Roberto Carlos e Ray Cunha em Manaus - junho de 1976
Olivar Cunha e Santa Rita de Cássia, em Conduru/ES |
No pavimento superior, foi criado o Cantinho do Artesão, sede da Associação dos Artesãos de Cachoeiro de Itapemirim, onde se pode comprar produtos artesanais em pedra, contas, madeira e tecido, além de doces, pães e compotas. O museu, que ajuda a resgatar a história do mais conhecido artista pop do Brasil, é frequentado por milhares de fãs, turistas e curiosos, o ano inteiro.
Em 2013, foi inaugurado o Corredor Cultural Roberto Carlos, que consistiu na revitalização da ladeira onde Roberto brincava de carrinho de rolimã em frente à casa. As calçadas foram reformadas em granito avermelhado, um dos maiores produtos de exportação de Cachoeiro. E em 2015, a praça Pedro Cuevas Júnior, que integra o Corredor Cultural Roberto Carlos, recebeu uma estátua do cantor, em mármore branco, esculpida pela artista plástica Angela Borelli.
Em 2009, Roberto visitou a casa durante uma turnê em celebração aos seus 50 anos de carreira. Disse, então, que pensava ampliar o acervo com objetos que marcaram a história da Jovem Guarda. Comenta-se, em Cachoeiro, que aqui e ali Roberto sai do Rio de Janeiro e vai até Cachoeiro, anonimamente. Sobrevoa a cidade de helicóptero e percorre-a de automóvel. Acredita-se que ainda este ano, ou em 2022, ele doará ao museu um grande acervo.
Três dos nomes mais ilustres de Cachoeiro são Roberto Carlos; o maior cronista brasileiro, Rubem Braga; e Santa Rita de Cássia, que nasceu em Margherita Lotti, Roccaporena, Itália, em 1381, e morreu em Cássia, Úmbria, Itália, em 22 de maio de 1457. Freira agostiniana da diocese de Espoleto, Itália, foi beatificada em 1627 e canonizada em 1900 pela Igreja Católica. É a Santa da Rosa, a advogada das causas perdidas, a santa do impossível e protetora das mães e esposas que sofrem maus-tratos dos maridos. Seu corpo, incorrupto, é venerado hoje no santuário de Cássia.
Rubem Braga é o Sabiá da Crônica e Roberto, o quarto e último filho do relojoeiro Robertino Braga (1896-1980) e da costureira Laura Moreira Braga (1914-2010), conhecido, quando criança, como Zunga. Aos 6 anos, no dia da Festa de São Pedro, padroeiro de Cachoeiro, brincando sobre a linha férrea, Roberto foi acidentado por uma locomotiva e sofreu fratura em sua perna direita. Foi levado ao Rio, onde sofreu a amputação da perna, um pouco abaixo do joelho. Até hoje usa prótese.
Começou a tocar violão e piano ainda criança, ensinado por sua mãe e depois no Conservatório Musical de Cachoeiro de Itapemirim. Sonhava, então, ser arquiteto (hoje, é dono de construtora), caminhoneiro (há muitos em Cachoeiro, principalmente transportando mármore e granito), aviador ou médico, mas sua genialidade (criatividade e timbre de voz) estava na música.
Incentivado pela mãe, Roberto cantou pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro, aos 9 anos, o bolero Amor y más amor. Primeiro lugar. O prêmio foram balas. “Eu estava muito nervoso, mas muito contente de cantar no rádio. Ganhei um punhado de balas, que era como o programa premiava as crianças que lá se apresentavam. Foi um dia lindo” – recorda-se. A partir daí, todos os domingos, lá estava Roberto na rádio.
Em meados dos anos 1950, Roberto se muda para o Rio, onde começa a escutar rock and roll: Elvis Presley, Bill Haley, Little Richard, Gene Vincent, Chuck Berry. Em 1957, seu colega de escola Arlênio Lívio Gomes levou Roberto para conhecer um grupo de amigos que se reunia na Rua do Matoso e no Bar Divino, na Rua Haddock Lobo, na Tijuca. A Turma do Matoso era integrada por Sebastião Maia, que depois se tornaria famoso como Tim Maia, Edson Trindade, José Roberto China e Wellington Oliveira. Não deu outra. Roberto formou com eles seu primeiro conjunto musical, The Sputniks. Em 1958, Roberto conheceu Erasmo Carlos.
Depois de muito pelejar, os Sputniks conseguiram uma apresentação no programa Clube do Rock, na TV Tupi, apresentado por Carlos Imperial. Após a apresentação, Roberto conseguiu falar com Imperial e agendar uma participação solo no programa. Sebastião Maia descobriu e achou que aquilo era uma traição, discutiu com Roberto e Roberto caiu fora dos Sputniks; foi procurar outro foguete. O grupo não aguentou sem Roberto e se desfez. Edson Trindade, Arlênio, China e Erasmo Carlos formaram The Snakes.
Roberto continuou a se apresentar no Clube do Rock, onde Imperial o apresentava como o Elvis Presley brasileiro e Tim Maia como o Little Richard brasileiro, e começou a cantar na boate do Hotel Plaza, em Copacabana, samba-canção e bossa nova, acompanhado pelos Snakes, que também acompanhavam Tim Maia.
Em 1959, Roberto conseguiu gravar João e Maria e Fora do Tom, um compacto simples no qual imitava João Gilberto, e, em 1961, lançava seu primeiro álbum, Louco Por Você, com a maioria das canções composta por Carlos Imperial. Em novembro de 1963, lançou seu segundo álbum, Splish Splash, versão de Roberto e Erasmo Carlos para gravação de Bobby Darin. Mas o disco já trazia canções como Parei na Contramão. Em 1964, Roberto explodia com o álbum É Proibido Fumar.
Em 1968, Roberto primeiro venceu o Festival de San Remo, Itália, com Canzone Per Te, de Sergio Endrigo e Sergio Bardotti. De 1961 a 1998, Roberto lançou um disco inédito por ano e estrelou três filmes: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968), Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa (1970) e Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora (1971). É o artista com mais álbuns vendidos na história da música popular brasileira: mais de 140 milhões de cópias, em todo o mundo, e é chamado por Rei.
Estive com Roberto uma única vez, em junho de 1976, em Manaus. Roberto é 14 anos mais velho do que eu. Na época, eu estava com 21 anos e Roberto com 35. Assinava a coluna No Mundo da Arte no jornal A Notícia e fui entrevistá-lo no Hotel Amazonas, no centro de Manaus. O Rei fora fazer um show de aniversário de quatro anos da TV Baré, no Olímpico Clube, no dia 4 de junho.
No fim da entrevista, Roberto posou comigo para uma foto. Ele é mais alto do que eu; mede 1,70 metro e eu, 1,64. É um cara com quem entabulamos conversa muito facilmente. Suas repostas fluem naturalmente. Já entrevistei artistas de respostas labirínticas e o tempo todo drogados. Roberto é natural, e, pelo que leio e vejo na mídia, creio que 45 anos depois ele continua como naquele dia.
Uma coisa é certa, ele continua compondo e gravando, por uma razão simples: os gênios só param quando morrem. E quando falo morrer, quero dizer desencarnar, porque a vida continua em outro plano; neste, Roberto já mergulhou no éter e sente o cheiro do azul, entrou naquele momento da sua vida cármica em que só há paz, a música suave que vem das estrelas.
Com a Wikipédia
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