Ela estava deitada de lado. Não se mexia. Ouvi sua respiração e a madrugada. Fiquei hipnotizado, pois sempre fico hipnotizado à visão da sua nudez. Sua pele cafuza é clara como cetim rosa. Observei-a do alto das costas e desci o olhar até a cintura, no encontro com as nádegas, e me perdi no labirinto de segredos que sumiam em curvas sinuosas. Os seios, repousados na lânguida posição, lhe davam a beleza de um grande jato no momento do pouso. Deitada assim, ela me lembra Marilyn Monroe no ensaio da primeira Playboy. Assim, deitada, mergulhada em sono profundo, ela é como uma grande rosa vermelha, tão linda que causa sofrimento, porque não podemos possuir as rosas, pois as rosas não são de ninguém, existem apenas para sabermos que existe Deus. Tirei a roupa e me deitei, e fiquei olhando a escultura ao meu lado, o mais perto possível. Sua epiderme é como o mar ao anoitecer. Assim, de perto, as ancas lembram os sonhos, que eu sempre tenho, voando sobre o roseiral e as zínias da minha infância. Cheirei-a, e senti perfume de maresia, Chanel Número 5, jasmineiros chorando em noites tórridas, leite da mulher amada e o sabor de lágrimas de virgens ruivas no acme. Cheirei seus cabelos. Ela tem os cabelos como a juba negra de um leão e a feminilidade de uma rosa ao sol em manhã de primavera. Moveu-se e disse: “Te amo, querido!”, e voltou às profundezas do seu sono de gata. Eu também te amo, como a eternidade. Ao se mover, ela se encostou em mim. Seu contato era como estrelas caindo em algum ponto da galáxia, numa festa inesquecível, numa idade em que ainda somos fisicamente imortais. Eu me sinto, então, como nervo exposto à descarga elétrica, mas sob absoluto domínio, intenso como são as rosas. Beijei suas costas, e senti sabor de Dom Pérignon, safra de 1954. No meu delírio, cavalgo-a, como dançarinos domam um tango de Astor Piazzolla, e arranco da sua boca vermelha música de Wolfgang Amadeus Mozart. Ela se moveu novamente, num giro de 180 graus, e buscou refúgio nos meus braços. Seu rosto é sereno, de mulher que se sente amada. Amanhã, eu lhe darei a grande rosa colombiana, vermelha, que depositei no vasinho do altar, no nosso quarto. Creio que não há oferta mais esplendorosa do que uma rosa, grande e vermelha, à mulher amada, pois as rosas são a própria poesia que emana do corpo de uma mulher nua.
Brasília, 10 de dezembro de 2011
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