- Mais uma Cola-Cola e um meiota – pediu. Voltou-se para o outro, que aprovara o pedido. – A matança começará à meia-noite.
- É o tempo que terminamos esta meiota – disse, olhando para a única porta, e gritou: porrada!
Fora do bar dois sujeitos brigavam. O maior castigava o outro a chutes. Apartaram a briga. O ruivo e o moreno voltaram para o bar. Aproximava-se a meia-noite.
- Vamos tomar mais uma?
- Só sairemos daqui quando fechar – respondeu o moreno.
- Escrevi um poema ontem, evocando minha infância. Tem a forma de um disco – disse o ruivo.
- Mas isso não dificulta a leitura?
- É o tempo que terminamos esta meiota – disse, olhando para a única porta, e gritou: porrada!
Fora do bar dois sujeitos brigavam. O maior castigava o outro a chutes. Apartaram a briga. O ruivo e o moreno voltaram para o bar. Aproximava-se a meia-noite.
- Vamos tomar mais uma?
- Só sairemos daqui quando fechar – respondeu o moreno.
- Escrevi um poema ontem, evocando minha infância. Tem a forma de um disco – disse o ruivo.
- Mas isso não dificulta a leitura?
- Assim as pessoas se detêm mais no conteúdo.
- E o que lhes pode interessar da tua infância?
- É um poema introspectivo...
- Melhor vermos os porcos.
- Vamos tomar mais duas – afirmou o ruivo.
- Vamos perder a matança.
- Aquele filho da puta do meu tio disse que ia me esperar.
O ruivo escorregou e caiu numa poça de água. Levantou-se e continuou andando, como se nada houvesse acontecido. Pararam num boteco e pediram duas doses de aguardente. Ouviram ao longe grunhidos de porco.
- Ainda não começaram a matança.
No bairro do Elesbão, em Macapá, há um matadouro de porcos na extremidade de um comprido trapiche. Quando a maré sobe, o trapiche parece afogar-se no rio Amazonas. Naquela hora da noite era grande o movimento por lá. Transferiam porcos de um curral para outro. O tio do ruivo foi buscar café. Um sujeito enorme experimentava duas marretas e olhava para os porcos.
- O ruivo vai acabar morrendo também! – exclamou um caboclo. Os outros riram. Num local, quase às escuras, o ruivo tentava pegar no traseiro de uma mulher, que esquentava água em panelões.
Com a marretada no crânio o porco se encolheu, e caiu estrebuchando com a facada no pescoço. Em pouco mais de uma hora os porcos estavam mortos e logo seriam pelados. Alguns demoravam a morrer. Um carregador baixo e forte serviu café em copos de vidro grosso.
- Antônio, corre aqui! – gritou o ruivo para o rapaz moreno.
- Diz!
- Descobri uma garrafa de Pitú!
- Onde?
- Ali! Mas não dá mancada.
- Claro. Vamos apanhá-la e dar o fora.
- Não, rapaz, temos que falar com o titio, antes.
- Ora, porra!
- Ele só me convidou para a matança porque tenho que levar porco para casa.
- Ele manda amanhã. Não percebes que hoje estamos bebendo?
- Como é que o nosso tio não percebeu? – disse o ruivo, abaixando-se para pegar a garrafa.
- Nosso, não.
Amanhecia. Uma fogueira fria queimava de cor o rio e aves passeavam, lentas, na areia do mangue.
O ELESBÃO É UM CONVITE integra o livro A GRANDE FARRA, edição do autor (Ray Cunha), Brasília, 1992, 153 páginas, esgotado
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