RAY CUNHA
Cara Polyana. O mais importante de tudo é o velho prazer que sentes ao realizar teu trabalho, prazer que cresce quando tens a sensação de que és lida e de que tuas matérias lançam luz, de alguma forma, aos teus leitores. A isso, podemos chamar de talento.
Fundamental, Polyana, para nossa profissão, é a retidão. Jamais, coisa alguma deverá subverter a missão do jornalista. Se subvertê-la, por menor que seja a subversão e por mais que o jornalista procure ignorar isso, terá se transformado em bandido. Em linguagem explícita, nunca recebas nenhum presente, muito menos dinheiro, para mentir; a verdade é teu objetivo único.
Anotas tudo, observas teus interlocutores nos olhos, ouves todas as partes, checas tudo, datas tudo, e guardas teu caderno de anotações, à medida que eles forem se esgotando, pois são bancos de dados e também diários, e poderão render, um dia, até um livro.
Mergulhas na tua língua natal como nos braços do teu amado, apreendes até seus murmúrios e fruis suas palavras e as nuanças das palavras como música. É preciso que escrevas como amas, porque o amor é sempre perfeito.
Lê grandes articulistas e os
gigantes da literatura do nosso país, como Machado de Assis, Graciliano Ramos,
Euclides da Cunha, Jorge Amado, pois eles resumem o trópico brasileiro. Lê
também, e se possível nas suas línguas nativas, Ernest Hemingway, Norman
Mailer, Joseph Conrad, Kurzio Malaparte, Tomasi Di Lampedusa e Gabriel García
Márquez, para começar.
És muito jovem e tens tanto para viver. Por isso, aprendas idiomas, curtas o trabalho dos grandes artistas, viajas, batas longos papos com os que tu amas e, principalmente, ouça-os. Isso, além de nos enriquecer, tira, às vezes, da fossa, até suicidas inconscientes.
A missão do jornalista é muito importante, Polyana, pois na busca da verdade e da justiça lança luz sobre o pântano das trevas, e onde há luz é impossível haver treva. Os salários baixos, as incontáveis horas de trabalho, as dificuldades inerentes à profissão, pessoas arrogantes de quem dependemos ou a quem temos que nos submeter, nada disso é maior do que a consciência do dever do repórter, e depois, que dinheiro pode ser mais valioso do que o dever cumprido? Haverá alguma coisa superior à paz de espírito?
Eu te desejo todo o sucesso, Polyana, e que a tua luz ilumine o riso das crianças.
Brasília, 9 de novembro de 2009
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