Brasília, 28 de janeiro de 2012 - A Feira do Guará é o ponto turístico mais visitado de Brasília. Acho que turismo de negócios, ou de lazer. O turismo histórico da cidade é muito pobre. Quem quiser fazer turismo de história do Brasil deve procurar cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Belém etc. Em Brasília, só há para ver o trabalho genial de Oscar Niemeyer (se é apropriado para o trópico, ou prático, nisso está a polêmica). Suponho que a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes sejam, para os turistas, apenas uma curiosidade sobre a devassidão da roubalheira em Brasília, a cada dia mais ousada, desde que o PTMDB tomou conta do estado brasileiro, a partir de 2003, lançando sua ventosa canina na teta do Erário.
Falávamos da Feira do Guará. Fundada em 1983, atualmente conta com 11.056,25 metros quadrados de área coberta e 526 bancas, como informa seu site (www.feiradoguara.com), de quinta-feira a domingo, das 8 às 18 horas. Vende tudo. Desconfio que até avião. Roupa, então, nem se fala. As confecções vêm principalmente de Goiânia, que é um polo de costura, e também do próprio Guará, que exporta biquínis, por exemplo, para a Europa. Eu moro na 711 Sul, no Plano Piloto. Quando não vou à Feira do Guará no JEY, que é meu carango, um Ford K de 1997, vou de metrô. Ando três quadras até chegar à estação do metrô, na 112 Sul. Caminho até a 512, pela Avenida W3, pego a rua comercial da 312 e depois a 112, e em poucos minutos desço na estação da Feira.
O Guará é um distrito distante cerca de 6 quilômetros do Plano Piloto e a meio caminho de Águas Claras, distrito conurbado a Taguatinga, maior cidade do Distrito Federal, depois de Brasília. Águas Claras foi construída em um dos governos de Joaquim Roriz, que dava incondicional apoio aos barões da especulação imobiliária, com Paulo Octávio à frente. Paulo Octávio é o sujeito mais rico de Brasília, com interesses na construção civil e incorporação, no setor de comunicação social, hoteleiro etc. É dono de um terço da cidade. Outro terço é de Luiz Estêvão, senador cassado, que, juntamente com o juiz Lalau (Nicolau dos Santos Neto), roubou cerca de R$ 203 milhões das obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. Luiz Estêvão foi condenado a devolver R$ 55 milhões. Paulo Octávio e Luiz Estêvão eram amigões de Fernando Collor de Mello.
Águas Claras, uma selva de arranha-céus, foi construída sobre um aquífero. Há locais na região de onde a água mina na rua. Quando chove muito, há pontos que vão para o fundo. Também foi tão mal planejada que tem poste até em calçada. Aliás, nunca se deu muito importância à calçada no Distrito Federal, tanto que se diz que Brasília é para cabeça, tronco e rodas. Com efeito, caminhar no Plano Piloto é uma aventura perigosa.
A Feira do Guará é sempre, aos meus sentidos permanentemente maravilhados, uma viagem romanesca. Logo nas primeiras horas da manhã, ainda há poucas pessoas, então aproveito para ver os peixes e frutos do mar. Adoro ver peixes. Quando morei em Belém do Pará, um dos meus programas prediletos era ver peixes no Ver-O-Peso. Há duas peixarias na Feira, com todo tipo de peixes de água doce e do mar. Até truta, que é um peixe das águas cristalinas dos Estados Unidos e do Canadá, a gente encontra, trazida de criatórios nas montanhas de Minas Gerais. A maior parte dos peixes, principalmente tucunaré, que é o mais saboroso do mundo (mais do que truta), vem do lago de Tucuruí, no Pará. Gosto também de ver os camarões rosa, as lagostas, e todos os animais da água.
