BRASÍLIA, 12 DE
JANEIRO DE 2018 – A primeira vez que tive a sensação de estar numa grande
livraria foi em Niterói/RJ, em 1982, aos 27 anos, quando encerrei 10 anos na
estrada, ou de barco na Amazônia. Na minha cidade natal, Macapá/AP, não havia
livraria quando saí de lá, em 1972. Havia papelaria. Leitores compravam livros em
Belém, no Rio ou em São Paulo, tomavam livros emprestados, ou frequentavam a Biblioteca
Pública; meu caso. Naquela época, conheci Gilberto Araújo, Betão, leitor voraz.
Um dia, ele me falou de um escritor americano chamado J. D. Salinger, e do seu
livro O Apanhador no Campo de Centeio.
Em 1982, eu vivia em Belém, e estava casado há dois anos. Foi
meu primeiro casamento. No lançamento do meu livro de poemas Sob o Céu Nas Nuvens, numa livraria que
ficava no centro de Belém, minha ex-mulher estava tão furiosa comigo que não
apareceu lá. Reconheço que eu era como um predador que fugiu do zoológico – ele
se esconde e ataca, e todos fogem dele, até que os bombeiros o acertam com um
dardo e o levam de volta para a jaula. Eu achava tudo uma mesmice; não
suportava nem a mim mesmo. Não deu outra: separamo-nos. E toda separação produz
um vácuo, do qual podemos nos recuperar logo, ou não; meu caso.
Só me recuperei totalmente em 1987, quando parti de Belém
para o Rio, mas acabei ficando em Brasília, por insistência do jornalista
Walmir Botelho, que me convidou para ajuda-lo na edição da capa do extinto Correio do Brasil, do qual era diretor
de Redação. Naquela época eu já estava domesticado, já não era mais um predador
em fuga; apenas continuava bebendo muito, mas muito mesmo.
Pois bem, quando me vi no vácuo, fiquei completamente
desorientado, pois no vácuo podemos ir para qualquer lado, para cima ou para
baixo, ou ficar parados, à mercê do vazio. A única coisa que me veio à cabeça
foi voltar a fazer o que fizera durante a década anterior, embora já não
tivesse a mesma ousadia dos 17 anos. Mesmo assim, tomei a estrada e fui para
Niterói, e me hospedei na casa de uma das pessoas que mais me apoiaram: o
compositor Luiz Tadeu Magalhães.
Meu ganha-pão era Sob
o Céu nas Nuvens, que eu vendia em pequenas sessões de autógrafos e em
bares. Certa tarde, senti-me feliz e saí, fui procurar uma livraria. Encontrei
uma linda livraria, com cafeteria e tudo o mais. Percorri os corredores,
observando as capas e as lombadas dos livros, até topar com O Apanhador no Campo de Centeio.
Comprei-o, escolhi uma mesa no bar e pedi uma Bohemia. Foi o Beto que me falou
também da Bohemia. Era a primeira vez que iria prová-la. Essa experiência é um
dos tesouros mais valiosos da minha alma. Obrigado, Gilberto!
Aqui em Brasília, um dos meus programas prediletos é passar
horas em livrarias. São horas intensas, e estimulantes, pois, ao ver tantos
escritores importantes, tantos livros tão bem editados, meu propósito de ser escritor
fica mais forte. A maior livraria de Brasília é a Cultura da Casa Park, um
shopping que tem até cinema de arte. Autografei lá Na Boca do Jacaré-Açu. Conta com um bom café e discoteca, além de
uma revistaria com títulos que só vemos em São Paulo e Rio.
A Fnac fica no ParkShopping. É também bastante grande. No
Pátio Brasil, no início da Avenida W3 Sul, há uma Livraria Leitura, muito
agradável, também com um bom café, e mesinhas, e, noutro espaço, poltronas.
Quando vou lá, às vezes peço um espresso, sento-me e fico ouvindo as pessoas
conversando: estrangeiros, homens velhos cantando mulheres jovens, famílias,
adolescentes cochichando, grudados nos seus celulares, todo tipo de pessoas. Já
li muito trecho de livro, lá, livros que não posso comprar no momento, mas que
tenho urgência em conhecer. E também já cochilei bastante nas poltronas da
Leitura do Pátio Brasil, no conforto dos 21 graus centígrados. Certa vez quase
li todo o romance A Noite dos Casacos
Vermelhos, de Rey Vinas.
A Leitura do Conjunto Nacional, meu shopping predileto, já
teve cafeteria; não tem mais, e não tem local para lermos. Leio em pé. A editora
LGE, que é hoje a Libri Editorial, conseguiu colocar 10 exemplares de O Casulo Exposto, lá; vendeu tudo. O
ambiente é meio silencioso e há uma variedade grande de gêneros e autores, e a saída
dela dá para um dos locais mais aprazíveis de Brasília: a praça de alimentação
do Conjunto Nacional.
Mas minha livraria favorita é a Saraiva, ao lado da
cafeteria Copenhagen, também minha predileta. Na Saraiva há sempre uma música
muito alta, geralmente rock atual, isto é, uma sequência de gritos andrógenos
em inglês, mas deixo para lá, porque a livraria conta com um espaço onde
puseram uma mesa e duas cadeiras, e o ar condicionado funciona que é uma
beleza. Assim, leio a Veja inteira,
bem como a Superinteressante, além, é
claro, de trechos de livros. De modo que só me dou conta dos cantores
andrógenos quando já estou cansado de ler. Então, procuro um local para comer,
ou então já está na hora de escafeder-se.
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