O atual prefeito de Belém do Pará, Zenaldo Coutinho, então deputado federal pelo PSDB e aspirante a prefeito da Cidade das Mangueiras, me recebeu no seu gabinete no Anexo IV da Câmara dos Deputados na manhã de 14 de fevereiro de 2012, uma terça-feira, para entrevista, publicada no meu site (raycunha.com.br), em 26 de fevereiro de 2012, sob o título: “Belém precisa voltar a ser a capital da Amazônia”.
Com base nas declarações e
promessas de Zenaldo Coutinho, agora que ele conclui oito anos à frente da
Prefeitura da Metrópole da Amazônia, é possível responder à pergunta: Belém é
ingovernável ou Zenaldo Coutinho não deu conta do recado? Tirem as suas
conclusões. Segue o texto da entrevista.
Fundada em 12 de janeiro de 1616,
Belém, a capital do estado do Pará, é a mais importante cidade da Amazônia. Um
mergulho na história e na cultura da Amazônia Clássica, a análise da geografia
do Trópico Úmido e um estudo geopolítico do Mundo das Águas confirmará isso.
À noite, lembra um óvni pairando
sobre a baía de Guajará. O município, com 1.064,918 quilômetros quadrados, é
integrado ainda por 38 ilhas habitadas, tem cerca de 1,5 milhão de habitantes
(IBGE/2010) e sua região metropolitana já conta em torno de 2,1 milhões de
habitantes. Os dois últimos prefeitos dessa cidade ensolarada foram
desastrosos. Edmilson Rodrigues (então
petista e hoje deputado federal pelo Psol), 55 anos, foi prefeito de 1997 a
2004 (disputa o segundo turno, agora em 2020, contra o delegado Eguchi, da
Polícia Federal). Só não foi pior do que a ex-governadora do Pará, a petista
Ana Júlia Carepa, porque isso é impossível, mas foi substituído por um quase
Ana Júlia Carepa: Duciomar Costa, 57 anos, do PTB, que esquenta (ou esfria) a
poltrona de prefeito desde 2005. Hoje, a Metrópole da Amazônia é uma sombra do
que foi. Por isso, a Cidade Morena precisa de um prefeito, talentoso, que a
entenda.
Entre os vários pré-candidatos,
um se destaca pelo seu preparo, não só sobre Belém, mas também sobre a chamada
questão amazônica. Zenaldo Rodrigues Coutinho Júnior, 51 anos, jovem advogado
no quarto mandato de deputado federal pelo PSDB, foi quem liderou o não à
divisão do estado do Pará em três, e agora coleta assinaturas para a formação
da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia. A Amazônia, diga-se, continua
sendo vista, criminosamente, como celeiro e pulmão do mundo, e a massa da sua
população, de 25 milhões de habitantes, é cada vez mais espoliada por uma elite
que passa por cima da própria mãe para morder dinheiro.
A questão é: a energia elétrica
gerada na Hileia e a produção mineral no Trópico Úmido precisa enriquecer
também o amazônida, proibido até de abater jacaré, que dá no meio da canela, e
come também canela. A grande imprensa vê uma Amazônia mitológica, por
jornalistas descredenciados, em nível mundial, mas principalmente no Brasil, e,
especialmente, em Brasília, a Ilha da Fantasia; e, pasmem, por desinteligência
na própria Amazônia. Por isso é que a Amazônia precisa ser divulgada tal qual
ela é, para que os amazônidas se livrem do pensamento de colonizado, a síndrome
do vira-lata.
O principal problema de Belém
seria rede de esgoto e de galerias de águas pluviais defasadas?
