sexta-feira, 28 de junho de 2024

Os EUA estão acéfalos. Joe Biden está morto

A demência do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, põe o país  em risco
RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 28 DE JUNHO DE 2024 – Para não parecer tão dramático, digamos que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Partido Democrata), está no Umbral, que é o plano onde as pessoas materialistas, os arrogantes, invejosos, corruptos, ladrões, assassino, estupradores, suicidas, viciados, vão parar ao bater as botas. A morte é um estado mental da consciência; às vezes, o sujeito ainda está fisicamente vivo, mas seu espírito já se encontra em uma zona de sombras. É isso que os psiquiatras chamam de loucura. 

Joe Biden está assim, um morto-vivo. Quinta-feira 27, nos Estados Unidos, a rede de televisão CNN promoveu um debate entre os candidatos Joe Biden e Donald Trump (Partido Republicano), no contexto da corrida, em novembro, à Casa Branca. Para Trump, foi como tomar um pirulito de uma criança de dois anos de idade, sozinha. Biden está demente, senil, gagá, decrepto, não diz coisa com coisa. Biden lembra três casos brasileiros. 

O primeiro caso é o do marechal Manuel Deodoro da Fonseca. Líder do Exército, Deodoro foi exortado a derrubar o chefe do Gabinete Imperial, posto equivalente ao de primeiro-ministro, o Visconde de Ouro Preto. Na madrugada do dia 15 de novembro de 1889, conspiradores foram à casa do marechal, que estava acamado, com dispneia, e o convenceram a deixar, mesmo assim, a cama, e liderar o movimento republicano. 

Disseram ao marechal doente que a partir de 20 de novembro o novo presidente do Conselho de Ministros do Império seria Gaspar Silveira Martins, seu inimigo. Quando o marechal serviu no Rio Grande do Sul, ambos disputaram a baronesa do Triunfo, que preferiu Silveira Martins, que, desde então, provocava Deodoro da Fonseca, da tribuna do Senado, insinuando que desviava verbas e contestando sua eficiência militar. Era o momento da desforra. 

Mas a gota d’água foi que o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro garantiu a Deodoro que ele seria preso assim que Silveira Martins tomasse posse. Diante disso, o marechal tratou de respirar profundamente e sair da cama. Era um morto-vivo, mas muito útil para os militares, naquele momento. Para todos os efeito, a causa do golpe seria a seguinte: o Visconde de Ouro Preto vinha perseguindo o Exército e o Conde d'Eu, marido da Princesa Isabel, o apoiava. 

Amanhecia no Rio quando Deodoro deixou sua casa e se dirigiu para o Campo de Santana, onde conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado no hoje Palácio Duque de Caxias a se rebelarem contra o governo. Ofereceram um cavalo ao marechal. Ele montou o cavalo, tirou o chapéu e gritou: “Viva a República!” Desceu do cavalo e voltou para a cama. 

As tropas ali reunidas seguiram pela Rua Direita, atual Primeiro de Março, até o Paço Imperial, onde o presidente do gabinete, Visconde de Ouro Preto, tentou resistir, pedindo ao comandante da segurança do Paço Imperial, general Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados, observando que havia, no Paço Imperial, tropas legalistas em número suficiente para sufocar os revoltosos, e lembrando-o de que o general enfrentou tropas bem mais numerosas na Guerra do Paraguai. 

– Sim, mas lá tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos brasileiros! – respondeu Floriano Peixoto a Ouro Preto, dando-lhe, a seguir, voz de prisão. 

À tarde, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada a República. À noite, na Câmara Municipal, José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto seguiu para as gráficas de jornais que apoiavam a República e, no dia seguinte, o carioca tomava conhecimento do novo regime político do Brasil. 

Dom Pedro II estava em Petrópolis e retornou ao Rio no dia 16. Na cabeça dele o Exército queria apenas substituir o gabinete de Ouro Preto. “Vou substituir o visconde pelo conselheiro José Antônio Saraiva” – pensou. Mas os republicanos já haviam espalhado o boato de que o imperador escolhera Gaspar Silveira Martins para chefe de governo. Aí, esclareceram a Dom Pedro II que era a cabeça do imperador que queriam. 

O major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro foi quem levou a Dom Pedro II a comunicação da proclamação da República e de sua partida imediata para a Europa. Só foi permitida a volta da família imperial brasileira ao Brasil na década de 1920. 

