Eu, de quarentena, no meu quarto (31-03-2020) |
RAY CUNHA
Os dias desfilam à minha frente com lentidão mortal
Tento sair deles movido pelo desespero dos afogados
Mas o mar é um abismo de eternidade
Penetrando minhas células, ocupando meu DNA, como líquido
metal
São dias de espera, de mortos nas esquinas
Pesadelos no umbral, o horror
Terrorista à espreita, arma biológica
A morte que vem da China
Se é noite, há a Lua e estrelas, e o Sol, se é dia
Mas com sons sem origem, em meio ao nada
Como se a vida ainda não existisse
Sinto a angústia se avolumar, se transformar no próprio
Universo
Mas percebo que isso se passa apenas na minha alma
Como um danado que não morre de vírus, mas de quarentena
Brasília, 3 de abril de 2020
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