MARCELO LARROYED*
O escritor Ray
Cunha autografará três livros e lerá contos na Livraria do Chico da UnB, no Pavilhão A, Estande 33 da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, de 11 a 21 de
abril, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília: o recém-lançado Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela
É (Ler Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 25); Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos (edição do autor, Brasília,
116 páginas, R$ 30); e O Casulo Exposto
(LGE/LER Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 28).
Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela
É está à venda no Sebinho, complexo de livraria, cafeteria
e restaurante na 406 Norte, Bloco C; além do site www.lereditora.com.br, que atende a qualquer região do
planeta, incluindo o Distrito Federal, com a entrega do livro em casa.
Também pelo site da Ler Editora pode ser adquirido o livro O Casulo Exposto. Livreiros devem fazer pedidos pelo e-mail: atendimento@lereditora.com.br, ou pelo telefone: (55-61) 3362-0008, ou ainda diretamente na Ler Editora, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Quadra 3, Lote 49,
Bloco B, Loja 59 – Brasília/DF
– CEP 70610-430.
Na Boca do Jacaré-Açu é o terceiro
volume da trilogia de contos que começou com A Grande Farra (edição do autor, Brasília, 1992, 153 páginas,
esgotada) e prosseguiu com Trópico Úmido.
A espinha dorsal da trilogia é a Amazônia, tanto a Hileia quanto as metrópoles
da selva. O livro enfeixa 14
histórias curtas, ambientadas em Belém, que acaba sendo personagem subjacente
no conjunto dos contos, e a quem o autor dedica o livro (Cidades são como mulheres. Este livro é para Santa Maria de Belém do
Grão Pará). Algumas histórias têm sequências na maior feira livre da
Ibero-América, o Ver-O-Peso, que aparece em fotomontagem na capa desta edição,
bem como no Marajó, “maior ilha flúvio-marítima do planeta, ao sul do estuário
do rio Amazonas, o maior do mundo, único com estuário e delta, e que despeja
por segundo pelo menos 200 mil metros cúbicos de água e húmus no Atlântico,
tornando as costas do Amapá e do Pará as mais piscosas da Terra, apesar de que a
Amazônia Azul setentrional é a menos estudada pela academia e a mais mal
guardada pelo estado brasileiro” – comenta Ray Cunha.
“O conto que dá
título ao livro, Na Boca do Jacaré-Açu,
é o mergulho suicida do arqueólogo Agostinho Castro nos abismos do Mundo das
Águas, a confluência dos rios Amazonas, Pará, Tocantins e Guamá, e o oceano
Atlântico, abocanhando o arquipélago de Marajó, mais de mil ilhas, a maior
delas do tamanho de Portugal. Jacaré-açu atinge mais de 6 metros de comprimento
e meia tonelada de peso; no conto Na Boca
do Jacaré-Açu, representa a morte, na pessoa do pai de Agostinho, Castro e
Castro” – observa o escritor.
TRÓPICO
ÚMIDO – TRÊS CONTOS AMAZÔNICOS – O segundo livro da trilogia Amazônia, Trópico Úmido, reúne três contos com
pano de fundo em quatro cidades da Amazônia: Belém, capital do Pará; Macapá,
capital do Amapá; Manaus, capital do Amazonas; e Rio Branco, capital do Acre.
Inferno Verde conta a história do
repórter Isaías Oliveira, num duelo com o sinistro traficante Cara de Catarro.
A trama se passa em Belém e na ilha de Marajó. Latitude Zero se desenrola em Macapá, cidade situada no estuário do
maior rio do planeta, o Amazonas, na cofluência com a Linha Imaginária do Equador.
Um punhado de jovens começa a descobrir que a vida produz também ressaca. A Grande Farra narra peripécias do jovem
repórter e playboy Reinaldo. Candidato a escritor, ele gasta seu tempo
trabalhando como repórter, bebendo e se envolvendo com inúmeras mulheres. O
conto tem sua geografia em Manaus, encravada no meio da selva amazônica, e em
Rio Branco, no extremo oeste brasileiro.
Segue-se artigo
do jornalista, escritor e crítico literário Maurício Melo Júnior, que apresenta
o programa Leituras na TV Senado,
sobre Trópico Úmido.