O principal problema de Belém é
ausência de autoridade. Nós temos um conjunto de problemas que decorrem da
falta de ação; muitas vezes, da absoluta inoperância da administração
municipal, o que resulta em situações dramáticas. Belém é uma das capitais com
menor índice de esgotamento sanitário do país, temos trânsito caótico, serviço
de saúde ineficaz, insignificante, sistema educacional irrisório. Precisamos
modernizar, aparelhar, equipar e ampliar a rede municipal de ensino
fundamental, da mesma forma que temos que ampliar os serviços de saúde. As
pessoas estão padecendo muito em Belém. Além da ausência de autoridade, há
ainda falta de carinho para com a população. Belém precisa ser vista como
extensão das casas de todos. Belém já foi a metrópole da Amazônia, e tem que
voltar a sê-lo.
O senhor pensa Belém como um
arquipélago?
Belém é a única
capital-arquipélago do país, mas, nela, o transporte público fluvial é
subutilizado. Implementar o transporte público fluvial já foi tentado, mas não
logrou êxito. Creio que por não ser um serviço de excelência, com garantia de
segurança e rapidez, como, por exemplo, a Rio-Niterói, com barcaças, catamarãs
etc. É necessário que tenhamos um olhar sobre Belém de modo a não vê-la apenas
como continente, mas uma cidade que tem 38 ilhas povoadas e onde há pessoas, portanto,
com necessidade de transporte. Obviamente esse não é o grande nó do trânsito
belenense, mas, resolvido, ajudará a desafogar o trânsito. Icoaraci, por
exemplo, pode abrigar um porto rodo-fluvial.
Belém é historicamente a
cidade mais importante da Amazônia, mas seu patrimônio arquitetônico está se
deteriorando.
Isso é gravíssimo, e se soma ao
desleixo, falta de carinho, de atenção da autoridade para com tudo aquilo que é
de todos. Repito: a cidade tem que ser vista como nossa casa. Jogamos lixo no
chão da nossa casa? A cidade precisa do sentimento coletivo de respeito, de
carinho.
Belém é a Cidade das
Mangueiras; seu subúrbio o é também?
Antônio Lemos (prefeito de Belém,
no fim do século XIV e início do século XX) foi o responsável pela plantação
das mangueiras, que é uma árvore exótica na Amazônia, originária da Índia.
Particularmente, defendo os corredores de mangueiras, mas também uma variação
da nossa arborização, as essências amazônicas, estendidas também para os
bairros periféricos de Belém, que precisa, como um todo, de mais arborização e
jardinagem.
E as portas para o rio?
O turismo em Belém é incipiente.
Precisamos de uma ação muito forte voltada para o turismo. Temos muito mais
opções do que Manaus. Em Belém, além da floresta e da história, temos praias de
rio e de mar, e Marajó, pertinho. Temos que estar antenados com a questão
turística.
Que nota o senhor dá para os 7
anos da atual administração municipal?
Eu prefiro aguardar a nota que a
população vai dar em outubro.
Caso o senhor seja efetivado
como candidato e se eleja prefeito qual será sua linha de atuação?
Já estou trabalhando em um
projeto, ousado, moderno, corajoso, por uma Belém que faça justiça à
comemoração dos seus 400 anos, o que ocorrerá na próxima administração.
Falta financiamento para a
reforma estrutural de Belém?
Financiamento se consegue; o que
falta é estabelecer prioridades. Agora mesmo há um embate, desnecessário, da
prefeitura com o governo do estado, que, há 20 anos, desenvolve um projeto, com
os japoneses, com visão metropolitana, porque ele leva o ônibus expresso de
Marituba até o centro de Belém, com investimento de US$ 320 milhões, já
garantidos, assegurados, assinados, e a prefeitura tem um outro projeto, de
Icoaraci até São Brás. Pretende-se que a prefeitura chegue até só o
Entroncamento, para que não haja sobreposição de projetos, até porque os
japoneses só financiam se houver apenas um executor da obra. Essas ações de
integração são fundamentais, daí porque é importante a harmonia entre a
prefeitura e o governo do estado, pois o administrador público não deve ficar
isolado, o que inclui um diálogo eficiente com todos os mecanismos de
financiamento.
