Da direita para a esquerda: Manoel Bispo, Paulo Tarso Barros, não lembro quem é a moça, Ray Cunha e alguém de quem também não lembro |
Fernando Canto (E) e Alcinéa Maria Cavalcante (no centro) |
RAY CUNHA
Também lhes esclareço, da melhor maneira possível, que o passado não existe, pois muitos deles carregam nos ombros tragédias e dramas que só existem na mente deles. Mas como libertar-se disso? Por meio do perdão e do sentimento de gratidão. O perdão verdadeiro desfaz qualquer nó do passado e o sentimento de gratidão sintoniza com saúde, prosperidade e alegria permanente. Daí porque jamais devemos reclamar, sequer lamentar-se, pois a tristeza pulveriza a gratidão.
Todas as cidades do mundo têm sempre uma plêiade de intelectuais, grandes professores, sábios. Mesmo que seja só um, mas é o sábio da cidade, por menor que ela seja. Quando eu nasci, em 1954, Macapá/AP era um povoado, como Macondo, debruçado sobre a margem esquerda do Canal do Norte do Rio Amazonas, na confluência da Linha Imaginária do Equador, que secciona a cidade, cercada pela Hileia. E sempre houve sábios na cidade.
No mesmo ano, nascia, em Óbidos/PA, Fernando Canto, que foi ainda gito para Macapá, com a família. Fernando é hoje o grande intelectual da cidade. Contista premiado, poeta, ensaísta, compositor, doutor, professor universitário, presidente da Academia Amapaense de Letras (AAL), é, na minha opinião, o mais lúcido intelectual amapaense.
Sua tese de doutorado é sobre o maior ícone do Amapá: a Fortaleza de São José de Macapá: Vertentes Discursivas e as Cartas dos Construtores, um levantamento de fôlego sobre o maior forte colonial lusitano no Brasil. Razão pela qual se trata de um ícone emblemático, pois os amapaenses, como, de resto, os amazônidas, jamais se libertaram do colonialismo, hoje praticado por coronéis de barranco e políticos.
O livro de Fernando Canto foi editado pelo Senado Federal. Da página 19 até a 34 o livro fica de cabeça para baixo. O Conselho Editorial é de 20 membros. Receberão jetom?
Fernando é o amigo com quem mais convivi. Tínhamos 14 anos quando nos conhecemos. Convivemos em uma primeira fase, em Macapá, quando começamos a nos enturmar com o poeta Isnard Brandão Lima Filho, os pintores Raimundo Peixe e Olivar Cunha, o poeta Alcy Araújo e sua filha, Alcinéa Maria Cavalcante, a dama da poesia amapaense, além do Joy Edson (José Edson dos Santos), Galego, Binga Monteiro e uma pancada de outros artistas.
Depois, em Belém, Fernando e eu bebemos bastante e escrevemos bastante. Agora, quando vou a Macapá, é para cima e para baixo naquele carrão de James Bond do Fernando. Almoçamos juntos, batemos horas de papo. É muito bacana. Ele esteve recentemente em Brasília e batemos muita perna.
Mas essa crônica, na verdade, depois desse papo todo, é sobre o acervo que o Fernando tem de artistas amapaenses. É o maior colecionador de telas do Olivar Cunha. Sou suspeito para falar sobre Olivar Cunha porque sou irmão dele, mas é o cara!
De vez em quando o Fernando me surpreende com alguma coisa que escrevi e perdi e ele me envia, dos arquivos dele. Hoje, enviou algumas fotos antigas minhas e dele. Interessante que, como eu tenho plena consciência de que só vivo o agora, os textos do passado, as fotos, sinto-os como se fossem agora. De modo, caro Fernando, que as fotografias sépias apenas nos lembram que estivemos nos movendo na direção certa, e na velocidade da luz.
Abraços!
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