OBSESSÕES AMAZÔNICAS DE RAY CUNHA – “A
literatura brasileira está numa encruzilhada. Cada autor atira para um lado e
ninguém consegue formatar o que no passado se chamou de movimento. Mesmo em
lugares onde se pratica uma literatura regional intensa – Pernambuco e Rio
Grande do Sul, por exemplo – não há o senso de união. Isso, se por um lado
favorece a diversidade temática, por outro, paradoxalmente, desagrega autores e
enfraquece o trabalho de formação de leitores. Embora o ato de escrever seja um
exercício de solidão, são a vivência e a convivência que dão ao escritor o estofo
necessário para a composição do texto.
“O escritor Ray
Cunha, nascido na beirada da floresta amazônica, sofre do mal que vitimou parte
de seus colegas a partir dos anos setenta: é um escritor desagregado, carente
de grupos com quem possa discutir temas, estéticas e formas. Isso fica muito
claro em seu livro Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos, no qual, apesar de
uma certa obsessão geográfica, sente-se a ausência da região em sua plenitude.
O leitor mais exigente terminará a leitura carente do sotaque e das cores
amazônicas, embora fique saciado com o desenvolvimento bem resolvido da trama.
“O conto que
abre o livro, Inferno Verde, conta a história do repórter Isaías Oliveira em
duelo sangrento e perverso com o traficante Cara de Catarro. O segundo texto,
Latitude Zero, fala de um grupo de jovens em descobertas sexuais em Macapá.
Pode ser visto como um conto de formação, embora carregado do escancaro de
Charles Bukowisk, o que é até compreensível em quem sobreviveu às teorias de
Freud e à revolução sexual dos anos sessenta. Finalmente, o último conto do
volume, A Grande Farra, conta a história de Reinaldo, um repórter que sonha ser
escritor, mas, milionário, gasta a vida em bebedeiras e aventuras sexuais.
“A linha que
liga todos os textos, além da região amazônica, é mesmo a temática da
sexualidade. No entanto, este sentimento está muito próximo das práticas vindas
com a liberação sexual dos anos sessenta, unidas a um certo sadismo dos
personagens. Num pobre exercício de paráfrase com os Atletas de Cristo, que
trazem halos angelicais para os nossos atletas do futebol, podemos dizer que os
personagens de Ray Cunha são Atletas de Sade. É impressionante a obsessão por
um ato doloroso e imposto. Há sempre dominação do macho sobre a fêmea, mesmo
quando ela, também filiada à revolução sexual, escolhe seu parceiro. Ainda
assim prevalece a força do macho.
“Esses
personagens construídos pelo autor, por conta da defesa de uma geração perdida,
terminam por carregar cores muito iguais. São todos hedonistas, amantes do
prazer sobre todas as coisas. Por conta desse sentimento entram de cabeça na
vida sem medir qualquer consequência. E fica clara aí a influência de Bukowisk,
o velho safado, embora a sensualidade das ninfetas traga para os textos uma
certa lembrança de Nabokovisk, o velho também safado, mas um pouco mais pudico.
Sobrevive disso tudo um mundo excessivamente cruel, posto que o prazer é o que
menos importa aos moços. Todas as relações têm como objeto a sujeição do
parceiro.
“O poeta Augusto
dos Anjos falava em um de seus sonetos da “obsessão cromática”, do que chamava
de fantástica visão do sangue se espalhando por toda parte. Ray Cunha trás para
a literatura um pouco dessa obsessão, que faz a festa dos repórteres policiais.
Há muitas cenas cruéis, com requintes de crueldade, dignos das páginas dos
romancistas policiais americanos da década de cinquenta, um período no qual a
fineza britânica de Conan Doyle foi substituída pela inspiração de Bram Stoker.
“Finalmente, há
obsessão geográfica. Para um livro passado na Amazônia isso é bem interessante.
No entanto o autor poderia descrever mais e citar menos. Explica-se. É comum
por todo o texto o nome de ruas onde moram, vivem e rodopiam os personagens. O
problema é que a citação pura e simples do nome da rua simplesmente não remete
a qualquer impacto sobre o leitor que não conhece as ruas. O autor poderia
descrever as ruas, o que daria uma informação a mais ao leitor, situando-o até
no ambiente por onde transitam os personagens.
“Fica do livro,
entretanto, a construção da história. Há pontos de prisão do leitor no jogo de
curiosidades desvendadas aos poucos. O autor sabe manipular bem a trama,
levando o leitor ao clímax. Com isso, resgata uma das maiores carências da
literatura brasileira atual: o bom contador de história. É que os nossos novos
escritores, buscando a universalidade linguística de Guimarães Rosa, esqueceram
que ele sabia contar bem uma história. Resultado: renunciaram à narrativa e não
ganharam a inventividade estética.
