A atriz inglesa Claire Foy na pele de Lisbeth Salander |
BRASÍLIA, 4 DE
FEVEREIRO DE 2020 – Acredito que os livros clássicos são os que moldaram a
literatura, tal como hoje a conhecemos, além de mergulharem na condição humana,
o que os tornam atemporais, e de utilizarem as palavras como bisturis de luz. E
há também os livros revolucionários, aqueles que oxigenam a literatura, como o
fez Ernest Hemingway com O Sol Também se
Levanta, em 1926, só para citar um exemplo. Esse livro afetou meio mundo em
todo o planeta, especialmente nos Estados Unidos, onde havia um puritanismo do
caraca.
Mas, além dos fatores citados, há ainda uma outra coisa que
alça alguns autores a ídolos como os de rock, incensados e bajulados. Quando
Hemingway estava no auge da fama, vendendo como poucos e badalando no jet set
internacional, havia uma razão para isso; talvez duas. Principalmente O Sol Também se Levanta, Adeus às Armas e Por Quem os Sinos Dobram eram livros que retratavam fielmente a
época em que foram publicados.
Assim é com autores como Stieg Larsson e David Lagercrantz,
que criaram personagens pós-modernos. Hackers, espiões, mafiosos, intrigas
políticas capazes de abalar governos ou de provocar uma terceira guerra
mundial, psicopatas que agem como hienas, mulheres tão extraordinárias que são
capazes de humilhar o mais empedernido machão, furtos no mundo das finanças de
deixar bilionários de cabelos em pé, manipulação genética e informática de
ponta.
Larsson, nascido em 15 de agosto de 1954 e morto em 9 de
novembro de 2004, foi um dos mais influentes jornalistas suecos. Aos 50 anos de
idade, Larsson subia os sete lances de escada até o seu escritório na revista Expo, que fundou, pois o elevador estava
quebrado, quando morreu de ataque cardíaco. Mas, na véspera, ele havia deixado
com seu editor uma trilogia policial, a Série Millennium, que se tornou um
estrondoso sucesso de crítica e de público em todo o mundo.
Em 2008, foi publicado Os
Homens que Não Amavam as Mulheres; e, em 2009, A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. Em 2013, o escritor sueco David
Lagercrantz foi convidado pela editora Norstedts a escrever mais três livros,
envolvendo as mesmas personagens. Assim, em 2015, saiu o quarto volume, A Garota na Teia de Aranha. Em 2017, saiu
O Homem que Buscava a sua Sombra, e,
em 2019, A Garota Marcada para Morrer.
Alguns dos livros foram adaptados para o cinema, que recriou
a personagem principal, a hacker Lisbeth Salander. Talvez o melhor
qualificativo para Salander seja “apaixonante”. “Maravilhosa” também pega bem.
Mas o fato é que ela é uma justiceira definitiva. Como hacker, está acima de
gênio: é uma deusa. E é aquele tipo de mulher que somente homens de verdade
conseguem se aproximar dela. Machões, principalmente do tipo covarde, que gosta
de torturar mulheres, perdem os bagos. E já disse, em outro artigo, que
Salander é o tipo de mulher que dá prazer na gente fazer um café na cozinha,
servi-lo, só para bater papo com ela, mesmo que ela não fale muito.
Há também uma personagem masculina que enobrece a profissão
de jornalista, Mikael Blomkvist, diretor da revista Millenium, que detesta o abuso de poder. No final das contas, a
saga é uma crítica social da Suécia, com o fim da liberdade individual imposto
pela tecnologia e a violência contra as mulheres, que continuam sendo tratadas
como boas apenas para sexo. Os seis volumes já venderam 100 milhões de
exemplares mundo afora, é sucesso de bilheteria no cinema e na televisão, e já
foi até para os quadrinhos. David Lagercrantz declarou à agência France Presse:
“Estou convencido de que Lisbeth é imortal e que continuará vivendo de uma
forma, ou de outra, na televisão, no cinema, ou em outros livros”.
Os três livros de Stieg Larsson são de mais de 500 páginas
cada um, mas a gente os lê quase de um fôlego, de tão bons. Lagercrantz pega
mais leve, mas nem por isso perde o ritmo. Em A Garota Marcada para Morrer, Lagercrantz põem fim à série, e deixa
Salander, que tinha tudo para morrer, viva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário