Dois ícones do Rio: Cristo Redentor e Pão de Açúcar
(Foto: Marcos de Paula/Prefeitura do Rio de Janeiro)
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 17 DE MARÇO DE 2024 – A ideia de se construir a capital do Brasil no sertão surgiu em Portugal, em meados do século XVIII. Os portugueses só pensavam em ouro. Em 1891, a primeira Constituição da República fixou a região onde deveria ser instalada a futura capital, e, em 1956, o mineiro Juscelino Kubitschek resolveu construir Brasília, inaugurando-a, ainda um parque de obras, em 21 de abril de 1960.
Eleito, Juscelino viu, claramente, que no Rio de Janeiro jamais chegaria ao fim do seu mandato, razão pela qual resolveu governar na ponte aérea que criou, Rio-Brasília, um naco do cerrado do estado de Goiás, onde a nova capital seria erguida. Foi bom para o estafe do presidente, com gordas diárias e mordomias, durante a construção da nova capital. Na época, a inflação desembestou.
O mandato de JK, que começou em 31 de janeiro de 1956, terminou em 31 de janeiro de 1961. Foi sucedido, em 31 de janeiro de 1961, pelo paulista Jânio Quadros, que só aguentou morar em Brasília até 25 de agosto. Caiu fora. Foi tomar seu uísque em São Paulo. Tomou posse o vice, o gaúcho João Goulart, em 8 de setembro de 1961. Comunista, Goulart foi defenestrado em 1 de abril de 1964 pelos generais, que gostaram de Brasília e ficaram no poder até 1985.
Os generais gostaram de Brasília porque na cidade não havia a menor possibilidade de protesto popular, como no Rio de Janeiro, e assim a cidade prosperou. Hoje, mesmo com mais de 3 milhões de habitantes, a situação continua a mesma, pois a cidade foi construída de modo que qualquer manifestação popular pode ser cercada facilmente e manifestantes se arriscam a passar o resto de suas vidas, se forem preferenciais, na Papuda, a penitenciária local.
Mas o Rio continua sendo, de fato, a capital do Brasil. Por exemplo: há 32,3 mil funcionários públicos federais no Rio a mais do que em Brasília. De acordo com o Boletim Estatístico de Pessoal, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o Rio tem 102,6 mil servidores federais contra 70,3 mil em Brasília. Também o patrimônio das estatais federais e a presença das Forças Armadas no Rio são hegemônicos.
Há vários fatores que obrigam a que o Rio se some a Brasília. Quantos países têm mais de uma capital! A África do Sul, por exemplo, tem três: Pretória, Cidade do Cabo e Bloemfontein. Um desses fatores é a volta do Congresso Nacional para o Rio. Lá, o Congresso virará realmente a casa do povo.
Outro fator é que o Rio é a cidade que melhor reflete a identidade brasileira. Começou com as aldeias tupinambás cercando toda a Baía de Guanabara, os franceses da França Artártica, expulsos pelos portugueses, a chegada dos africanos, o ouro de Minas Gerais, o Império do Brasil, o golpe da República e o século XX, quando os cariocas realizaram a Semana de Arte Moderna em São Paulo, que é onde estava então o dinheiro, e os nordestinos instituíram na Cidade Maravilhosa a moderna imprensa brasileira, hoje, velha imprensa, mas porque se transformou em balcões de negociatas.
O Rio, desde sempre, se tornou a Meca dos intelectuais e artistas brasileiros. É lá que todo mundo que vive em torno da arte e da cultura, do Sul à Amazônia, se encontra. Também o Rio é a cidade que mais recebe turistas no Hemisfério Sul, porque é a cidade mais bonita do mundo, a Capital do Trópico, abraçada pelo Cristo Redentor no alto do Corcovado, a 800 metros de altura, tem Carnaval e suas praias são estonteantes.
E depois, sua posição geográfica é estratégica, de modo que o Brasil
ganharia se o Rio recuperasse o status de segunda capital do país, o que ele já
é naturalmente. E Brasília, hoje, uma pujante cidade iluminando o sertão,
continuaria cumprindo seu papel de cidade administrativa e ligando, juntamente
com Goiânia, o continente brasileiro no planalto.
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