Paro na banca da dona Zenaide, de Macapá, irmã do padre Cláudio, que trabalhou durante 10 anos na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Macapá, e agora está em outra paróquia, em Santana. Dona Zenaide me disse que depois de 25 anos irá, dia 15 de abril, a Macapá, para passar uma semana, rever sua família, especialmente sua mãe. “É dessas emoções que se abastece de vida nossos corações” – pensei. Compro sempre açaí (Tuíra ou Fruta), do grosso, congelado e importado de Belém. Também compro um tipo de farinha de tapioca que só encontro na banca da dona Zenaide – a farinha se desfaz na boca da gente. Compro-a especialmente para dona Joana, minha sogra. Levo ainda tucupi. Às vezes, tomo suco de taperebá, que aqui chamam cajá e tem o sabor um pouco diferente do taperebá da Amazônia. Não tomei hoje porque já degustara água de coco da Paraíba, delícia. Bebo água de coco numa banca só de mulheres. São lindas e espetaculares manejando o facão.
Há uma banca onde compro farinha do Pará: de tapioca, que como com açaí, e farinha d’água amarela, para farofa, utilizada pela minha gata, Josiane, e minha filha, Iasmim, e a média, para mim. Outro dia a Josiane preparou tamuatá - que é um peixe comum no Pará e no Amapá - no tucupi, e deve ser comido com farinha d’água. É um dos pratos mais saborosos de quantos conheço. Sempre digo que tamuatá no tucupi, com farinha, é capaz de fazer qualquer chef francês cair de joelhos.
Também gosto de olhar as bancas de frutas, legumes e folhas. Quanto mais belos e limpos, mais os aprecio. Às vezes, compro limão, tomate, banana da terra (que em Macapá chamamos banana comprida). Compro sempre, numa banca próxima à da dona Zenaide, castanha-do-pará (assada, pois assim não precisa ser guardada na geladeira), castanha de caju e ameixa desidratada e sem caroço, que utilizo para regular o intestino.
Passo sempre na Universidade do Pastel, um dos melhores da cidade, conforme o ranking da revista Veja Brasília, especializada em gastronomia. Levo pastéis para casa, de palmito com catupiri. Às 11 horas os restaurantes começam a se encher. Servem comida típica de todo o continente brasileiro. Certa vez almocei na Feira com minha irmã, Linda, e uma amiga dela. Comeram galinha caipira e eu, mocotó.
Meio-dia, a Feira está bombando. É um dos maiores magotes de mulheres lindas por metro quadrado de Brasília, criaturas que só é possível ver no verão do trópico, produto de séculos de miscigenação, dentro de leves tecidos decotados e sandálias japonesas. “Isso é gozar para valer” – penso.
Falávamos da Feira do Guará. Fundada em 1983, atualmente conta com 11.056,25 metros quadrados de área coberta e 526 bancas, como informa seu site (www.feiradoguara.com), de quinta-feira a domingo, das 8 às 18 horas. Vende tudo. Desconfio que até avião. Roupa, então, nem se fala. As confecções vêm principalmente de Goiânia, que é um polo de costura, e também do próprio Guará, que exporta biquínis, por exemplo, para a Europa. Eu moro na 711 Sul, no Plano Piloto. Quando não vou à Feira do Guará no JEY, que é meu carango, um Ford K de 1997, vou de metrô. Ando três quadras até chegar à estação do metrô, na 112 Sul. Caminho até a 512, pela Avenida W3, pego a rua comercial da 312 e depois a 112, e em poucos minutos desço na estação da Feira.
O Guará é um distrito distante cerca de 6 quilômetros do Plano Piloto e a meio caminho de Águas Claras, distrito conurbado a Taguatinga, maior cidade do Distrito Federal, depois de Brasília. Águas Claras foi construída em um dos governos de Joaquim Roriz, que dava incondicional apoio aos barões da especulação imobiliária, com Paulo Octávio à frente. Paulo Octávio é o sujeito mais rico de Brasília, com interesses na construção civil e incorporação, no setor de comunicação social, hoteleiro etc. É dono de um terço da cidade. Outro terço é de Luiz Estêvão, senador cassado, que, juntamente com o juiz Lalau (Nicolau dos Santos Neto), roubou cerca de R$ 203 milhões das obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. Luiz Estêvão foi condenado a devolver R$ 55 milhões. Paulo Octávio e Luiz Estêvão eram amigões de Fernando Collor de Mello.
