BRASÍLIA, 14 DE MAIO
DE 2013 – Outono. Quatro horas.
Além da vidraça, a noite é uma zona escura e fria. No apartamento, sinto-me
protegido pela luz e o silêncio. A família dorme e eu vigio. Café arábica com
leite em pó aquece meu cérebro. Ligo o computador para a viagem pós moderna. A
propósito, Ralfe Braga, que, ao lado de Olivar Cunha, é um dos mais criativos
artistas brasileiros, pede-me impressões sobre arte digital, para sua pós-graduação.
Respondo-lhe que arte digital é resultado natural do processo das artes
plásticas no pós-modernismo, este, caracterizado pelo liberalismo, ou seja, o
fim das ideologias injetadas nas massas populares; o individualismo; e a
tecnologia de produção virtual. Neste contexto, o artista tão somente dá forma
à sua criação utilizando o meio digital.
Estive ontem na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc).
Acupuntura não é somente espetar agulhas no paciente e prescrever-lhe drogas
alopáticas, combatendo os sintomas; trata-se de medicina tradicional chinesa.
No Brasil, a classe médica quer reservar o mercado da acupuntura para si.
Grande parte dos médicos brasileiros vive, ainda, na modernidade. E Lula, o mitômano
e megalomaníaco criador da era da mediocridade, quer trazer 6 mil cubanos para
exercer a medicina, cubana, é claro, na hinterlândia da Banânia. Há o mito, vigente
no Brasil, de que Cuba detém um dos melhores sistemas médicos do mundo. Isso
explica por que um sujeito banal, embora espertíssimo, como Lula, mande nos
brasileiros já lá se vão 10 anos.
Da ENAc, fui ao Conjunto Nacional, onde almocei no Sabor
Brasília; pescada amarela, embora do gelo, mas preparada honestamente. Na
Amazônia, peixes são lavados com bastante limão; aqui, há restaurantes que
servem peixe com todo o pitiú. Como sempre melancia e mamão antes do prato
principal. A melancia daqui é dulcíssima e o mamão, papaia, desconfio que seja
de Tomé-Açu (PA). Do Sabor Brasília, fui ao café Kopenhagen, ao lado da
Livraria Saraiva, onde tomei um blend curto, antecedido por água com gás
carbônico. E retornei para casa.
O anoitecer em Brasília é sempre espetacular, como em toda
parte. Na cidade grande, as luzes se derramam do alto dos arranha-céus até as
ruas mais íntimas, como certas composições de Mozart. Dentro do apartamento, a
intimidade, nas conversas, nos gestos, é cheia de paz. Abro o Facebook e encontro
familiares e amigos, como se estivesse na sala de casa e nas dos outros,
simultaneamente. Desligo o computador e mergulho, mais uma vez, nO Coração das Trevas, de Joseph Conrad.
Ocorre-me que o coração dos ditadores, esses ladrões
assassinos, foi enterrado na Guerra Fria, mas pulsam ainda, bem vivos, na
Ibero-América, agonizando, perigosos, numa era passada, carcomidos pela ambição,
a luxúria, a depravação, como certos bandidos que se escondem numa religião
qualquer para torturar crianças e vomitar nas rosas.
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