Mulheres
grávidas em vestidos amplos são combustíveis para o meu voo, de modo que a
gravidez da Josiane, minha esposa, que deu à luz Iasmim, nossa princesinha, foi
vertiginosa. Desde a concepção, aquela onda azul começou a vibrar no triângulo equilátero
que, desde então, formamos. Nossa comunicação física teve início assim que a
barriga da Josiane começou a crescer; eu podia sentir a presença da Iasmim, e
quando o ventre ficou realmente grande, bastava que me aproximasse para a pele ficar
saliente; era a princesinha tentando tocar minhas mãos, meu rosto, e quando me deitava
de costa para o colo da Josiane, a princesinha me abraçava. Às vezes, Josiane
lia para nós, orava, dizia eu te amo, bebê, e afagava o ventre.
Quando vi
minha princesinha pela primeira vez, seus olhos como duas luzes me abarcando,
chorei perfume, como choram os jasmineiros da Amazônia, nas noites de julho.
Começava, aí, nova preparação do caminho. As flores são indestrutíveis na sua
eternidade porque Deus arruma todas as suas manhãs, tardes e noites, Pessoalmente,
e assim Arrumou o jardim para a princesinha, onde eu lia, para ela, todas as
joias escritas, e, dia após dia, ofertei-lhe os tesouros mais preciosos do
Universo, diamantes rosas e rubis azuis que eu ia buscar na parte imersa do meu
iceberg. Também Josiane, por seu turno, dava-lhe todas as riquezas que extraía
da sua própria vida.
Ainda
garotinha, Iasmim é quem escolhia suas roupas; apenas a direcionávamos quando,
por exemplo, ela escolhia um vestido quente no verão, e explicávamos por quê. E
se tornou leitora voraz, escreveu contos, pintou óleos sobre tela e manifestou
a vontade de fazer o curso de moda, mas ao concluir o nível médio optou por
turismo, apenas para perceber, claramente, que seu negócio é moda, mesmo, e fazer
a correção do caminho.
Assim é a
própria vida. Pessoas são condenadas a vender-se porque seus pais as querem
advogados, médicos ou físicos, quando seu talento é para santo, poeta, palhaço,
ou acupunturista. Outra maneira de matar os filhos, ou qualquer pessoa, é
arrogar-se a viver a vida alheia. Zumbis são isto: mortos vivos, a manada, o
rebanho, o rótulo, o apego, a ilusão.
Masaharu Taniguchi disse que o mundo físico é apenas criação da
mente; o segredo para entendermos isso está no iceberg da vida. Como bem observou
o criador de O Velho e o Mar, Ernest
Hemingway, o iceberg flutua com tanta elegância porque sete oitavos ficam submersos
e somente um oitavo aparece fora d’água, o equivalente ao mundo físico,
limitado pelo espaço e pelo tempo. Os sete oitavos dentro da água podem ser
identificados como realidades múltiplas, universos multidimensionais, ou
qualquer outra coisa que se aproxime do que rotulamos de realidade. E o que é
realidade? Matéria? Poesia? Sonho?
Gosto de
pensar que realidade são os caminhos do triângulo, o éter, o vácuo, o nada,
algo que apenas flui, e que sou leão de asas mergulhando no abismo azul, misterioso
como mulher nua.
A vida é agora!
Como sempre, sinto no ar o perfume das virgens ruivas e na boca o sabor de Dom
Pérignon, safra de 1954, pronto para subir ao ringue.
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