Tromba d'água em Macapá, cidade localizada à margem do rio
Amazonas, na Amazônia Caribenha (flagrante de Caio Gato)
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Em junho de 2007, uma expedição integrada por pesquisadores
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Agência Nacional de
Águas (ANA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do
Instituto Geográfico Militar do Peru, determinou o local exato da nascente do
rio Amazonas, localizada no rio Apurimac, na cordilheira dos Andes, ao sul do
Peru. Desde o início da década de 1990, uma equipe do Inpe, chefiada pelo
geólogo Paulo Roberto Martini, da Divisão de Sensoriamento Remoto, estudava os
rios Amazonas e Nilo, na África, por meio de sensoriamento remoto e
geoprocessamento, tecnologias utilizadas no Programa Espacial Brasileiro, além
de imagens dos satélites Landsat, da Nasa, a agência espacial dos Estados
Unidos, calculando, assim, minuciosamente, a extensão de ambos os rios, da nascente
à foz; em julho de 2008, bateu o martelo: o Amazonas configurava-se como o
maior rio do planeta.
Conforme o Atlas Geográfico Mundial, o Amazonas media 6.515
quilômetros. Com a nova medição, passou a ter 6 992,06, portanto 139,91
quilômetros mais longo do que o Nilo, que, também segundo o Atlas Geográfico
Mundial, media 6.695 quilômetros, nascendo no rio Kagera, próximo à fronteira
entre o Burundi e Ruanda, e correndo até o mar Mediterrâneo. A nova medição
dele o amplia para 6.852,15 quilômetros. Em maio de 2008, o vice-presidente da
Sociedade Geográfica de Lima, professor Zaniel Novoa, após 12 anos de
investigação, confirmava a versão do explorador polonês Jacek Palkiewicz, que,
em 1996, localizou a nascente do Amazonas e afirmou que o rio sul-americano era
mesmo o maior do mundo. Desde que o Amazonas foi batizado, em 1500, foram
identificadas nascentes em vários pontos do Peru, até a atual, a 5.179 metros
de altitude, próximo ao monte Quehuisha, na região sul de Arequipa, no Peru, e
não nas cabeceiras do rio Marañon, como se pensava.
Paulo Roberto Martini comentou que as medições anteriores
foram feitas sem o uso de metodologias científicas: “Esse resultado mostra que,
às vezes, as verdades mais bem estabelecidas têm de ser revistas porque podem
simplesmente não ser verdade. Pelo menos desta vez não temos “acho”. Temos
metodologia científica e, por essa leitura, por essa interpretação, você pode
colocar nos livros que o Amazonas é maior do que o Nilo”. Numa coisa ele tinha
razão. Em 2009, surgiu uma novidade: estudos mostravam que a nascente do Nilo
apontava para o rio Rukarara, o que dava ao gigante africano o comprimento de
7.088 quilômetros, 95,94 quilômetros maior do que o Amazonas.
Mesmo assim, o Amazonas é mesmo o maior rio do mundo. Senão
vejamos. A bacia amazônica é um oceano doce, um realismo fantástico, uma
fronteira misteriosa, pouco conhecida e desprezada pelos governos federais e,
pasme-se, pelos próprios governos da Amazônia Clássica, apesar de se constituir
na mais espantosa província biológica e mineral do planeta. Em 1500, o
navegador espanhol Vicente Yañez Pizón batizou-o de Río Santa María del Mar
Dulce; 42 anos depois, o também espanhol Francisco Orellana mudou-o para
Amazonas. O colosso marrom, que no estado do Amazonas recebe o nome de Solimões
e nos estados do Pará e Amapá, de Amazonas, tem mais de mil afluentes,
constituindo-se na espinha dorsal da maior bacia hidrográfica da Terra, formada
por 7 mil rios, 25 mil quilômetros navegáveis, abrangendo uma área, segundo a
Agência Nacional de Águas, de 6,110 milhões de quilômetros quadrados, 40% da
América do Sul, banhando Peru (17%), Equador (2,2%), Bolívia (11%), Brasil
(63%), Colômbia (5,8%), Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%).
Da nascente até 1.900 quilômetros, o Amazonas desce 5.119
metros; desse ponto até o Atlântico, a queda é de apenas 60 metros. Suas águas
correm a uma velocidade média de 2,5 quilômetros por hora, chegando a 8
quilômetros, em Óbidos, cidade paraense a mil quilômetros do mar e ponto da
garganta mais estreita do Amazonas, com 1,8 quilômetro de largura e 50 metros
de profundidade. Fora do estuário, a parte mais larga situa-se próximo à boca
do rio Xingu, à margem direita, no Pará, com 20 quilômetros de largura, mas nas
grandes cheias chega a mais de 50 quilômetros de largo, quando as águas sobem
ao nível de até 16 metros. O Amazonas é navegável por navios de alto-mar da
embocadura à cidade de Iquitos, no Peru, ao longo de 3.700 quilômetros. Seu
talvegue, nesse curso, é sempre superior a 20 metros, e chega a meio quilômetro
de profundidade próximo à foz.