O senhor liderou a campanha
pela não divisão do Pará. Por quê?
Em defesa do nosso estado, da
população. Durante muitos anos, aqui no Congresso, briguei para que houvesse
estudos que antecedessem a consulta popular, sobre os impactos sociais,
econômicos, tributários, ambientais, que analisassem as consequências na vida
das pessoas em cada região a respeito de uma possível divisão. Infelizmente,
foi um discurso para surdos. No caso de Belém, todos os estudos preliminares
que havia, incluindo o da Universidade Federal do Pará, apontavam para o
empobrecimento das três regiões. Teríamos implemento de despesas sem implemento
de receitas. Teríamos que dividir o pouco que o estado do Pará já recebe, e
teríamos o ônus de ter três assembleias legislativas, três palácios de governo,
ou seja, teríamos uma elite usufruindo das estruturas de poder e uma população
empobrecida e sem políticas públicas. Isso ensejou a nossa participação ativa,
aqui no Congresso, e, posteriormente, na campanha pelo não no plebiscito.
Graças a Deus, dois terços da população disseram não à divisão do Pará.
Que avaliação o senhor faz do
governo Dilma Rousseff?
A presidente Dilma tem acertado
em adotar uma série de modelos que nós, do PSDB, legamos, como a questão da
privatização. Os petistas transformaram em demônio a questão das privatizações,
mas agora o próprio governo federal, através da presidente Dilma, reconhece que
se trata de um modelo que dá mais eficácia na gestão dos serviços públicos, se
o modelo for aplicado de maneira adequada, como o foi na telefonia, quando nós
o aplicamos. Eu me lembro que antes que o PSDB privatizasse a telefonia, telefone
era tão caro que era declarado no Imposto de Renda. Hoje em dia, todos os
brasileiros que quiserem têm acesso a telefone, graças à privatização. Também o
Brasil se mantém equilibrado, mesmo com a crise internacional, graças aos
fundamentos da macroeconomia brasileira deixados pelo governo do PSDB, como é o
caso da Responsabilidade Fiscal, que foi um item extremamente criticado pelo
PT, na época em que nós o adotamos, e hoje é modelo até na Europa, no combate à
crise europeia. Ainda, o governo petista mantém o Plano Real, o maior
instrumento de justiça social estabelecido no país. Mas, apesar de pouco mais
de um ano de governo, sete ministros caíram flagrados em corrupção, o que é
muito grave. E precisamos agilizar as obras nacionais, que estão muito vagarosas,
especialmente as do chamado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que
estão empacadas. Temos que agilizar isso. Nós, da oposição, estamos
fiscalizando para que as coisas efetivamente aconteçam.
Se o PT lê a cartilha do PSDB, por que os tucanos não conseguem voltar para ao Palácio do Planalto?
Porque existe transição democrática. Nós passamos oito anos no poder e o PT está caminhando para os doze anos, mas em muitos estados, de norte a sul, o PSDB está no poder. A democracia é, portanto, um processo natural, legítimo. Mas os partidos têm que viver, sempre, na busca da realização dos seus projetos, buscando eficiência, eficácia para melhorar a qualidade de vida da população, o que quer dizer que o projeto de poder não é um projeto de poder pelo poder, e também não quer dizer que se o partido não está naquele momento no poder ele está liquidado. Nós podemos exercer o poder no governo e na oposição. Aquele que está no governo exerce o poder do fazer e o que está na oposição exerce o poder político da pressão, do monitoramento, da fiscalização, da cobrança, para que os projetos públicos aconteçam. Nenhuma dessas duas posições é inadequada. A democracia só persiste porque existem essas posições diferentes. O importante é que o PSDB tem lutado a favor do Brasil, e continuaremos a nossa caminhada. Temos já o nosso pré-candidato a presidente da República, Aécio Neves, que foi grande governador de Minas Gerais e é senador respeitado. Estamos construindo um diálogo com a população para voltar à presidência da República.
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