Águas Claras, uma selva de arranha-céus, foi construída sobre um aquífero. Há locais na região de onde a água mina na rua. Quando chove muito, há pontos que vão para o fundo. Também foi tão mal planejada que tem poste até em calçada. Aliás, nunca se deu muito importância à calçada no Distrito Federal, tanto que se diz que Brasília é para cabeça, tronco e rodas. Com efeito, caminhar no Plano Piloto é uma aventura perigosa.
A Feira do Guará é sempre, aos meus sentidos permanentemente maravilhados, uma viagem romanesca. Logo nas primeiras horas da manhã, ainda há poucas pessoas, então aproveito para ver os peixes e frutos do mar. Adoro ver peixes. Quando morei em Belém do Pará, um dos meus programas prediletos era ver peixes no Ver-O-Peso. Há duas peixarias na Feira, com todo tipo de peixes de água doce e do mar. Até truta, que é um peixe das águas cristalinas dos Estados Unidos e do Canadá, a gente encontra, trazida de criatórios nas montanhas de Minas Gerais. A maior parte dos peixes, principalmente tucunaré, que é o mais saboroso do mundo (mais do que truta), vem do lago de Tucuruí, no Pará. Gosto também de ver os camarões rosa, as lagostas, e todos os animais da água.
Paro na banca da dona Zenaide, de Macapá, irmã do padre Cláudio, que trabalhou durante 10 anos na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Macapá, e agora está em outra paróquia, em Santana. Dona Zenaide me disse que depois de 25 anos irá, dia 15 de abril, a Macapá, para passar uma semana, rever sua família, especialmente sua mãe. “É dessas emoções que se abastece de vida nossos corações” – pensei. Compro sempre açaí (Tuíra ou Fruta), do grosso, congelado e importado de Belém. Também compro um tipo de farinha de tapioca que só encontro na banca da dona Zenaide – a farinha se desfaz na boca da gente. Compro-a especialmente para dona Joana, minha sogra. Levo ainda tucupi. Às vezes, tomo suco de taperebá, que aqui chamam cajá e tem o sabor um pouco diferente do taperebá da Amazônia. Não tomei hoje porque já degustara água de coco da Paraíba, delícia. Bebo água de coco numa banca só de mulheres. São lindas e espetaculares manejando o facão.
Há uma banca onde compro farinha do Pará: de tapioca, que como com açaí, e farinha d’água amarela, para farofa, utilizada pela minha gata, Josiane, e minha filha, Iasmim, e a média, para mim. Outro dia a Josiane preparou tamuatá - que é um peixe comum no Pará e no Amapá - no tucupi, e deve ser comido com farinha d’água. É um dos pratos mais saborosos de quantos conheço. Sempre digo que tamuatá no tucupi, com farinha, é capaz de fazer qualquer chef francês cair de joelhos.
Também gosto de olhar as bancas de frutas, legumes e folhas. Quanto mais belos e limpos, mais os aprecio. Às vezes, compro limão, tomate, banana da terra (que em Macapá chamamos banana comprida). Compro sempre, numa banca próxima à da dona Zenaide, castanha-do-pará (assada, pois assim não precisa ser guardada na geladeira), castanha de caju e ameixa desidratada e sem caroço, que utilizo para regular o intestino.
Passo sempre na Universidade do Pastel, um dos melhores da cidade, conforme o ranking da revista Veja Brasília, especializada em gastronomia. Levo pastéis para casa, de palmito com catupiri. Às 11 horas os restaurantes começam a se encher. Servem comida típica de todo o continente brasileiro. Certa vez almocei na Feira com minha irmã, Linda, e uma amiga dela. Comeram galinha caipira e eu, mocotó.
Meio-dia, a Feira está bombando. É um dos maiores magotes de mulheres lindas por metro quadrado de Brasília, criaturas que só é possível ver no verão do trópico, produto de séculos de miscigenação, dentro de leves tecidos decotados e sandálias japonesas. “Isso é gozar para valer” – penso.
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