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Enquanto nos salões do Hotel Caranã são servidos pratos da mais saborosa culinária do planeta, a paraense, o oceanógrafo, arqueólogo, taxidermista e jornalista João do Bailique, editor da revista Trópico Úmido, e sua esposa, a chefe de cozinha e oceanógrafa Danielle Silvestre Castro, dona do Hotel Caranã, estão à caça do traficante de crianças e de grude de gurijuba Jules Adolphe Lunier.
João do Bailique trabalha uma edição especial sobre a Hileia, além de investigar o tráfico de crianças e mulheres para escravidão sexual, enquanto, no mesmo plano de ação, como no cinema, quando se alinha numa sequência o primeiro e o segundo planos, a Amazônia profunda está presente, completamente nua, e a Bacia Amazônia se espraia em vários planos, inclusive o espiritual e o dos extra terrestres e objetos voadores não identificados.
É essa nudez que torna JAMBU um trabalho também ensaístico. Personagens de ficção convivem com pessoas reais, mortas e vivas, como, por exemplo, o filósofo japonês Masaharu Taniguchi; o escritor, astrofísico e médium Laércio Fonseca; o escritor, psicanalista e acupunturista Jorge Bessa; a cantora lírica Marina Monarcha; o compositor belenense Waldemar Henrique; e o pintor genial Olivar Cunha, para citar alguns.
Essas personagens, fictícias ou reais, transitam nas ruas da cidade mais emblemática da Amazônia, onde índios, negros, descendentes de europeus, mulatos, mamelucos e cafuzos se amalgamam em um cadinho étnico, línguístico e culinário.
E como a paisagem do romance é a Amazônia nua, seus mistérios vão se revelando, desde a trágica luta intestina entre colonos e colonizados aos tesouros sem preço que o Trópico Úmido guarda nas suas vísceras, um deles, a água. Um dos veios desse tesouro é o rio Hamza. Segue trecho de JAMBU.
“Santarém é a maior cidade do Baixo Amazonas, no oeste do Pará, à margem direita do rio Tapajós, de águas cristalinas, com mais de 100 quilômetros de praias, e que desemboca no Amazonas na frente da cidade, conhecida também como Pérola do Tapajós, fundada em 22 de junho de 1661. Suas praias são famosas, especialmente na vila de Alter do Chão, a 40 quilômetros do centro de Santarém, e que, segundo o jornal inglês The Guardian, é a praia de água doce mais bonita do mundo, palco de uma manifestação folclórica, a Festa do Sairé, que atrai, em setembro, mais de 100 mil turistas. O termo Santarém é uma homenagem à cidade portuguesa homônima, situada numa região vinícola, e remete a uma espécie de uva, mas pode também derivar de Santa Irene, mártir cristã de Portugal.
“Em 1626, Pedro Teixeira, fundador de Belém, frei Cristóvão, 26 soldados e uma grande quantidade de índios, exploravam o rio Amazonas quando encontraram uma aldeia na foz do rio Tapajós, e atracaram ali. Os espanhóis já haviam feito contato com aqueles índios. De lá, Pedro Teixeira subiu o Tapajós, deixando aos jesuítas a incumbência da fundação de uma aldeia naquele lugar, onde o padre Antônio Vieira esteve, em 1659. Em 22 de junho de 1661, o padre João Felipe Bettendorff deu o nome para a localidade de Aldeia dos Tapajós, e construiu a capela de Nossa Senhora da Conceição.
“Em 1697, os portugueses construíram ali uma fortaleza, e em 14 de março de 1758, a Aldeia dos Tapajós foi elevada, pelo governador da Província do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, à categoria de Vila de Santarém, que, em 24 de outubro de 1848, foi elevada à categoria de cidade. Hoje, o Porto de Santarém possui capacidade de receber navios de até 16 metros de calado. Além de aeroporto, a cidade conta ainda com a rodovia Santarém-Cuiabá, a BR-163, de 1.865 quilômetros.
“Mas a grande riqueza da cidade é o Aquífero Alter do Chão. Localizado sob os estados do Pará, Amapá e Amazonas, é o maior do planeta, com 86,4 trilhões de metros cúbicos, ou 86 mil quilômetros cúbicos de água, contra 45 mil quilômetros cúbicos do Aquífero Guarani, no subsolo do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, medindo 1,2 milhão de quilômetros quadrados.
“E tem o rio Hamza” – pensou Bailique. Esse rio subterrâneo foi descoberto pelo pesquisador Valiya Hamza, após análise de 241 poços de petróleo desativados da Petrobrás, perfurados entre 1970 e 1980, fruto do trabalho de doutorado da pesquisadora Elizabeth Tavares Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas, coordenado por Hamza. O trabalho dá conta de que existe uma grande movimentação de água a 4 mil metros sob a superfície de oeste para leste sob a bacia do rio Solimões-Amazonas e a ilha de Marajó, desaguando no oceano Atlântico, sob a foz do rio Amazonas, com vazão de 3.090 metros cúbicos por segundo, 40 vezes menor que a do Amazonas.
“O aquífero ainda é um mistério, mas os pesquisadores afirmam que sua nascente fica no estado do Acre e percorre 6 mil quilômetros até o Atlântico, com a distância entre uma margem e outra de 200 a 400 quilômetros. Foi constatada uma grande movimentação de água a 4 mil metros abaixo da superfície de oeste para leste sob as bacias do rio Solimões/Amazonas e a ilha de Marajó, desaguando nas profundezas do oceano Atlântico, sob a foz do rio Amazonas.
“Para alguns pesquisadores, o Hamza, que começou a ser formado no Cretáceo, há 135 milhões de anos, é um aquífero; mas não para Valiya Hamza. “Não é um aquífero, que é uma reserva de água sem movimentação. Nós percebemos movimentação de água, ainda que lenta, pelos sedimentos. A velocidade de curso do Hamza é menor também, porque o fluxo de água tem que vencer as rochas existentes há 4 mil metros de profundidade. Enquanto o Amazonas corre a 2 metros por segundo, a velocidade do fluxo subterrâneo é de 100 metros por ano. Contudo, ainda vamos determinar a velocidade exata do curso da água” – afirmou ao jornal O Globo.
“Alimentado pela infiltração das águas dos rios da bacia amazônica e das chuvas, suas águas correm por via subterrânea a uma velocidade de 10 a 100 metros por ano. Apesar de ser um rio subterrâneo, sua vazão é maior que a do rio São Francisco, no Sudeste e Nordeste. Enquanto o Hamza tem vazão de 3,1 mil metros cúbicos por segundo, a do rio São Francisco é 2,7 mil metros cúbicos por segundo. Estima-se que o Hamza contenha pelo menos 160 trilhões de metros cúbicos de água, 3,5 vezes maior que o Aquífero Guarani, ou mais de 80% de toda a água da Amazônia. Já a água dos rios amazônicos representa apenas 8% do sistema hidrológico da região, o mesmo percentual das águas atmosféricas da Hileia.”
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