Para o escritor português Eça de Queirós, a Proclamação da República seria o fim do Brasil: “O que foi o Império estará fracionado em repúblicas independentes de maior ou menor importância. Impelem a esse resultado a divisão histórica das províncias, as rivalidades que entre elas existem, a diversidade do clima, do caráter e dos interesses, e a força das ambições locais. Por outro lado, há absoluta impossibilidade de que São Paulo, a Bahia, o Pará, queiram ficar sob a autoridade do general fulano ou do bacharel sicrano, presidente, com uma corte presidencial no Rio de Janeiro. 

“Os Deodoros da Fonseca vão-se reproduzir por todas as províncias. Cada Estado, abandonado a si, desenvolverá uma história própria, sob uma bandeira própria, segundo o seu clima, a especialidade da sua zona agrícola, os seus interesses, os seus homens, a sua educação e a sua imigração. Uns prosperarão, outros deperecerão. Haverá talvez Chiles ricos e haverá certamente Nicaráguas grotescas. A América do Sul ficará toda coberta com os cacos de um grande império”. 

Eça de Queirós não sabia nada do Brasil. Escreveu o sociólogo Gilberto Freyre: “Profecia que de modo algum se realizou. E não se realizou por lhe ter faltado quase de todo consistência sociológica; ou ter se baseado apenas numa estreita parassociologia, quando muito, política; e esta quase inteiramente lógica. Lógica e de gabinete: nem sequer intuitiva no seu arrojo profético. 

“O “coração íntimo” dos brasileiros da época que se seguiu à proclamação da república, se examinado de perto, haveria de mostrar-lhe que existia entre a gente do Brasil, do Norte ao Sul do país, uma unidade nacional já tão forte, quanto às crenças, aos costumes, aos sentimentos, aos jogos, aos brinquedos dessa mesma gente, quase toda ela de formação patriarcal, católica e ibérica nas predominâncias dos seus característicos, que não seria com a simples e superficial mudança de regime político, que aquele conjunto de valores e de constantes de repente se desmancharia!”. 

O segundo caso é o da ex-presidente do Brasil e atual presidente do Banco dos Brics, Dilma Rousseff, 77 anos, que não consegue verbalizar um pensamento completo. Segundo o jornalista Augusto Nunes, seria falta de neurônios. 

O terceiro caso é semelhante ao de Biden: Lula da Silva. No caso de Lula, além da idade, 79 anos, ele está muito doente. Teve câncer na garganta, sofre de artrose, bebe e é assombrado pelos fantasmas do seu passado, que o assediam o tempo todo. O mundo pode vê-lo on-line falando besteiras do tipo que ele pode pôr fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia batendo papo e bebendo cerveja com Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky. 

Sou terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa. Trabalho, por conseguinte, com energia, vibração. Após 10 anos de atividade, um terapeuta em medicina energética pode auscultar os pacientes apenas os vendo e ouvindo. A voz de Lula diz muito. Ela é o passado dele. A demência, ou loucura, é um sintoma dos mortos-vivos. 

Não acredito que Joe Biden permaneça como candidato dos Democratas. O mundo todo viu as condições do homem. Ele já está morto e os americanos já perceberam isso. O mesmo digo do confrade de Biden no Hemisfério Sul. 

Além de ser a maior potência econômica e militar do planeta, de longe, o estado americano é alicerçado em leis e instituições patrióticas, e lá a constituição é respeitada; ninguém a rasga ou se limpa com ela. É um risco ter um zumbi na presidência. Os líderes comunistas são como as hienas: quando veem um líder capitalista agonizando e o país com os intestinos pendurados, metem os dentes nas tripas. Os intestinos de um país são o povo.

sábado, 22 de junho de 2024

O que esperar da Academia Amapaense de Letras (AAL)? Rosas para a madrugada

Ray Cunha e Fernando Canto. Ao fundo, o Marco Zero

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 22 DE JUNHO DE 2024 – Fundada em 21 de junho de 1953, a Academia Amapaense de Letras (AAL) é a maior porta-voz da cultura do estado do Amapá, que teve suas terras avistadas pela primeira vez por um europeu antes da chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro, Bahia, em 22 de abril de 1500. Em 26 de janeiro daquele ano, o navegador e explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón chegou ao Cabo de Santo Agostinho, no litoral de Pernambuco. De lá, prosseguiu para o norte, cruzou a foz do Rio Amazonas até o Rio Oiapoque, percorrendo, assim, todo o litoral do Amapá, que, juntamente com o estado do Pará, do qual foi desmembrado, em 13 de setembro de 1943, integra a Amazônia Ocidental, ou Atlântica. 

