Macapá, a capital do estado do Amapá, cortada pela Linha Imaginária do Equador e debruçada para o estuário do rio Amazonas, a caminho do Caribe |
BRASÍLIA, 19 DE FEVEREIRO DE 2014 – Em junho
de 2007, uma expedição integrada por pesquisadores do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), da Agência Nacional de Águas (ANA), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Geográfico Militar
do Peru, determinou o local exato da nascente do rio Amazonas. Desde o início da
década de 1990, uma equipe do Inpe, chefiada pelo geólogo Paulo Roberto
Martini, da Divisão de Sensoriamento Remoto, estudava o Amazonas e o Nilo, por
meio de sensoriamento remoto e geoprocessamento, tecnologias utilizadas no
Programa Espacial Brasileiro, e imagens dos satélites Landsat, distribuídas
pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, calculando, assim, minuciosamente,
a extensão de ambos os rios, da nascente à foz, com ajuda de um programa de
computador; em julho de 2008, bateu o martelo: o Amazonas é o maior rio do
planeta.
A nascente do
Amazonas foi localizada no rio Apurimac, na cordilheira dos Andes, ao sul do
Peru. A nova localidade, até o oceano Atlântico, torna o rio 139,91 quilômetros
mais longo do que o africano Nilo, que nasceria no rio Kagera, próximo à
fronteira entre o Burundi e Ruanda, correndo até o mar Mediterrâneo. Segundo o Atlas Geográfico Mundial, a extensão do
Nilo é de 6.695
quilômetros e a do Amazonas, de 6.515 quilômetros .
Com a nova medição, o Amazonas passou a ter 6.992,6 quilômetros e o Nilo, 6.852,15 quilômetros .
Paulo Roberto Martini comentou que as medições anteriores foram feitas sem o
uso de metodologias científicas: “Esse resultado mostra que, às vezes, as
verdades mais bem estabelecidas têm de ser revistas porque podem simplesmente
não ser verdade. Pelo menos desta vez não temos, acho. Temos metodologia
científica e, por essa leitura, por essa interpretação, você pode colocar nos
livros que o Amazonas é maior do que o Nilo”.
Em maio de 2008,
o vice-presidente da Sociedade Geográfica de Lima, professor Zaniel Novoa, após
12 anos de investigação, confirmava a versão do explorador polonês Jacek
Palkiewicz, que, em 1996, localizou a nascente do Amazonas e afirmou que o rio
sul-americano era mesmo o maior do mundo. Até a segunda metade do século XX, os
geógrafos apontavam o Nilo como o maior. Desde que o Amazonas foi batizado, em
1500, foram identificadas nascentes em vários pontos do Peru, até a atual, a 5.179 metros de
altitude, próximo do monte nevado Quehuisha, na região sul de Arequipa, no
Peru, e não nas cabeceiras do rio Marañon, como se pensava. Em 2009, surgiu uma
novidade: estudos mostravam que a nascente do Nilo apontava para o rio Rukarara,
o que dava ao gigante africano o comprimento de 7.088 quilômetros, 95,94
quilômetros maior do que o Amazonas.
Mas a bacia
amazônica é um oceano doce, um realismo fantástico, uma fronteira misteriosa,
pouco conhecida e desprezada pelos governos federais e, pasme-se, pelos
próprios governos da Amazônia Clássica, apesar de se constituir na mais
espantosa província biológica e mineral do planeta.
Em 1500, o navegador
espanhol Vicente Yañez Pizón batizou o Amazonas de Río Santa María del Mar
Dulce; 42 anos depois, o também espanhol Francisco Orellana mudou-o para
Amazonas. O colosso marrom, que no estado do Amazonas recebe o nome de Solimões
e nos estados do Pará e Amapá, de Amazonas, é a espinha dorsal da maior bacia
hidrográfica do planeta, formada por 7 mil afluentes, 25 mil quilômetros de
rios navegáveis, abrangendo uma área, segundo a Agência Nacional de Águas
(ANA), de 6,110 milhões de quilômetros quadrados, 40% da América do Sul, e banhando
Peru (17%), Equador (2,2%), Bolívia (11%), Brasil (63%), Colômbia (5,8%),
Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%).
Da nascente até 1.900 quilômetros ,
o Amazonas desce 5.440
metros ; desse ponto até o Atlântico, a queda é de apenas
60 metros .
