RAY CUNHA
raycunha@gmail.com
BRASÍLIA, 24 DE MARÇO
DE 2019 – A jornalista Sônia Zaghetto autografa nesta segunda-feira 25, na
biblioteca do Senado Federal, o livro História
de Oiapoque, o município mais ao norte da costa atlântica brasileira, no
estado do Amapá, Amazônia Oriental, ligado à Guiana Francesa por uma ponte que
cruza o rio Oiapoque. A edição teve apoio do senador Randolfe Rodrigues
(Rede/AP), que é professor de História. “São relatos extraordinários que o
Amapá e o mundo precisam conhecer” – declarou. O Amapá só não foi anexado pela
França porque os paraenses lutaram bravamente pela posse do setentrião, que
pertencia ao Pará, e também porque contou com a genialidade diplomática do
Barão do Rio Branco.
“A história da fronteira Brasil-França é muito rica. Ela foi
sufocada pelas mazelas que hoje atingem a Amazônia: miséria, garimpo, poluição,
abandono, danos ambientais. Minha esperança é que este livro remova a poeira do
tempo e traga de volta as histórias de um passado aventureiro e fascinante. Os
oiapoquenses devem se orgulhar de viver em um lugar extraordinário e de enorme
importância histórica” – disse a autora, que está se mudando para a Califórnia,
EUA, mas prometeu um romance ambientado na fronteira do Amapá com a Guiana
Francesa.
A PONTE – Iniciada
por iniciativa dos ex-presidentes do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, e da
França, Jacques Chirac, em 1997 a ponte foi concluída em 2011. Com 378 metros
de extensão e ao custo de R$ 70 milhões, só agora, em março corrente, começou a
funcionar no lado brasileiro, por insistência da França e a meio-pau, enquanto
no lado francês tudo ficou pronto em 2011 mesmo, quando a França concluiu toda
a estrutura viária e aduaneira, incluindo a rodovia de 200 quilômetros entre Saint
Georges de l’Oyapock a Caiene, com aquele asfalto caprichado visto nos Estados
Unidos e Europa, e não o asfalto infame do Brasil.
No Amapá, o tempo é mais lento. A BR-156, que liga Macapá a Oiapoque,
começou a ser construída na década de 1940, mas ainda há 110 quilômetros sem
asfalto, o que se transforma em um inferno de lama durante 6 meses de chuvas e
de poeira no período da estiagem. A previsão é que esses 110 quilômetros só
fiquem prontos em 3 anos. A menos que o Exército entre na jogada.
Para o Amapá, a ponte é estratégica. Com 142.814,585
quilômetros quadrados, o Amapá é potencialmente rico, mas precisa,
urgentemente, de infraestrutura básica para se desenvolver. Cortado
longitudinalmente pela BR-156, o Amapá tem potencial econômico fabuloso, como,
aliás, todos os estados da Amazônia, mas a roubalheira desenfreada; o tráfico
de drogas, mulheres e crianças; a mentalidade de colonizado do amazônida; e a
politicagem, tornam a região refém de mazelas crônicas.
Tão próximo da União Europeia e à margem do maior rio do
mundo, o Amazonas, as costas do Amapá recebem 20% da água doce superficial do
planeta e 3 milhões de toneladas de húmus por dia, ricas em manguezais e fabulosas
em vidas marinhas, embora sejam as mais mal guardadas pela Marinha de Guerra e,
também por isso, as mais disputadas pela pirataria global.
Macapá, na margem esquerda do Amazonas, a cerca de 200
quilômetros da boca do Mar Doce e seccionada pela Linha Imaginária do Equador,
conta com aeroporto internacional e dista 8 horas de navio, ou 16 horas de
barco, ou 50 minutos de avião, da Guiana Francesa, porta da União Europeia; e o
porto mais estratégico da Amazônia, o de Santana, na região metropolitana de
Macapá, com capacidade de receber navios de qualquer calado, é o porto
brasileiro simultaneamente mais próximo dos mercados americano, europeu e
asiático (via Canal do Panamá).
Mas Macapá, uma cidade com potencial turístico fabuloso, é
de um absurdo emblemático: apesar de debruçar-se à margem do maior rio do
planeta, costuma faltar água na cidade; na capital do Amapá há edifício de 20
andares, mas não há esgotamento sanitário, muito menos estação de tratamento de
esgoto; o Amapá conta com a hidrelétrica de Paredão e agora com o linhão de
Tucuruí, mas blecautes são comuns no estado, e muitas das localidades da
hiterlândia não contam com energia firme; o Amapá tem, junto com o Pará, o
maior potencial piscoso do planeta, mas sua universidade federal não oferece
curso de oceanografia, muito menos de engenharia naval, ou de pesca.
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