“Ray Cunha
consegue contar bem suas histórias. No entanto poderia ter trazido o mundo mais
amazônico para suas páginas; poderia deixar um pouco as influências
estrangeiras e seguir a trilha de autores como Benedicto Monteiro. Isso pode
transformá-lo no grande representante da literatura amazônica moderna. Aquele
que conseguirá traduzir boa linguagem com boa narrativa, e tudo temperado em um
bom caldo de tucupi.”
O
CASULO EXPOSTO – “O Casulo Exposto enfeixa 17 contos ambientados no
Distrito Federal. Trabalho, como jornalista, em Brasília, desde 1987, cobrindo
amplamente a cidade-estado, o Entorno e o Congresso Nacional, o que me
proporcionou conhecer bem essa geografia, inclusive a humana, que serviu para
criar as personagens e o cenário dessas histórias curtas” – diz Ray Cunha. “O
casulo é uma alegoria à redoma legal que engessa o Patrimônio Cultural da
Humanidade, a borboleta de Lúcio Costa, ninfa golpeada no ventre, as vísceras
escorrendo como labaredas de luxúria, depravação e morte, nos subterrâneos e na
esfera política da cidade dos exilados, onde chafurda uma fauna heterogênea:
amazônidas que deixaram a Hileia para trás e tentam sobreviver na ilha da
fantasia; jornalistas se equilibrando no fio da navalha; políticos, daquele
tipo mais vagabundo, que esconde merenda escolar na mala do seu carro e
dinheiro na cueca; estupradores; assassinos; bandidos de todos os calibres;
tipos fracassados e duplamente fracassados, misturando-se numa zona de
fronteira e penumbra.”
Segue-se
prefácio de Maurício Melo Júnior: “O escritor Jorge Amado costumava se queixar
de algumas ausências da literatura brasileira. E dizia que a mais gritante
delas era a falta de romances sobre o ciclo do café, como os que foram escritos
sobre os ciclos da cana-de-açúcar e do cacau. Também podemos dizer que ainda
não surgiram os escritores que tomaram o desafio de contar as sagas da busca da
borracha na Amazônia e da construção de Brasília em pleno cerrado goiano.
“Neste seu novo
livro de contos e novelas, o escritor Ray Cunha, nascido no Amapá e vivente de
Brasília, passa longe da narrativa de homens perdidos na solidão da floresta ou
na poeira das construções incansáveis. O que interessa ao escritor são os
resultados daquelas experiências, são os personagens que ficaram depois das
epopeias.
“Os homens e
mulheres que saltam destas páginas são bastante curiosos. Têm a política no
sangue, embora apenas transitem em torno dela. Veem o poder bem de perto, mas
não participam de suas benesses. Também calejados pelas dores impostas pela
opressão da floresta, já nada os surpreende e a violência pode ser uma forma de
defesa ou sobrevivência. Sim, os escrúpulos são poucos. Ou, citando Jarbas
Passarinho, um acriano que fez carreira política no Pará, “às favas com o
escrúpulo”. Em compensação, a sensualidade aflora na pele dessa gente. O perigo
é que também este poder de encantar e seduzir é instrumento de dominação.
“Naturalmente
que a visão que temos aqui está superdimensionada pelos requisitos da
literatura, mesmo assim sua base tem intensos pontos de realismo. E Ray ainda
lhes dá um tratamento recheado de um humor cáustico, em alguns momentos até
cruel. No entanto, este humor nasce do clima noir, o clima dos filmes e livros
policiais surgidos nos anos de 1940.
“Sem saudosismos
e com muito suspense, os contos e novelas de Ray Cunha nos põem diante dos
brasilienses, esses seres nascidos da junção plena de todos os brasileiros. E
vale muito a pena conhecê-los”.
RAY CUNHA POR RAY CUNHA – “Sou caboco
(sic) de Macapá, cidade da Amazônia Caribenha que tremeluz na Linha Imaginária
do Equador e se debruça no estuário do Amazonas, a cerca de 200 quilômetros da
boca do maior rio do planeta, quando o Mar Doce penetra fundamente o Atlântico,
fertilizando-o até o Caribe” – define-se Ray Cunha, que mora em Brasília, onde
trabalha como correspondente do Portaldo Holanda (o mais lido da Amazônia e vigésimo do país entre os sites
auditados pelo Instituto de Verificação de Circulação – IVC) e no semanário Brasília Capital, além de ser aluno do
curso de Medicina Tradicional Chinesa na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc).
*MARCELO LARROYED é escritor e mestre
em língua portuguesa
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