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A vida começa para valer quando as ruas ficam floridas de estudantes,
o trânsito, mais lento, e o ar, enfumaçado. Então Brasília rescende a café
espresso, paletó e gravata, a shopping. Em casa, preparo meu café, Três
Corações, arábica, gourmet, às 6 horas, embalado pela boa sensação de saber que
todos estão seguros no silêncio da manhã e, quem sabe, sonhem com rosas. E
também faz parte das minhas células a sensação de que no litoral a vida
permanece fovista e cheira a maresia, como na frente de Macapá, à boca do rio
Amazonas, na costa do Pará, e em Copacabana.
Sou viajante diário maravilhado, ora mergulhado na dimensão literária,
ora curtindo a cidade com os sentidos da alma. As possibilidades são muitas.
Caminhar é uma delas. Uma das caminhadas que mais me dá prazer é atravessar o
Setor Comercial Sul a partir do shopping Venâncio 2.000, onde paro em um café,
enquanto aprecio as mulheres que transitam em torno de mim, como vitrines
oníricas de prazer, e atravesso o shopping Pátio Brasil, com suas incontáveis
possibilidades nos corredores.
Clube de Autores |
O cruzamento da Avenida W3 Sul, defronte ao Pátio Brasil, é como uma
extensão do shopping. No outro lado, enfileiram-se as quadras do Setor Comercial
Sul, enfeitadas do fluxo contínuo de lindas mulheres, o que só cessa à noite.
Escolho, quase sempre, o mesmo caminho. Gosto de passar por determinada rua do
Setor Comercial Sul, onde revejo personagens que saem da minha pena, ou do
teclado do meu computador, e sigo.
É sempre prazeroso passar na frente do Conic, um complexo de
edifícios, também conhecido como Setor de Diversões Sul. Ao projetar Brasília,
Lúcio Costa a fez assim, setorizada, e somente agora esse artificialismo
começou a se desfazer. O Conic, por exemplo, está mais para shopping de
serviços do que de diversão. Atravesso o Conic respirando o ar novo da manhã,
em meio a um mundo de mulheres que voam em todas as direções, voo misterioso,
pois a beleza jamais é plenamente decifrada.
Chego ao Conjunto Nacional. As possibilidades do shopping são
infinitas. Percorro as livrarias. Sinto o prazer de folhear os livros. Almoço
no restaurante Viva Brasília!
A tarde chega como o pulsar da música de Mozart, trazendo perfume e
tênue cheiro de maresia, embora estejamos tão longe do mar. Contudo, a dimensão
da tarde, não importa aonde chegue a tarde, contém o mar. Assim, navego no rio
da tarde a bordo do transatlântico chamado Brasília.
Um excelente artigo.
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