segunda-feira, 14 de maio de 2012

Todas as rotas acabam nos teus braços, Josiane




Eu tinha 34 anos em 15 de maio de 1988, em Brasília, a caminho do Rio de Janeiro. Fracassara no meu primeiro casamento, em Belém do Pará, trabalhava num jornal sem perspectivas, pelejava para produzir contos suficientes para um livro e era alcoólatra quando encontrei o sol redentor que iluminou meu caminho, então pantanoso e cheio de urtigas. Meu irmão, Ricardo, trouxera de Macapá uma caixa de pastéis de forno, com recheio de goiabada, feitos pela minha irmã, Ismeraldina, talentosa nas artes culinárias. Ao cair da tarde, Ricardo e eu fomos visitar minha amiga Joanira Moreira Lima, levando-lhe parte dos pastéis. Na casa dela, convidei sua irmã, Josiane Souza Moreira, então com 20 anos, para ir ao cinema, juntamente com Ricardo. Fomos. E tudo aconteceu como a mágica do amanhecer.

Fomos ver O último imperador da china, de Bernardo Bertolucci, no antigo cinema do Conjunto Nacional, e começamos ali nosso namoro. Até hoje, sinto o cataclismo do primeiro beijo, inundando-me como a música de Mozart, como o choro azul das rosas vermelhas. Naquela noite, soube de pronto que eu era teu para sempre, e que todas as rotas acabariam nos teus braços, Josiane.

Em 21 de maio de 1989, casamo-nos a primeira vez, e logo ficaste esplêndida, um santuário que eu beijava ajoelhado. Uma noite, 22 de fevereiro de 1990, o rio da tarde acabava de desaguar no mar da noite quando nossa princesinha, Iasmim, anunciou que queria nascer. Às 23h40, no Hospital Regional da Asa Norte, os jardins do mundo se iluminaram, pois nasceu Iasmim. Na manhã do dia seguinte fui conhecer nossa flor. Quando a vi, senti uma emoção tão azul que vertia rubis. Pedi então a Deus, meu Pai, que arrumasse a manhã para aquela flor, a manhã da sua vida, e Ele me muniu de luz, amor, sabedoria e gentileza.

Maio é um mês muito intenso para ti, querida. Este ano, Dia das Mães, domingo 13, a Iasmim te deu um buquê de rosas eternas. Há, contudo, um dia ainda mais especial. Na manhã de 20 de maio de 1968, em Macapá, as flores desabrocharam aos primeiros raios do sol, deixando o ar prenhe de perfume, e sentíamos a Terra girando na Linha Imaginária do Equador. Eu tinha 14 anos e minhas antenas de artista começavam a se desenvolver, de modo que percebi que aquela manhã fora arrumada por Deus.

Tu entraste na minha vida como uma rádio que passamos décadas tentando sintonizar e, um dia, eis que ouvimos o Concerto para Piano e Orquestra, em Ré Menor, de Mozart, e descobrimos que não existe tempo nem espaço, só existe o agora e o agora, o momento mesmo da vida. Josiane Souza Moreira Cunha, teu é o meu tesouro: à minha passagem, os jardins florescem, as crianças riem e a Luz triunfa.

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