RAY CUNHA
BRASÍLIA, 1 DE ABRIL DE 2021 – A Lava Jato foi enterrada com cal pelo Supremo (STF), embora um sainete cinematográfico possa surpreender a todos. Jair Bolsonaro revela-se excelente enxadrista político. Seus 28 anos de Câmara dos Deputados e seu serviço pessoal de inteligência são o que o mantêm no Palácio do Planalto. Até os cachorros sabem que o plano é desmoralizá-lo e prendê-lo, e pôr de volta ao palácio um antigo inquilino, a quem já deram asas novas, para que nasça a Ibero-América sino-cubano-bolivariana.
Aqui em Brasília é outono. De madrugada, faz frio.
Levanto-me às 4. O tempo é um rio de planície. Às madrugadas ofertamos rosas. As
manhãs são luminosas, e, embora nas ruas circulem pessoas de máscara, a brisa
perpassa as alamedas do Sudoeste como revoada de pequenos pássaros e a alegria
insinua-se no ar.
Os carcarás continuam nos ninhos. Logo teremos uma nova geração
dessas majestosas aves, que andam aos bandos no Sudoeste, no Parque da Cidade e
no Cruzeiro. A inflação está ascendente, pois os empresários estão impedidos de
abrirem as portas e os trabalhadores de trabalhar. Muitos morrem de fome. Furtaram
bilhões de reais destinados à infraestrutura contra o vírus chinês. O lockdown
é como um campo de concentração.
Os estudantes sumiram das ruas, as repartições públicas dos
três poderes estão desertas. Há ditadura no ar. Já tentaram matar o presidente
antes mesmo de ele ser presidente; quase o transfixam com uma peixeira. Prenderam
em flagrante quem tentou matá-lo, mas a Polícia Federal não descobriu quem foi
o mandante e a Justiça bateu o martelo: quem tentou matar Bolsonaro agiu por
conta própria e é doido.
Estou só comigo mesmo. Gosto da minha companhia. De manhã, costumo caminhar no Parque da Cidade. No resto do tempo conto com dezenas de livros para ler. Estão na fila. Escrevo e leio. Antes da pandemia, batia perna. Livrarias, cafés, bate-papo, cinema. Agora, muitos dos meus amigos estão ocupadíssimos festejando a absolvição de Lula e em defender a democracia hienídea em Cuba e na Venezuela. Quase não saio do meu escritório, onde escrevo, e do meu quarto, onde leio.
Bolsonaro que se cuide. Brasília é um três por quatro do país. Está em chamas.
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