Bolsonaro no programa de Sikêra Jr., da TV A Crítica, em Manaus: tudo pelo povo
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 3 DE MAIO DE 2021 – No dia 23 de abril, em
Manaus, o presidente Jair Bolsonaro participou do programa do apresentador
Sikêra Jr., da TV A Crítica.
– Nós investimos pesado para segurar empregos. Nós terminamos
dezembro de 2020 com mais empregados do que dezembro de 2019. Foram criados 600
mil novos empregos, mas temos uma massa que perdeu o ganha pão, em torno de 40
milhões de pessoas; para esse pessoal voltar ao mercado tem que parar de fechar
tudo. Desde março do ano passado eu falei que se fechar tudo vai ser o caos. O
auxílio emergencial acaba daqui a três meses. Se continuar fechando tudo, vamos
ter problemas pela frente – disse Bolsonaro.
Sikêra perguntou se Bolsonaro pensa em uma ação mais
enérgica contra as medidas restritivas impostas por governadores e prefeitos contra
a população e respaldadas pelo Supremo.
– O pessoal fala no Artigo 142 (da Constituição) e ele é
pela manutenção da lei e da ordem, não é para a gente intervir. Para o que eu
me preparo: caos no Brasil. Essa política de quarentena, lockdown e toque de
recolher é um absurdo! Se tivermos problemas, nós temos um plano de entrar em
campo. Nossas forças armadas, se precisar, iremos às ruas não para manter o
povo dentro de casa. Eu não posso extrapolar. Estou com meus 23 ministros
conversados sobre o que fazer caso o caos seja implantado no Brasil pela fome.
O caldo só não entornou no ano passado em função do auxílio emergencial. É
fácil falar em manter os 600 reais. O Brasil não pode quebrar. Nós temos
responsabilidade e eu sempre disse que tínhamos dois problemas pela frente: o
vírus e o desemprego. Se tivermos problemas sérios, pode ter certeza que vamos
entrar em campo para resolver o assunto.
Sábado, 1 de maio, milhões de pessoas foram às ruas pelo
Artigo 142 e avisando: não mexam com o presidente Jair Messias Bolsonaro, a
quem quase matam, deixando-o com uma cicatriz gigantesca na barriga, e a quem
vêm tentando desmoralizar, destituir do cargo e prender. Desde 1 de janeiro de
2019 que Bolsonaro não deixa roubar.
A CPI da Covid-19, ou da Pandemia, ou do Coronavírus, ou do
Vírus Chinês, ou do Despautério, criada em 13 de abril e instalada no Senado
Federal em 27 de abril, investiga supostas omissões e irregularidades nos
gastos do governo federal durante a pandemia.
O circo saiu da cabeça do senador Randolph Frederich
Rodrigues Alves, conhecido como Randolfe Rodrigues (Rede/AP), pernambucano de
Garanhuns, professor, líder da oposição no Senado. Começou sua vida política no
Partido dos Trabalhadores (PT), pulou para o Partido Socialismo e Liberdade (Psol)
e, finalmente, para a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.
Randolfe se tornou popular por lembrar Harry Potter, mas lembra
também outra personagem menos conhecida, Baby Herman, com voz de falsete e muito
faniquito. Nutre ódio visceral por Bolsonaro, que teria aplicado um soco no
bucho do senador mais votado pelos amapaenses, e o trata como a um garoto
travesso, tipo Peter Pan. Agora, Randolfe terá oportunidade de se vingar, e de
brilhar, na CPI, da qual é vice-presidente.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, ordenou ao
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (Dem/MG), a criação da CPI, confirmada por
10 votos a 1 na corte. Randolfe queria que somente Bolsonaro fosse investigado.
Só que a coisa se ampliou e os governadores e prefeitos que desviaram bilhões
de reais enviados pelo governo federal para os estados e municípios fatalmente
serão investigados também. É o que chamam de tiro saindo pela culatra.
E o presidente da CPI? O senador paulista radicado no
Amazonas, Omar Aziz (PSD/AM). A esposa dele, deputada Nejmi Aziz (PSD), e seus
três irmãos, Murad, Amin e Manssur Aziz, já foram presos, em 2019, acusados de
desvio de verbas públicas da saúde do Amazonas. A Justiça bloqueou bens no
valor de R$ 92,5 milhões dos investigados. A Polícia Federal concluiu que os
desvios começaram quando Aziz era governador do estado, entre 2010 e 2014. Foi
reeleito.
Aziz é visto pelos seus críticos, na CPI, como um mapinguari,
um contador amestrado tomando conta da contabilidade da burra da pandemia.
E o relator? Nada menos que Renan Calheiros, que dispensa
apresentações, pois tem prontuário extenso demais para passar despercebido. José
Renan Vasconcelos Calheiros, alagoano de Murici, do MDB, no quarto mandato
senatorial, foi presidente do Senado por três períodos, até 2007, quando
renunciou ao cargo acusado de corrupção.
Antes de entrar na política, Renan não tinha onde cair
morto, ou melhor, tinha, um fusca. Hoje, é dono de fazendas, imóveis e empresas.
Um dos seus filhos, Renan Calheiros Filho, é governador de Alagoas. Renan pai teve
um caso com a jornalista Mônica Veloso que resultou em uma filha, Maria
Catharina Freitas Vasconcelos Calheiros, e um processo de cassação, mas foi
absolvido pelos seus pares.
José Sarney, maior patrimonialista do país, depois de Lula
Rousseff, e que tentou inclusive anexar o Amapá ao Maranhão, foi o grande
aliado de Renan, a quem ensinou os macetes para chegar ao topo e de lá mandar e
desmandar. Em 2002, Renan, e o MDB, viram que Lula Rousseff ia ser eleito
presidente, pois tinha apoio de Fernando Henrique Cardoso, e aí começou um
namoro firme com o ex presidiário, e até hoje é unha e carne com o jacaré.
Em 2007, explodiu o Renangate, a construtora Mendes Júnior pagava
12 mil por mês à ex amante de Renan, Mônica Veloso. Foi a revista Veja, quando
ainda era uma revista séria, que fez a denúncia. A partir de então pipocaram
denúncias na mídia contra Renan.
Augusto Nunes, um dos jornalistas brasileiros mais destemidos e comprometidos com a verdade, observou que o codinome de Renan na lista de propina da Odebrecht, divulgada pela Lava Jato, operação do Ministério Público e da Polícia Federal desqualificada pelo Supremo, é Atleta. “Irretocável. A folha corrida do senador denuncia um maratonista da delinquência. O prontuário do gerente do MDB alagoano é coisa de matar de inveja até um campeão de bandalheiras promovido a chefão do PCC.”
Ainda Augusto Nunes: “Em nações civilizadas, o Atleta da Odebrecht estaria na cadeia há muito tempo. Num Brasil abastardado pelo Supremo Tribunal Federal, Renan segue driblando a capivara cevada pela pilha de processos e inquéritos. Em vez de temporadas na gaiola, coleciona mandatos na presidência do Senado. Até agora são três. Vai começar a campanha para chegar ao quarto na quinta-feira, fantasiado de relator da CPI da Pandemia. Só no País do Carnaval um investigado investiga. O criador do codinome do senador merece alguma condecoração. Sem sair da Praça dos Três Poderes, sem se afastar de cargos relevantes, Renan Calheiros foge da Justiça há quase 30 anos. É o nosso Usain Bolt da corrupção. É um tremendo Atleta”.
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