Os espanhóis já conheciam o Novo Mundo antes de Cabral, tanto que Cristóvão Colombo chegou à América em 12 de outubro de 1492. O Tratado de Tordesilhas, firmado entre Portugal e Espanha, em 1494, pôs a costa atlântica ao norte da foz do Rio Amazonas sob jurisdição espanhola. O Amapá começou a ser explorado em 1580. Dessa data até 1640, Portugal era governado pela Espanha. 

Além dos espanhóis e portugueses, o Amapá, chamado então de Cabo do Norte, era explorado também por franceses, ingleses e neerlandeses, que extraíam da região madeira, frutos, urucu, óleos vegetais e pescados. Também plantavam cana-de-açúcar e tabaco e criava-se gado. Em 15 de maio de 1895, os franceses invadiram o Amapá, mas, depois de correr sangue, acabaram retrocedendo e a questão foi resolvida diplomaticamente. 

No meu romance JAMBU, um trecho menciona como se forjou a etnia amapaense, a partir do maior ícone do estado, a Fortaleza de São José de Macapá, a capital, situada na esquina do maior rio do planeta, o Amazonas, com a Linha Imaginária do Equador, que secciona a cidade e a separa entre os dois hemisférios: 

Assim, a Fortaleza, maior ícone dos macapaenses, é a tradução perfeita de Macapá. Construída por escravos, negros e índios, sob o obsessivo domínio português, foi o cadinho no qual se forjou a etnia macapaense. Os portugueses cruzaram com os africanos e geraram mulatos, e fornicaram com os índios, formando uma população de mamelucos; os africanos fundaram o distrito de Curiaú e o bairro do Laguinho, misturaram-se com os índios e legaram cafuzos; e mulatos, cafuzos e mamelucos misturaram-se, fechando o círculo, numa diversidade étnica viva nas ruas de Macapá, nas nuanças de peles que vão do alabastro ao ébano, passando pelo bronze e jambo maduro, unidos pelo sotaque caboco: a fusão do português falado em Lisboa, doces palavras tupis, línguas africanas, patoá das Guianas, tudo triturado em corruptela”. 

E foi nesta cidade, que recebe os alísios e ecos do Caribe, que pioneiros fundaram a Academia Amapaense de Letras, em 1953, na data do aniversário de Machado de Assis, 21 de junho. O evento aconteceu na sala de estudos da Biblioteca Clemente Mariani, do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa, que congregava alunos do Ginásio Amapaense, quando o ginásio funcionava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. A posse da diretoria ocorreu no Cine Teatro Territorial, anexo ao Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em 5 de julho. E só. Não se ouviu mais falar na AAL, até 1988, quando foi realmente ativada. 

Hoje, presidida pelo escritor e compositor Fernando Canto, profundo conhecedor da identidade amapaense, a academia tem nas suas costas a responsabilidade de zelar pela cultura do estado, promovendo a publicação de livros fundamentais para o conhecimento da cultura amapaense, conferências nas universidades e debates, para que o Amapá seja melhor compreendido. Mas, para isso, é necessária independência financeira. Como assim, se a academia não tem sequer sede própria? 

Políticos amapaenses já prometeram terrenos em área central de Macapá e até prédios já prontinhos para os acadêmicos fazerem suas reuniões, palestras, conferências, debates e alugar dependências do prédio próprio, para não dependerem do poder público, mas são só promessas. Até agora, não doaram à academia nem uma choupana no Curiaú. Nas eleições deste ano, para prefeito e vereadores, as promessas vão engrossar, e o caldo vai ficar mais grosso, ainda, em 2026. 

Recapitulemos o caso da Academia Brasileira de Letras (ABL), fundada na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897, por Machado de Assis, seu primeiro presidente, Lúcio de Mendonça, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, Afonso Celso, Graça Aranha, Medeiros e Albuquerque, Joaquim Nabuco, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay e Ruy Barbosa, composta, atualmente, por quarenta membros efetivos e perpétuos, razão pela qual são chamados de imortais, e vinte sócios estrangeiros, com o objetivo de zelar pela língua portuguesa e a literatura brasileira. 

