domingo, 21 de abril de 2019

Transatlântico chamado Brasília

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A vida começa para valer quando as ruas ficam floridas de estudantes, o trânsito, mais lento, e o ar, enfumaçado. Então Brasília rescende a café espresso, paletó e gravata, a shopping. Em casa, preparo meu café, Três Corações, arábica, gourmet, às 6 horas, embalado pela boa sensação de saber que todos estão seguros no silêncio da manhã e, quem sabe, sonhem com rosas. E também faz parte das minhas células a sensação de que no litoral a vida permanece fovista e cheira a maresia, como na frente de Macapá, à boca do rio Amazonas, na costa do Pará, e em Copacabana.
Sou viajante diário maravilhado, ora mergulhado na dimensão literária, ora curtindo a cidade com os sentidos da alma. As possibilidades são muitas. Caminhar é uma delas. Uma das caminhadas que mais me dá prazer é atravessar o Setor Comercial Sul a partir do shopping Venâncio 2.000, onde paro em um café, enquanto aprecio as mulheres que transitam em torno de mim, como vitrines oníricas de prazer, e atravesso o shopping Pátio Brasil, com suas incontáveis possibilidades nos corredores.
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O cruzamento da Avenida W3 Sul, defronte ao Pátio Brasil, é como uma extensão do shopping. No outro lado, enfileiram-se as quadras do Setor Comercial Sul, enfeitadas do fluxo contínuo de lindas mulheres, o que só cessa à noite. Escolho, quase sempre, o mesmo caminho. Gosto de passar por determinada rua do Setor Comercial Sul, onde revejo personagens que saem da minha pena, ou do teclado do meu computador, e sigo.
É sempre prazeroso passar na frente do Conic, um complexo de edifícios, também conhecido como Setor de Diversões Sul. Ao projetar Brasília, Lúcio Costa a fez assim, setorizada, e somente agora esse artificialismo começou a se desfazer. O Conic, por exemplo, está mais para shopping de serviços do que de diversão. Atravesso o Conic respirando o ar novo da manhã, em meio a um mundo de mulheres que voam em todas as direções, voo misterioso, pois a beleza jamais é plenamente decifrada.
Chego ao Conjunto Nacional. As possibilidades do shopping são infinitas. Percorro as livrarias. Sinto o prazer de folhear os livros. Almoço no restaurante Viva Brasília!
A tarde chega como o pulsar da música de Mozart, trazendo perfume e tênue cheiro de maresia, embora estejamos tão longe do mar. Contudo, a dimensão da tarde, não importa aonde chegue a tarde, contém o mar. Assim, navego no rio da tarde a bordo do transatlântico chamado Brasília.

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