quarta-feira, 14 de junho de 2023

Ray Cunha lança o romance ensaístico JAMBU nesta terça-feira em Macapá em comemoração aos 70 anos da Academia Amapaense de Letras

O autor na sua biblioteca, no bairro do Sudoeste, em Brasília, onde mora

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 14 DE JUNHO DE 2023 – Estarei autografando o romance ensaístico JAMBU (Clube de Autores, 190 páginas, 50 reais), em Macapá, nesta terça-feira 20, a partir das 18 horas, no Senac, na Avenida Henrique Galúcio 1999, Centro, como parte das comemorações dos 70 anos da Academia Amapaense de Letras (AAL), fundada em 21 de junho de 1953.

Sinopse de JAMBU: É julho, mês de férias de verão na Amazônia. No monumental Hotel Caranã, no bairro do Pacoval, em Macapá, acontece o Festival de Gastronomia do Pará e Amapá, revelando para o mundo a cozinha mais saborosa do planeta. O evento é promovido pela chefe de cozinha e oceanógrafa Danielle Silvestre Castro, dona do Hotel Caranã, esposa do oceanógrafo, arqueólogo, taxidermista e jornalista João do Bailique, editor da revista Trópico Úmido, que trabalha em uma edição especial sobre a Hileia, e ambos investigam o tráfico de crianças e mulheres para escravidão sexual e estão à caça do traficante de crianças e de grude de gurijuba Jules Adolphe Lunier.

Em JAMBU, personagens de ficção se misturam a pessoas reais, vivas e mortas, como o pintor amapaense Olivar Cunha, que decora o cenário do Festival de Gastronomia do Pará e Amapá; o compositor paraense Waldemar Henrique; o filósofo japonês Masaharu Taniguchi; o escritor, astrofísico e médium Laércio Fonseca; o escritor, psicanalista e acupunturista Jorge Bessa; os jornalistas Walmir Botelho e Carlos Mendes; a cantora lírica Carmen Monarcha; a pianista Walkíria Ferreira Lima, cofundadora da Academia Amapaense de Letras, e seu filho, o poeta Isnard Brandão Lima Filho, também acadêmico.

Como cenário, JAMBU deixa Macapá, e a Amazônia, nuinhas, em pelo, mesmo, como se diz. Macapá é uma das cidades mais emblemáticas da Amazônia. Encravada na beira do maior rio do planeta, o Amazonas, a Fortaleza de São José de Macapá, maior forte colonial português, é a tradução perfeita da cidade, pois foi construída por escravos negros e índios, debaixo do látego do colonizador português.

Os portugueses cruzaram com africanos e geraram mulatos, e com os índios, formando uma população de mamelucos; os africanos fundaram os bairros do Curiaú e do Laguinho, misturaram-se com os índios e legaram cafuzos; e mulatos, cafuzos e mamelucos misturaram-se, fechando o círculo, numa diversidade étnica viva nas ruas de Macapá, nas nuanças de peles que vão do alabastro ao ébano, passando pelo bronze e jambo maduro, unidos pelo sotaque caboco: a fusão do português falado em Lisboa, doces palavras tupis, línguas africanas, patoá das Guianas, tudo triturado em corruptela.

Nesse cadinho étnico, o jambu é a erva que melhor sintetiza a Amazônia. Os amazônidas, sedados pelo sol equatorial, que, apesar dos 100% de umidade relativa do ar, esturrica tudo, e acossados pela grande floresta, microrganismos, insetos e animais peçonhentos, agem como as papilas gustativas entorpecidas por espilantol, presente no jambu, principalmente na sua flor: anestesiados, baixam a cabeça e se entregam aos seus carrascos, especialmente os políticos, que, independentemente de serem da própria terra, ou de fora, são inclementes como os antigos ibéricos. 

Os políticos uniram-se a um tipo de empresário escravocrata e que adora dinheiro, e passaram a gerir a senzala sem paredes, ampliando a Fortaleza de São José de Macapá a uma senzala amazônica. A Amazônia está sempre coalhada de colonos e aventureiros, tecnocratas de Brasília, políticos, narcotraficantes, sequiosos em negociar até a última árvore, a última pedra preciosa e todas as mulheres e crianças que puderem.

Nesse cenário, do suplício imposto pelos ibéricos, da morte decretada pelos microrganismos e o assalto e o desprezo perpetrado pelos políticos, os macapaenses se tornaram símbolo de um tempo antigo, mas persistente, de espanhóis e portugueses, os colonos, e índios, negros e cabocos, os colonizados; a tragédia que perpassa a Ibero-América, alicerçada pela crença de que os colonos são deuses e os colonizados, seres inferiores, que existem apenas para servir aos sangues-azuis.

Para os colonos, a Amazônia só serve para três fins: construção de hidrelétricas; extração de madeira e mineral; e reserva de caça, pesca e escravos, especialmente para a triste realidade de crianças e mulheres, que, diferentemente do mito das amazonas, são criaturas fracas, subjugadas, escravas compradas à base de comida, de uma boneca, de uma balinha.

É assim que JAMBU despe inteiramente a Amazônia. Todas as questões que vêm sendo discutidas em torno da grande floresta são dissecadas, inclusive a Operação Prato.

É nesse cenário que a Academia Amapaense de Letras se legitima como a instituição cultural mais importante do Estado, já que está nas mãos dos seus membros zelarem pela literatura – ensaística, de ficção e poética – que se produz no Setentrião, colocá-la à disposição dos estudantes e pesquisadores, e estimular a produção literária, pois é nos livros que a raça humana registra sua história, sua cultura, sua tecnologia, e avança no conhecimento filosófico e espiritual.

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