Suas águas correm a uma velocidade média de 2,5 quilômetros por
hora, chegando a 8
quilômetros , em Óbidos, cidade paraense a mil
quilômetros do mar e ponto da garganta mais estreita do Amazonas, com 1,8 quilômetro de
largura e 50 metros
de profundidade. Fora do estuário, a parte mais larga situa-se próxima à boca
do rio Xingu, à margem direita, no Pará, com 20 quilômetros de
largura, mas nas grandes cheias chega a mais de 50 quilômetros de largo,
quando as águas sobem ao nível de até 16 metros . O Amazonas é navegável por navios de
alto-mar da embocadura à cidade de Iquitos, no Peru, ao longo de 3.700 quilômetros .
Seu talvegue, nesse curso, é sempre superior a 20 metros, e chega a meio
quilômetro de profundidade próximo à foz.
A vazão média do
rio-mar é de pelo menos 200 mil metros cúbicos de água por segundo, um quinto
de toda a água doce de superfície da Terra, o suficiente para encher 8,6 baías
da Guanabara em um dia. No Atlântico, despeja, em média, 400 mil metros cúbicos
de água por segundo; chega, portanto, a despejar 600 mil metros cúbicos de água
por segundo no mar, nas cheias. Num único dia, o Amazonas deságua no Atlântico
mais do que a vazão de um ano do rio Tamisa, na Inglaterra. O colosso contém
mais água do que os rios Nilo, na África; Mississipi, nos Estados Unidos; e
Yangtzé, na China, juntos. O Amazonas tem 60 vezes mais água do que o Nilo. Só
a bacia do rio Negro, afluente da margem esquerda do Amazonas, contém mais água
doce do que toda a Europa.
Também despeja
no mar 3 milhões de toneladas de sedimento por dia, 1,095 bilhão de toneladas
por ano. O resultado disso é que a costa do Amapá está crescendo. A boca do rio,
que se escancara do arquipélago do Marajó, no Pará, até a costa do Amapá, mede 240 quilômetros , e
sua água túrgida de húmus penetra 320 quilômetros no
mar, fertilizando a Amazônia Azul setentrional. O húmus despejado pelo gigante
no Atlântico torna a costa do Amapá uma explosão de vida marinha, o ponto mais
rico da Amazônia Azul, no Brasil mais mal-guardado pela Marinha de Guerra e
menos estudado pela academia. Se mais de um terço de todas as espécies do
planeta vive na Hileia, a bacia é berço de mais de 2.100 espécies de peixes,
900 a mais do que as dos rios da Europa. Somando-se às 1.200 espécies do
Atlântico Norte, a Amazônia Azul é um santuário de 3.300 espécies.
“O que me
intriga, não apenas no conteúdo da educação fundamental brasileira, mas também
na base de informações científicas e acadêmicas no Brasil, é a pobreza de
informações ambientais e biológicas sobre essa região, batizada de Mar Dulce
pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón, em 1500, mesmo ano em que Cabral achava o
Brasil” – comenta o oceanógrafo Frederico Brandini. Ele lembra que, no Amapá,
as autoridades estão pouco preocupadas com o estudo da Amazônia Atlântica. As
costas do Amapá e do Pará são um inacreditável banco de vidas marinhas,
coalhado de piratas, que vão lá pegar, de arrastão, pescados, lagostas, camarão
e outros frutos do mar. Pescadores paraenses já capturaram na altura da Vila de
Sucuriju, no município de Amapá, marlim azul de meia tonelada. Nem Ernest
Hemingway conseguia espadarte desse porte no Gulf Strean.
Em 2011,
pesquisadores do Observatório Nacional anunciaram evidências de um rio
subterrâneo numa profundidade de 4 quilômetros abaixo do Amazonas, com 6 mil
quilômetros de comprimento, batizado de Hamza, em homenagem a um dos
pesquisadores, o indiano Valiya Hamza. Porém, tudo o que escrevi neste artigo é
apenas realismo fantástico. Os livros continuam com as velhas medidas amazônicas
do tempo do Império Britânico. A Amazônia é ainda uma fronteira, uma colônia,
sugada ao longo de três séculos, por lusitanos, espanhóis, americanos,
ingleses, franceses, holandeses, japoneses, chineses, paulistanos e os governos
que se alternam em Brasília.
A Amazônia permanece
como colônia, agora pós-moderna, a casa da mãe Joana, sob o beneplácito, a
ambição, o jugo, a omissão de Brasília, incluindo-se nesse contexto a bancada
da Amazônia no Congresso Nacional, que nunca agiu em bloco no interesse da auto-sustentação dos caboclos do subcontinente. Agora, a aristocracia são as multinacionais e os megaempresários, geralmente laranjas dos países hegemônicos, que dão as cartas.
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