No começo, os acadêmicos se reuniam onde dava, até que, em 1923, a França doou a ela um prédio na Avenida Presidente Wilson, na Esplanada do Castelo, centro Rio de Janeiro, o Petit Trianon, o Pavilhão Francês na Exposição do Centenário da Independência do Brasil. Pronto, agora a academia já tinha a sua sede. Mas continuava de pires na mão. Aí, surgiu um homem que mudou essa situação: Austregésilo de Athayde, que se tornou presidente do silogeu, em 1958, cargo que exerceu durante 34 anos, até sua morte, em 1993. 

Austregésilo de Athayde pediu ao então presidente Juscelino Kubitschek a doação do Pavilhão Inglês, anexo ao Petit Trianon, com a intenção de demoli-lo e construir em seu lugar uma moderna torre. No último ano do seu mandato, 1960, Kubitscheck atende ao pedido e assina o decreto de doação. Contudo, no ano seguinte, o novo presidente da República, Jânio Quadros, revoga a doação feita pelo presidente Bossa Nova. 

A partir daí, Austregésilo de Athayde percorre um longo caminho pelos corredores da Ditadura dos Generais (1964-1985), conversando e trocando correspondência com militares graduados, como o coronel Jarbas Passarinho e o general Lira Tavares. Em abril de 1967, o presidente Castelo Branco assina o decreto de doação do Pavilhão Inglês, mas uma cláusula impedia qualquer modificação no edifício. 

Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva adoece e assume o comando do país uma junta militar, liderada por Lira Tavares. Morre o acadêmico Múcio Leão. Em 30 de dezembro daquele ano, Lira Tavares se candidata à vaga de Múcio Leão, e vence o poeta alagoano Lêdo Ivo. Em 2 de junho de 1970, Lira Tavares toma posse ABL. Em setembro de 1970, o presidente Garrastazu Médici derruba o impedimento de demolição do Pavilhão Inglês, em resolução aprovada pelo Congresso Nacional, em 3 de dezembro daquele ano. 

Em 1974, Austregésilo de Athayde se encontra com o presidente Ernest Geisel, que lhe dá sinal verde para pedir um empréstimo na Caixa Econômica Federal. O empréstimo sai em 15 de maio do ano seguinte. Em 16 de junho, falecia o acadêmico Ivan Lins. O ex-presidente Juscelino Kubitscheck se candidata à vaga, mas os militares não queriam Juscelino na academia. Outro candidato era o escritor baiano Bernardo Élis, que, assim como Juscelino, fora punido pela Revolução de 1964. Mas o que os militares não queriam na academia era Juscelino, que perdeu para Bernardo Élis. 

Em 1975, começam as obras do Edifício Centro Cultural do Brasil, o Palácio Austregésilo de Athayde, projetado pelo arquiteto carioca Maurício Roberto Doria Baptista (1921-1996), formado pela Escola Nacional de Belas Artes (1939-1944). Construído pela Ecisa Engenharia e inaugurado em 1979, o Palácio Austregésilo de Athayde é uma torre de 115 metros, 30 andares, 12 elevadores sociais, ar-condicionado central, 112 vagas de estacionamento, garagem com manobrista, salas de auditório com capacidade de 288 pessoas e brigada de incêndio 24 horas. A ABL ocupa somente algumas das dependências do edifício, que é sede de empresas nacionais e multinacionais. 

Pronto, a ABL nunca mais precisou andar com pires na mãe nos gabinetes de presidente da República, governadores e prefeitos do Rio de Janeiro, e inclusive paga mensalmente aos acadêmicos uma grana que dá para bancar aluguel de um pequeno apartamento, comer e andar durante o mês no Rio. 

É nisso que Fernando Canto tem que focar. Ainda gastará muito solado de sapato e tomará incontáveis chás de cadeira, mas acabará surgindo um empresário, um bilionário (há, no Amapá?), ou um Juscelino Kubitschek amapaense, que compreenda que a Academia Amapaense de Letras é a guardiã da cultura, da identidade amapaense. 

Quanto a mim, tornei-me o primeiro sócio correspondente da AAL, pois moro em Brasília. Os acadêmicos, por unanimidade, reconheceram meu trabalho como escritor e me diplomaram, em cadeira patroneada pelo poeta e cronista Isnard Brandão Lima Filho, pai da minha geração de escritores. Comecei a frequentar a casa dele, na Rua Mário Cruz, em 1968. Ele tinha 27 anos e acabara de publicar ROSAS PARA A MADRUGADA; eu tinha 14 anos. 

No prefácio que ele escreveu para XARDA MISTURADA, de Joy Edson (José Edson dos Santos), José Montoril e eu, diz: “Minhas mãos tocaram pérolas e lentejoulas, testaram rubis e palparam diamantes, e meu olhar cigano acendeu de alegria...” 

