Se uma criança quer ficar triste, alegro-a, pois posso até voar! Sério! |
A cidade pulsa ao calor. Há dias de vento forte, e chove. Assim
é dezembro. Lemos, nas mentes das pessoas, que depositarão novamente todas as
suas esperanças no primeiro dia do novo ano, pois isso já está assegurado,
porque a vida renasce todos os instantes, para o que precisamos apenas ofertar
rosas para a madrugada.
Dezembro traz toda a magia da vida, até para os que se
julgam perdidos na noite dos danados; basta ouvir o riso dos pequeninos para
que surja o sol nos jardins do mundo. Não importa quanto mal tenhamos praticado;
quando sentimos o perdão, todas as correntes se partem e descobrimos que é
fácil voar.
Abrirei, como sempre faço, meu relicário, e ofertarei todas
as pedras preciosas que reuni em toda a minha vida, focos de luz que só vemos com
o coração, esmeraldas, rubis, diamantes e silêncio.
Em dezembro, brota uma flor nos olhos da mulher amada, as
manhãs são redentoras, as tardes escoam como rios amazônicos e as noites são
navios grandes e bem iluminados.
Sou o apanhador no campo de centeio. Estou aqui, de vigília;
as crianças brincam. Estou atento. Se a bola cai longe, vou apanhá-la e a
devolvo para as crianças. Se uma delas se machuca, consolo-a, e quando sentem
fome, alimento-as, e se alguma delas quer ficar triste, alegro-a, pois posso
até voar.
E assim vão-se os dias, embalados pelo azul. O Natal bate à
porta do meu coração, e virá o novo ano, em voo vertiginoso como o primeiro
beijo. As madrugadas, as noites tórridas da Amazônia, o choro dos jasmineiros, o
Atlântico, abrem-se na minha vida em veredas de zínias e rosas colombianas,
vermelhas. E isso é tudo o que eu quero.
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