BRASÍLIA, 7 de julho
de 2007 – O mais influente noticioso televisivo do país, o Jornal Nacional,
da TV Globo, mostrou, ontem à noite, um pouco sobre como as coisas costumam funcionar
(ou não funcionam) na Amazônia, precisamente no estado do Amapá, no setentrião
da costa brasileira, fronteira com a Guiana Francesa, país que a França mantém
como colônia na América do Sul.
Em 13 de setembro de 1943, foi criado o Território Federal
do Amapá, desmembrando do estado do Pará, e em 1 de janeiro de 1991, foi
instalado o estado do Amapá, criado pela Assembleia Nacional Constituinte de
1988. Foi nessa época, aliás, que o maranhense Zé Sarney foi eleito pelos
tucujus senador vitalício. Sarney deu notoriedade ao Amapá, que só era
conhecido como fonte do melhor manganês do mundo, com o qual o governo
brasileiro presenteou os americanos, que o estocaram no Tio Sam e deixaram o
buracão no município de Serra do Navio.
Pois bem, com 142.814,585 quilômetros quadrados, o Amapá é
cortado longitudinalmente pela A BR-156, que liga Macapá, a capital, a
Oiapoque, na divisa com a Guiana Francesa. Essa rodovia começou a ser
construída nos anos de 1940. Tem cerca de 900 quilômetros, mas apenas 150
quilômetros foram pavimentados. Em quase sete décadas de construção, já
enriqueceu muita gente boa e, pelo jeito, ainda vai encher os bolsos de muita
gente boa.
Em agosto de 2011, o Brasil concluiu, após dois anos de
construção, uma ponte sobre o rio Oiapoque, no valor de R$ 71 milhões, ligando
a cidade de Oiapoque (açougue de carne infantil a turistas libidinosos, que
atravessam o rio Oiapoque em busca de aventuras que só o Brasil pode
proporcionar) a Caiene, a capital da colônia francesa, a 5 quilômetros de
Oiapoque. Do lado francês, a rodovia e as instalações alfandegárias estão
prontinhas, mas do lado amapaense só há a decrepitude de sempre.
Atualmente, o Amapá está nas mãos da família Capiberibe. O
governador, Carlos Camilo Góes Capiberibe (PSB), 40 anos, é filho do
ex-governador por 8 anos e agora senador João Capiberibe e da deputada federal
Janete Capiberibe, ambos também do PSB. João Capibiberibe não concluiu a BR-156
e Camilo não leva jeito de que vá concluí-la. Esse negócio de que a rodovia é
federal, que é preciso se ajoelhar na frente da presidente Dilma Rousseff, ou
ir diretamente a Lula, para que a BR seja concluída, é papo furado. Um
governador pode muito; é só ter vontade política. É claro que para isso é
preciso também ser avesso a patrimonialismo e a nepotismo, e bater de frente
contra as gangs que assaltam o Amapá.
A propósito, segundo o jornal O Estado de São Paulo, até junho de 2010, a verba indenizatória dos
deputados estaduais do Amapá era de R$ 15 mil mensais; subiu para R$ 50 mil e
depois para R$ 100 mil, por sugestão do presidente da casa, Moisés de Souza
(PSC), e acolhida por unanimidade. Foi algo tão descarado que as aves de rapina
recuaram e baixaram o saque para R$ 50 mil, ainda assim, a maior do Brasil. Os
deputados estaduais de São Paulo recebem R$ 13 mil mensais e os federais, R$ 35
mil (houve aumente recentemente, mas ainda está longe de R$ 50 mil). Detalhe: o
Amapá é um dos estados mais pobres da federação.
Moisés de Souza é da turma de Zé Sarney. Falar em Sarney, o
senador vitalício criou em Macapá uma “zona franca” de quinquilharias que
atraiu boa parte da população pobre do Maranhão. Agora, Zé Sarney tem eleitor
até para voltar à presidência da República. Lula, que ungiu Sarney como
inimputável, que se cuide.
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