A sede do Banco Central é um dos edifícios mais altos de
Brasília, um caixote negro de 101 metros, com 26 pavimentos, sete abaixo do
solo. Pode ser visto à distância, como uma referência ao coração da cidade, um
bolsão que abarca também a Rodoviária do Plano Piloto, o Conjunto Nacional, o
Conic e os setores Comercial e Hoteleiro Sul e Norte. O Monardo Gastronomia e Cultura é um restaurante e cafeteria atrás do Banco Central, na Rua 201 Sul,
Bloco B, Loja 9, quase defronte ao Piantella. Estive lá, uma quinta-feira, autografando
dois livros de contos: O Casulo Exposto
e Trópico Úmido.
Nós, escritores, somos como os pugilistas: da feita que
subimos ao ringue estamos absolutamente sozinhos. Nada pode vir em nosso
auxílio. Temos apenas que nos concentrar no filão que se apresenta, de onde
podemos retirar pedras preciosas ou apenas cascalho, dependendo da luz ou do
nevoeiro onde caminha nossa alma. Os escritores pouco conhecidos sentem-se, nas
sessões de autógrafos, ainda mais sós. Estamos ali, expostos como animais no
zoológico, tentando vender universos dos quais ficamos grávidos durante, às
vezes, quase toda a nossa vida.
Mas do meu posto, duas mesinhas nas quais meu amigo
Antonello Monardo me instalou, pude acompanhar a agonia da tarde, aquele
momento de transição imperceptível, quando flocos negros começam a cair e a se
acamar, iguais a neve, transparente e negra, flutuando como folhas mortas,
anunciando o navio da noite.
Acompanhei também, do meu posto, o passa-passa das mulheres
na calçada; algumas são tão lindas que causam sofrimento, porque são
inacessíveis como as que só vemos nos grandes aeroportos, de madrugada,
partindo para um país misterioso. Por isso, nunca estamos sós, pois há sempre
rosas nuas nas esquinas do mundo. Temos apenas que desenvolver as antenas do
éter para sentir a maresia, mesmo que o mar seja inacessível.
Simona Forcisi chegou de repente, iluminando tudo com seus
olhos de esmeraldas, abraçou-me, redentora, e sentou-se à minha frente. Ela já conhece
O Casulo Exposto e pediu-me para
autografar Trópico Úmido – Três Contos
Amazônicos. Simona, italiana de Turim, trabalha na Embaixada da Itália, em
Brasília, onde se graduou em Literatura Brasileira. Conhecedora atenta dos
idiomas de Giuseppe Tomasi di Lampedusa e Graciliano Ramos, pretende mergulhar na
Amazônia do Trópico Úmido.
Quando Simona se foi,
deixou um rastro de clorofila. Minha filha, Iasmim Cunha, me deu todo o apoio,
fotografou-me e bateu papo com seu velho pai. E fomos pegar minha gata,
Josiane, no Hospital Sírio Libanês, onde, como psicóloga, esparge luz. Ainda
era cedo e paramos para comer sushi. Depois, retornamos para casa.
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