Tu é que jorraste tudo isso no meu coração, poeta, pelo que sou grato para sempre. Recebi de ti esse veio maravilhoso e ainda tive o reforço do nosso amigo Edevaldo Leal (jornalista e cronista), que me ensinou a lapidar os diamantes e rubis da Quinta Azul, onde “só podem entrar aqueles que trouxeram, ao nascer, a clara marca dos pequenos deuses”. 

Recebes, Isnard, minhas Rosas Para a Madrugada: 

Por que escreves? – pergunta-me o jornalista

– Para viver – respondo

Pois só com as palavras desnudo a luz

E voo até o fim do mundo

Por isso, escrevo granadas intensas como buracos negros

E garimpo o verbo como o primeiro beijo

Escrevo porque escrever traz aos meus sentidos

Cheiro de maresia

Dom Pérignon, safra de 1954

O labirinto do púbis no abismo do acme

Mulher nua como rosa vermelha desabrochando


Do livro DE TÃO AZUL SANGRA

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Yanomami. O horror! O horror!

Menina Yanomami agoniza na comunidade Maimasi (RR)

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 19 DE JUNHO DE 2024 – Os clássicos são, todos eles, contemporâneos, e sempre que os lemos lançam luzes sobre a existência. O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, é um deles. Foi publicado inicialmente em 1899, em três partes, na Blackwood's Magazine, e depois como livro, em 1902, em Londres. 

Charles Marlow, inglês, é contratado como capitão de um barco a vapor para transportar marfim rio Congo abaixo para uma companhia de comércio belga. Na época, o Congo era propriedade do Rei Leopoldo II da Bélgica. Marlow. Mas na primeira e única viagem que Marlow faz, toma para si a tarefa de resgatar o sr. Kurtz, um dos mais brilhantes agentes da empresa, das entranhas da selva, onde Kurtz começa a mostrar sintomas de loucura, a se sentir um deus perante os nativos, e se torna carta fora do baralho da empresa. 

Leopoldo II (1835-1909), o segundo Rei dos Belgas, de 1865 até sua morte, torna-se dono do Estado Livre do Congo, de 1884 a 1908. O regime imposto à colônia africana por Leopoldo II foi um dos episódios mais infames da humanidade. Oficiais belgas assassinavam congoleses como se estivessem praticando tiro ao alvo. A antiga colônia é hoje a República Democrática do Congo. 

Leopoldo II constituiu, em 15 de abril de 1891, a Companhia do Catanga, para explorar borracha e marfim no Congo, escravizando os nativos e os tratando com espancamento, mutilações e assassinatos. Estima-se que os belgas mataram pelo menos um milhão de congoleses. 

O Coração das Trevas inspirou Francis Ford Coppola a realizar o filme Apocalypse Now (1979), transferindo a ação para a guerra do Vietnã e colocando o sr. Kurtz como um coronel americano (Marlon Brando) que enlouquece e se refugia na selva vietnamita. 

O colonialismo na África é semelhante ao praticado na Amazônia. Enquanto na África a febre é por marfim e diamante, na Amazônia é por ouro, e a temperatura se elevou brutalmente nestes tempos de mordaça e demência. 

A Amazônia concentra, hoje, 94% – 100 mil hectares – dos garimpos no Brasil, de acordo com o MapBiomas. Metade desses garimpos é ilegal e também metade se encontra em áreas protegidas. De 2010 a 2020, garimpos em terras indígenas cresceram 495%; e nas unidades de conservação cresceram 301%. A contaminação por mercúrio de rios e peixes próximos a aldeias Yanomami é assustadora. 

Pior do que os Yanomami, que vivem ao norte do estado do Amazonas, na fronteira com a Venezuela, estão os Kayapó, no sul do Pará, e os Munduruku, no sudoeste do estado. Porém os Yanomami são o caso mais escandaloso, porque estão no holofote. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro de ser responsável pela situação dos Yanomami. A acusação é absurda. Enquanto isso, seu patrão, Lula, está mais preocupado em acabar com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia convidando Putin e Zelensky para uma rodada de 51. 

Uma foto, cedida pelo Centro de Documentação Indígena para divulgação, feita em 17 de abril de 2021, na comunidade Maimasi, em Roraima, é emblemática. Mostra uma menina, entre 7 e 8 anos, diagnosticada com malária, pneumonia, verminose e desnutrição, agonizando em uma rede. 

