sábado, 24 de junho de 2023

Academia de Letras do Amapá terá sede própria

Os acadêmicos zelam pela cultura, a identidade dos amapaenses
O Rio Oiapoque une o Amapá à Guiana Francesa

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 24 DE JUNHO DE 2023 – Há duas estrelas posicionadas mais à esquerda na Bandeira Nacional, quase no mesmo alinhamento: Procyon, da Constelação do Cão Menor, que representa o Amazonas, no alto, e, abaixo, Mirzam, da Constelação do Cão Maior, que representa o Amapá. Daí que é fácil encontrar o Amapá na constelação da Bandeira Nacional, assim como é fácil encontrar o próprio estado do Amapá no mapa. 

Delimitado da Guiana Francesa pelo Rio Oiapoque, a noroeste, o quadrilátero setentrional é atravessado pela cordilheira do Tumucumaque até debruçar-se sobre o maior rio do planeta, o Amazonas, ao sul, Rio Jari a sudoeste, e, a leste, há o azul do Atlântico. 

Pois bem, Mirzam começou a cintilar mais no Pavilhão, já que a Academia Amapaense de Letras (AAL), guardiã da língua portuguesa e da literatura e cultura, ou identidade amapaense, comemorou, em grande estilo, nesse 21 de junho, 70 anos, legitimando-se, por sua história, tradição e reconhecimento por parte da sociedade, como o órgão máximo da cultura do povo amapaense. 

De mesma forma que os cariocas defenderam o Rio de Janeiro da França Antártica, os amapaenses defenderam o Amapá da França, até, de comum acordo, Brasil e França colocarem o Rio Oiapoque entre as duas nações, mais como símbolo de amizade do que de separação, e, hoje, Amapá e Guiana Francesa são irmãos, tanto que há a ideia de se publicar um livro bilingue reunindo trabalhos de contistas amapaenses e guianenses, a ser lançado em Macapá, Brasília, Caiene e Paris. 

Os três dias de comemorações do aniversário da AAL foram extraordinários, com a presença dos três poderes e o compromisso de que a Academia terá sua sede própria já no próximo ano. Aliás, abordei esse assunto na palestra que apresentei antes de autografar o romance JAMBU, por ocasião dos festejos. 

A Academia Amapaense de Letras foi fundada por escritores pioneiros do então Território Federal do Amapá, em 21 de junho de 1953. O dia e mês são do aniversário de Machado de Assis, um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), que também não tinha sede nos seus primeiros anos. 

Mas o caso da AAL foi pior. Sua primeira diretoria tomou posse no dia 5 de julho de 1953. Os acadêmicos chegaram a reunir-se ao longo de cinco anos e, durante três décadas, permaneceram de portas fechadas, para reabri-las somente em agosto de 1988. Em 1 de dezembro do ano passado, tomou posse a diretoria atual, comandada por um dos intelectuais mais lúcidos do Amapá, o doutor em sociologia, mestre em desenvolvimento regional, ensaísta e ficcionista Fernando Canto. 

Como disse, a ABL começou de forma semelhante à AAL. Fundada em 20 de julho de 1897, as reuniões da ABL eram realizadas nas dependências do antigo Ginásio Nacional, no Salão Nobre do Ministério do Interior, no salão do Real Gabinete Português de Leitura e no escritório de advocacia do primeiro secretário, Rodrigo Octávio, na Rua da Quitanda 47. 

A partir de 1904, as reuniões passaram a acontecer no Silogeu Brasileiro, um prédio público que abrigava outras instituições culturais, até 1923, quando o governo francês doou à academia o prédio do Pavilhão Francês na Exposição do Centenário da Independência do Brasil, na Avenida Presidente Wilson 203, uma réplica do Petit Trianon de Versalhes, projetado pelo arquiteto Ange-Jacques Gabriel, entre 1762 e 1768. 

Em 1959, assumiu a presidência do silogeu Austregésilo de Athayde, durante 34 anos consecutivos, até 1993. Austregésilo conseguiu com o então presidente Juscelino Kubitscheck o terreno do Pavilhão Inglês na Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, na Avenida Presidente Wilson 231, ao lado do Petit Trianon de Versalhes. 

Austregésilo fez uma permuta com a Ecisa Engenharia e em 20 de julho de 1975 começou a construção do Edifício Centro Cultural do Brasil, ou Palácio Austregésilo de Athayde, um arranha-céu de 30 andares, 115 metros de altura, projetado pelo arquiteto Mauricio Roberto. O edifício foi inaugurado quatro anos depois, em 1979. 

Parte do Palácio Austregésilo de Athayde ficou com a Ecisa e parte é utilizada para as atividades culturais da ABL e também alugada para várias empresas. É daí que vem a renda da academia. Hoje, além de ter sede própria, e que sede!, os acadêmicos ainda ganham jetons. 

Na Academia Amapaense de Letras os acadêmicos pagam mensalidade. Mas no próximo ano já deverão se reunir em sede própria. Se for um prédio com vários conjuntos de salas, poderão alugar parte delas. Se for um terreno grande, poderão firmar contrato com uma construtora e incorporadora e construir uma torre, como fizeram os acadêmicos da congênere brasileira. 

O que a Academia Amapaense de Letras pode fazer pela cultura do Amapá é um mundo de coisas. Pode fomentar a cadeira de Literatura Amapaense da Universidade Federal do Amapá (Unifap); promover palestras, conferências e seminários na universidade, faculdades e no ensino médio; pode se empenhar por verba para a publicação de escritores do cânone literário amapaense, livros importantes para estudantes e pesquisadores, distribuídos para bibliotecas de todo o país; pode criar uma premiação simbólica anual a escritores amapaenses, vivos ou mortos, pelo conjunto de sua obra etc. etc. etc.

Esse é o zelo que os acadêmicos podem ter pela cultura do povo amapaense, pois é com essa invenção, a escrita, a mais extraordinária da raça humana, que os escritores registram e arquivam a história e a cultura da humanidade, e os acadêmicos do Amapá zelam pela identidade do povo amapaense.

Ray Cunha em palestra sobre o romance ensaístico 
JAMBU e o aniversário da Academia Amapaense de Letras
Ray Cunha autografa JAMBU para o vice-presidente da AAL, Paulo
Guerra
, e o diretor do Memorial Amapá, jornalista Walter Junior

Um comentário:

  1. Assisti a palestra de Ray Cunha, senti nele, apesar do longo tempo ausente das terras Tucujus, a urgência da AAL em te4 sua sede própria, coisa negligenciada por governantes pretéritos... Tive a honra de autografar o Megafone para Ray Cunha...

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