Segundo Admilson Moreira Torres,
do Centro de Pesquisas Aquáticas do Instituto de Pesquisas Científicas e
Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), e Maâmar El-Robrini, do Grupo de
Estudos Marinhos e Costeiros (GEMC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq); do Laboratório de Modelagem de Oceano e Estuários
Amazônicos (Modelaz); e do Centro de Geociências da Universidade Federal do
Pará (UFPa), a descarga hídrica do rio Amazonas é tão gigantesca que reduz a
salinidade superficial do mar no oceano Atlântico tropical. A descarga média é
de 180 mil metros cúbicos de água por segundo, um quinto, ou 16% da água doce despejada
nos oceanos do mundo. Em maio, sobe para 220 mil metros cúbicos por segundo e,
em novembro, cai para 100 mil metros cúbicos por segundo; 65% do fluxo vaza
pelo Canal do Norte, que despeja até 160 mil metros cúbicos de água por segundo.
Trata-se do único rio no planeta a apresentar estuário e delta. Com cerca de 60
vezes mais vazão do que o Nilo, calcula-se que o tributo do Amazonas ao mar é
suficiente para encher 8,6 baías de Guanabara em um dia.
Assim, o rio fertiliza o mar com sua água túrbida de húmus,
além de espantosos 3 milhões de toneladas de sedimento, por dia, 1,095 bilhão
de toneladas por ano. O resultado disso é que a costa do Amapá está crescendo.
A boca do rio, escancarando-se do arquipélago do Marajó, no Pará, até a costa
do Amapá, mede em torno de 240 quilômetros, e sua água túrgida penetra cerca de
320 quilômetros no mar, atingindo o Caribe nas cheias, e, juntamente com outros
gigantes do Pará e Amapá, contribui para que a Amazônia Azul setentrional seja
a costa mais rica do planeta em todo tipo de criatura do mar, especialmente a
costa amapaense, pois o húmus despejado pelo Mar Doce no Atlântico torna-a uma
explosão de vida, no Brasil mais mal guardado pela Marinha de Guerra e menos
estudado pela academia.
Calcula-se que o tributo que o Amazonas oferece ao mar é
suficiente para encher 8,6 baías de Guanabara em um dia. Assim, o rio fertiliza
o mar com sua água túrbida de húmus, além de espantosos 3 milhões de toneladas
de sedimento, por dia, 1,095 bilhão de toneladas por ano. O resultado disso é
que a costa do Amapá está crescendo. A boca do rio, escancarando-se do
arquipélago do Marajó, no Pará, até a costa do Amapá, mede em torno de 240
quilômetros, e sua água túrgida penetra cerca de 320 quilômetros no mar,
atingindo o Caribe nas cheias, e, juntamente com outros gigantes do Pará e
Amapá, contribui para que a Amazônia Azul setentrional seja a costa mais rica
do planeta em todo tipo de criatura do mar, especialmente a costa amapaense,
pois o húmus despejado pelo Mar Doce no Atlântico torna-a uma explosão de vida,
no Brasil mais mal guardado pela Marinha de Guerra e menos estudado pela
academia.
Se mais de um terço de todas as espécies do planeta vive na
Hileia, a bacia é berço de mais de 2.100 espécies de peixes, 900 a mais do que
as dos rios da Europa. Só a bacia do rio Negro, afluente da margem esquerda do
Amazonas, contém mais água doce do que a Europa. Somando-se às 1.200 espécies
do Atlântico Norte, a Amazônia é um santuário de 3.300 espécies. “O que me
intriga, não apenas no conteúdo da educação fundamental brasileira, mas também
na base de informações científicas e acadêmicas no Brasil, é a pobreza de
informações ambientais e biológicas sobre essa região, batizada de Mar Dulce
pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón, em 1500, mesmo ano em que Cabral
achava o Brasil” – comenta o oceanógrafo Frederico Brandini. Ele lembra que, no
Amapá, as autoridades estão pouco preocupadas com o estudo da Amazônia
Atlântica. As costas do Amapá e do Pará são um inacreditável banco de vidas
marinhas, coalhado de piratas, que vão lá pegar, de arrastão, pescados,
lagostas, camarão e outros frutos do mar. Pescadores paraenses já capturaram na
altura da Vila de Sucuriju, no município de Amapá, marlim azul de meia
tonelada. Nem Ernest Hemingway conseguia espadarte desse porte no Gulf Strean.
Em 2011, pesquisadores do Observatório Nacional anunciaram
evidências de um rio subterrâneo numa profundidade de 4 quilômetros abaixo do
Amazonas, com 6 mil quilômetros de comprimento, batizado de Hamza, em homenagem
a um dos pesquisadores, o indiano Valiya Hamza. Porém tudo o que escrevi neste
artigo é apenas realismo fantástico. A Amazônia é ainda uma fronteira, uma
colônia, agora sugada pelos governos que se alternam em Brasília, pela a
aristocracia de hoje – multinacionais e megaempresários – e ONGs e políticos perigosos,
que chegam a agir como laranjas dos países hegemônicos.
A joia do rio Amazonas é Macapá, a capital do estado do
Amapá. A cidade tremeluz na Linha Imaginária do Equador, debruçada na margem
esquerda do Canal do Norte, quase na boca do gigante, quando o monstro penetra
o azul atlântico. E à noite, os jasmineiros soluçam no ar saturado de espilantol.
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