É outono em Brasília, e chove. Tem chovido todos os dias, como
se ainda estivéssemos no verão. Os dias amanhecem frios, aquele frio dos
trópicos, e entardecem nublados. A cidade é a mesma de sempre, parece que foi
bombardeada: ruas esburacadas, calçadas estouradas e mato. O matagal cresce com
vigor amazônico, chegando até o passeio público, cobrindo as rotas calçadas e
invadindo nossa alma, deixando-nos um travo sutil, ao atingir um nervo exposto
do corpo etérico. O ex-governador Agnelo Queiroz, que não logrou reeleger-se, deixou
para o sucessor um atoleiro. Até hoje, Rodrigo Rollemberg lembra um pugilista
que tomou uma saraivada de jabs e no intervalo entre um round e outro é animado
pelo seu staff, que o abana, refresca-lhe a cabeça e lhe dá curtos goles de
água. Agnelo, que ficou conhecido como Agnulo, homiziou-se na Argentina,
deixando para trás a “cidade mais moderna do mundo” mais sucateada do que nunca.
Brasília é um três por quatro do Brasil, especialmente a
Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios. A sensação que se tem é a
de Alice no País das Maravilhas. Há
uma mulher, com nome de homem, Lula Rousseff, cleptomaníaca e megalomaníaca.
Não se interessa por milhões de reais, mas por bilhões. Seca facilmente uma
garrafa de 51, na intimidade, e exibe, aos capangas, Romanée Conti. É o capo di
tutti i capi. A impressão que se tem é de que o povo brasileiro gosta de ser
assaltado. Por exemplo: Jeca Sarney, o maior patrimonialista do Brasil, e que
inclusive anexou o Amapá ao Maranhão, com a ajuda dos próprios amapaenses, é
claro, assalta o país há mais de meio século, da mesma forma que o urubu velho
Fidel Castro, e agora o zumbi Hugo Chávez Maduro, chupa o tutano de cubanos e
venezuelanos. No Congresso Nacional, os políticos gargalham, nas suas bacanais.
Continuo frequentando o Conjunto Nacional, e a tomar o
espresso do Café Doce Café. Robusta. O passa-passa é agora mais agitado e as
mulheres ainda mais bonitas. Já notei que as mulheres são sempre mais belas,
tão lindas que parecem nuas. Quase toda semana passo na Livraria Saraiva para
ler a Veja. Sobre mim, um alto
falante toca música americana da atualidade; guinchos. Costumo passar também na
Livraria Leitura, onde, com um pouco de sorte, ouvimos até concertos. Nesses
meus passeios, folheio livros que ambiciono ler, mas que ainda não chegou o
momento de fazê-lo; observo-lhes o número de páginas, leio o início, ou alguma
coisa sobre o autor, aprecio a edição como um todo, e fico imaginando como será
bom ver um livro de minha autoria em edição tão primorosa. Outro dia, fui
premiado com duas descobertas. Lendo o início de O Jardineiro Fiel, de John le Carré, percebi que a literatura
classe A é sempre uma teia, e nunca um fio, como o jornalismo. E folheando Na Outra Margem da Memória,
autobiografia de Vladimir Nabokov, percebi que o escritor de primeira categoria
tem, sempre, um pé na dimensão do espírito.
Frequento também a Escola Nacional de Acupuntura (Enac), uma
portinha no Bloco A da 404 Sul, onde faço o curso de Medicina Tradicional
Chinesa. Lá, é uma universidade por definição, um centro de debates, um
corredor de opiniões. Certa vez, ouvi de alguém que uma pessoa muito doente
deve morrer, deixar-se matar, ou matar-se, para não exaurir seus familiares;
uma exaltação à teoria de Charles Darwin, contribuindo, assim, para a evolução
da humanidade, numa comprovação ao delírio ariano de Adolf Hitler. Mas há
sempre as luzes de alguns mestres no corredor, equilibrando as opiniões que resvalam
para o caos, como numa dança de yin e yang na espiral.
A propósito, a eutanásia pode significar uma zona de
conforto para os que ficam, mas não haveria um propósito em deteriorar-se em
cima de uma cama durante anos, dependendo dos outros para tudo? Há mais mistério
entre o céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia, como disse William
Shakespeare. Creio que haja sempre um propósito em tudo, e que cabe a cada qual
descobrir isso; cabe a cada um descobrir sua missão. Talvez o grande entrave de
um candidato a terapeuta seja a dimensão física. E esse nó somente será
desfeito quando ele descobrir que o plano físico é nada mais do que uma ilusão,
semelhante ao mundo virtual do inseparável celular.
Há mais mistérios entre a cúpula que exaure o Brasil e a URNA ELETRÔNICA - www.vocefiscal.org
ResponderExcluirASOV-Aposentado Solte o Verbo!