sexta-feira, 18 de junho de 2021

A vida pode se passar em uma tela de Olivar Cunha ou em uma crônica de Fernando Canto

Olivar Cunha recriou Fernando Canto como apóstolo

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 18 DE JUNHO DE 2021 – No primeiro volume dos 40 livros fundamentais da Seicho-No-Ie, Masaharu Taniguchi desenvolve uma teoria interessante: em uma década e meia todas as células do corpo humano são renovadas, de modo, que, a rigor, tem-se um novo corpo em relação há 15 anos. Mas continuamos sentindo as mesmas coisas. Logo, entre A e B, existe algo que subsiste, algo essencial, presente. 

Há 2.500 anos, os budistas já sabiam que a matéria não existe, e, no início do século passado, um cientista, judeu-alemão, Albert Einstein, teorizou esse conhecimento. Hoje, sabe-se, cientificamente, que não existe matéria. O que há são vibrações, que, para fins de estudo, são denominadas prótons, elétrons e nêutrons, e vazios imensos. Essas vibrações formam átomos, que formam moléculas, que formam energia densa, ou seja, matéria. No caso do corpo humano, as células, tijolos da carne, são formadas por átomos, e animadas pela vida. 

Desde Alan Kardec, no século 19, e depois, a partir de 1947, com a aparição cada vez mais comum de discos voadores e ETs, bem como da hoje numerosa literatura psicografada por médiuns, só mesmo cientistas empedernidos, como Stephen Hawking, afirmam que tudo é matéria e que não existe nenhum plano além da matéria, a qual, para eles, surgiu do big-bang, há 14 bilhões de anos. 

Acreditam também que nós, seres humanos, surgimos de um célula que adquiriu vida sabe Deus como, se multiplicou, e, milhões de anos depois, evoluiu até formar o cérebro humano tal como o conhecemos hoje. 

Mas há cientistas que já sabem que nós, seres humanos, somos espíritos, criaturas de outros planos, além da matéria, assim como inúmeras raças que habitam o Universo, e que encarnamos para obter a experiência da matéria e evoluir mais rapidamente, pois neste plano tudo muda a todo instante e somos cercados de limitações, inclusive a da morte carnal. Mas no império da lei, que é a vida, tudo no Universo avança, nada retrocede, e não há passado, nem futuro. A eternidade é agora. 

O espírito é uma expressão da Vida, e, quando encarna, utiliza-se de um corpo ao qual podemos chamar de perispírito, ou corpo astral, ou, para ser acadêmico, psicossoma, que se conecta à glândula pineal e esta ao cérebro, para que o espírito possa utilizar o corpo carnal, uma espécie de escafandro usado para a caminhada sob a força de gravidade da Terra. 

Nessa caminhada só existe o agora. Nostalgia, remorso, sentimento de culpa, ansiedade, angústia, são sentimentos deslocados do presente e que remetem ao medo, que corrói o períspirito e se reflete no corpo carnal em doenças, como câncer. 

Então, devemos viver o agora. Isso é a liberdade do espírito, que, assim, não adoece e que pode ir aonde quiser pela mente. Masaharu Taniguchi prega que podemos atingir esse estado aqui e agora, mesmo no mundo cármico. 

Acontece de turistas ocidentais irem à Índia e observarem monges, cercados de miséria, meditando à margem do poluído rio Ganges. Mas ali, só está o corpo carnal dele. Onde estará seu espírito? Talvez nem na Via Láctea, mas a bordo de uma nave rumo à Hidra-Centauro. 

A vida é um tesão, como disse o pintor Olivar Cunha. E só podemos ter a noção do agora, a alegria de viver, a intensidade, o voo vertiginoso da luz, quando amamos. Amar é quando percebemos o azul, quando avançamos no misterioso labirinto da mulher amada, quando crianças riem na manhã, em meio a zínias e rosas, quando a sensação do primeiro beijo nos transporta para a eternidade. 

E só amamos pelo desapego. Não tenho apego a nada, nem a mim mesmo. 

Antes de escrever o romance A CASA AMARELA, passei anos sonhando, de forma recorrente, o mesmo sonho: planava, mesmo sem ter asas, sobre a casa da minha infância, que era amarela, e sobre jardins imensos de zínias multicoloridas e rosas vermelhas. Então comecei a criar uma história, e quando a concluí nunca mais sonhei com a Casa Amarela.

Na história que criei há um portal, o Quartinho, onde escritores, personagens de ficção e pessoas vivas e mortas se reúnem. Ali, a vida é para sempre, como uma crônica de Fernando Canto, uma tela de Olivar Cunha, um conto de Hemingway, um romance de Fitzgerald, um bate papo com João Raimundo Cunha, meu pai.

Um comentário:

  1. O escritor vivendo sua sabedoria do agora. Congela o tempo e vê o mundo na tela evolutiva do seu quartinho. Muito bom.

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