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Macapá, 1985: Klingerly, Márcio André, Linda, Marina (mãe do gênio), o gênio Olivar Cunha e Mel |
RAY CUNHA
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Tuiuiú Crucificado |
BRASÍLIA, 31 DE MARÇO
DE 2018 – Em 31 de março de 1952, João Raimundo Cunha plantava uma
seringueira no quintal da sua casa, na esquina das ruas Iracema Carvão Nunes e
Eliezer Levy, onde é hoje o Colégio Amapaense, em Macapá; anos depois, a seringueira
ficou no caminho do muro do colégio, mas foi poupada, com o desvio do muro.
Também naquele ano nascia mais um varão na família Cunha, Olivar, chamado carinhosamente pelas suas filhas, Tatiana e Taiana, de Lili. Lili completa,
hoje, 65 anos de idade, e 50 como artista plástico.
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Olivar Cunha e favela amazônica |
Ele tinha 15 anos, em 1967, quando expôs pela primeira vez,
em Macapá. É fácil encontrar a antiga aldeia dos índios tucujus no mapa: fica
no cruzamento da Linha Imaginária do Equador com o maior rio do planeta, o
Amazonas. A cidade se debruça na margem esquerda do estuário do colosso, a
cerca de 250 quilômetros do Atlântico, no setentrião brasileiro, a Amazônia
caribenha. Naquela época, eu tinha 13 anos, e já era fã do grande artista.
Hoje, são 30 exposições individuais e 35 coletivas, realizadas em diversas
cidades do país.
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Início dos anos 90: Lili, eu e Josiane, em Brasília |
Em 1967, frequentávamos a casa do poeta Isnard Brandão Lima
Filho, na Rua Mário Cruz, próximo ao Macapá Hotel: R. Peixe; o poeta e cronista
Alcy Araújo; Olivar Cunha; o poeta Rodrigues de Souza, o Galego; o pintor e
poeta Manoel Bispo; o poeta e contista Joy Edson; o compositor, poeta e
contista Fernando Canto; a poeta Alcinéa Cavalcante...
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Auto-retrato do gênio |
Nas décadas de 1970/1980, o artista mudou-se para Belém do
Pará, quando produziu algumas dezenas de telas que o colocam como um dos mais
importantes artistas plásticos contemporâneos: seus mendigos do Guamá, subúrbio
da Cidade das Mangueiras, são tão chocantes quanto a colonização do Inferno
Verde.
Depois de morar no Rio de Janeiro, onde estudou no Parque
Lage, nos anos de 1990, consolidou sua posição como um dos grandes
expressionistas contemporâneos com a série de animais agonizando no esgoto das
grandes cidades, como na impressionante acrílica sobre tela Tuiuiú Crucificado, sobre o esgoto em
que se transformou a baía de Guanabara.
O Tuiuiú Crucificado é,
talvez, o berro mais fovista, o grito mais expressionista de Olivar Cunha. Ele
a pintou em três meses, em 1992, em Jacareípe/ES. Trata-se de uma acrílica
sobre tela, em espátula e pincel, de 120 cm por 100 cm. Pertence à fase que o
pintor chama de Habitat Transform, desenvolvida no Rio de Janeiro e em Jacareípe/ES,
após pesquisa sobre a devastação da flora e da fauna do Pará, do Amapá e do
Pantanal.
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Guamá, Belém do Pará, anos 70 |
A Amazônia é recriada na espátula do pintor à base de espilantol,
o princípio ativo do jambu, indicador de que o gênio pinta, na verdade, a alma
das suas criaturas, sejam elas pessoas ou paisagens. Assim, as telas de Olivar
Cunha gritam como o coração das trevas, mas também pulsam no rio da tarde,
prenhes do perfume dos jasmineiros noturnos. O artista dá à luz a Amazônia
eternamente viva, a Hileia que só os caboclos entendem – os apreciadores de
merengue, de mapará assado na brasa servido com pirão de açaí, os que se
emocionam com o trotar da mulher amazônida no calor equatorial, o mergulho no
rio que deságua na tarde, os segredos que se encerram em Macapá, Belém,
Mosqueiro, Salinas, Caiena...
O grande artista vive hoje no paradisíaco Jacaraípe,
distrito atlântico do município de Serra, na grande Vitória/ES, onde se
consolida também como restaurador, recuperando obras sacras de igrejas da
região. A trajetória artística de Olivar Cunha é a comprovação da sua
genialidade. Vida longa ao gênio!
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