príncipe, que Antoine de Saint-Exupéry criou, quiçá durante um voo para o norte da África.
Teu primeiro beijo foi como todos os beijos que recebi de outras princesas. Mesmo que sejam o roçar de lábios, têm o efeito de um cataclismo de rosas vermelhas na vertigem do abismo em que despencamos como num sonho. Tenho um sonho recorrente em que voo, voos sempre altos, porque sei que voos baixos levam perigo. Também sonho em Copacabana, que é sensual como Goiânia e como a Avenida Presidente Vargas, em Belém, no fim da tarde. E sonho contigo, minha cafuza amada. Teus olhos são sempre doces como os das mulatas de Di Cavalcanti. Agora, sou como um velho soldado, manco e com artrite nas mãos, mas atento como o apanhador no campo de centeio. Para socorrê-las, tomo de um trago uma taça de adrenalina e o leão, jovem como quando nasceu em mim, está pronto para o bote.
Todas as mulheres que me amaram inocularam para sempre em mim a capacidade de sentir a Terra girar, não na velocidade física, mas na dimensão de uma sinfonia azul de Raimundo Peixe, quando eu tinha 14 anos de idade e havia bebido um quarto de litro de rum. O beijo da Leila me levou à Lua, nos idos de 1969, um ano antes de os Beatles se separarem (como se fossem casados!), e os da Mara me iluminaram para sempre. Ela tinha os olhos verdes nas tardes quentes; em certas manhãs eram azuis como o mar, e, às vezes, eram felinos. Tinha cheiro de madrugada, um leve sabor de vinho e qualquer coisa espanhola. Os beijos da Josiane são doces como um terremoto, e eu sinto a Terra girar quando ouço os murmúrios dos seus sonhos no acme.
Tenho já 57 anos de idade, mas continuo sentindo a mesma vertigem dos primeiros beijos, leves como a brisa, vendaval de 7 mil rosas colombianas. Acho que porque sinto, além do corpo feminino, o perfume das virgens ruivas, em cada mulher, sei que todas elas são santuários que não devem ser corrompidos, nunca, pois as mulheres guardam a marca do Criador na sua beleza de jato prestes a pousar. Devemos imobilizar as mulheres que amamos com pegadas fortes, mas nunca de carrasco e sempre de artista, porque cada mulher merece nossa melhor criação, especialmente a mulher amada.
O leite da mulher amada, que jorra como água cristalina na boca do viajor sedento, é como uma garrafa de Dom Pérignon, safra de 1954, após um dia de labuta na vida de um escritor que conseguiu dar vida a uma personagem de parto difícil. É como um homem que não espera senão uma rotina mortificante e que, de repente, salva uma princesa em perigo e recebe um sorriso dela. Haverá algo mais precioso do que o sorriso de uma mulher? Os sorrisos nascem numa região secreta do santuário feminino. Graças a Deus, bebi suficiente leite extraído de criaturas tão lindas como virgens ruivas, por isto sei que meu caminho é seguro, acaba sempre nos braços da mulher amada, que é, ela mesma, o próprio primeiro beijo.
Brasília, 18 de agosto de 2011
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