O Ministério da Saúde informou que a menina foi removida cinco dias depois que a foto foi feita por transporte aéreo para Boa Vista, onde foi internada no Hospital da Criança Santo Antônio. 

– Essas aldeias estão abandonadas. Todas elas sem assistência. Não há equipes. A equipe é desfalcada de pessoas. Têm postos de saúde que estão fechados há meses na Terra Yanomami – afirma o missionário Carlo Zacquini, que dá assistência aos Yanomami desde 1968. 

Maior reserva indígena do país, a Terra Yanomami fica entre os estados do Amazonas e Roraima, na fronteira com a Venezuela. Mais de 26 mil indígenas habitam a região, em cerca de 360 aldeias. 

Lula prometeu, várias vezes, resolver o problema dos Yanomami. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) afirmou à BBC News Brasil que o governo investiu 1 bilhão de reais em ações voltadas ao povo Yanomami, em 2023. Onde foi parar esse dinheiro? Afirmaram ainda que este ano serão 1,2 bilhão de reais. Desta vez os Yanomami vão tirar a barriga da miséria. 

Os Yanomami são a ponta do iceberg. A Amazônia brasileira tem 4.196.943 quilômetros quadrados, 59% do território nacional. Se fosse um país, seria o sexto maior do mundo em extensão territorial. Tem 38 milhões de habitantes. Trata-se da mais rica província biológica e mineral do planeta. Conquistada pelos portugueses e legada ao Brasil, está entregue à própria sorte. 

Com o advento da internet, até os cachorros já sabem o que se passa lá. Tráfico de minerais, animais, pessoas (principalmente crianças e mulheres para escravidão sexual), narcotráfico, máfias (conhecidas como facções), desvio de verbas, enriquecimento ilegal, garimpos, poluição, assassinato, estupro, o coração das trevas, o horror, o horror! 

As trevas, o horror, no romance de Joseph Conrad, não é o valor da vida dos congoleses. Nem os canibais que trabalham no vapor comandado por Marlow, ou a carne podre de hipopótamo que eles comem, já que Marlow não os deixa abaterem pessoas que não fossem da etnia deles, para comer. As trevas, o horror, são a ignorância. 

Há as trevas das pessoas simples, alienadas, e as trevas das pessoas instruídas, mas que gozam torturando e matando. Gozam, sobretudo, manipulando dinheiro, como os 51 milhões de reais que a Polícia Federal encontrou escondidos em várias malas em um apartamento alugado pelo ex-ministro da Integração Nacional (2007- 2010), Geddel Vieira Lima, em Salvador, em 2017.

domingo, 16 de junho de 2024

Diário de um escritor ribeirinho de Macapá/AP

Minha gata, Josiane, e eu, tendo ao fundo A Arlesiana, de Vincent van Gogh

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 16 DE JUNHO DE 2024 – Quando nasci, em 1954, Macapá/AP tinha 21 mil habitantes distribuídos em 6.407 quilômetros quadrados, três habitantes por quilômetro quadrado. Não sei se o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) chega à firula de registrar a população na sede do município, mas nos anos 1960, aos 6 anos de idade, lembro-me dos prédios de alvenaria do Centro, principalmente a casa do governador, o Macapá Hotel, o Fórum, o Grupo Escolar Barão do Rio Branco e a primeira metade do Colégio Amapaense. 

O subúrbio era um mundo desconhecido para mim, pois nasci na Maternidade do Hospital Geral, na Avenida FAB, e de lá fui para casa, ao lado do Colégio Amapaense, na esquina das ruas Iracema Carvão Nunes com a Eliezer Levy, onde ficava o Aeroporto de Macapá. Nasci e passei os primeiros 11 anos da minha vida no coração de Macapá. 

Trata-se de uma cidade facilmente encontrada no mapa, pois está situada na esquina, ou cruzamento, da Linha Imaginária do Equador com o maior rio do mundo, o Amazonas, na sua margem esquerda. Turistas pensam que a baía defronte a Macapá é o oceano Atlântico. Quanto à Linha do Equador, secciona a cidade. No Marco Zero, turistas gostam de passar de um hemisfério para o outro. 

Também como ribeirinho, aos 13 anos de idade fugi de casa para acompanhar uns vizinhos (na época, eu morava na Avenida Ataíde Teive, entre as ruas Leopoldo Machado e Hamilton Silva) em uma pescaria no rio Matapi. Pegamos algumas centenas de quilos de peixe e eu levei para casa uns 10 quilos, para agradar minha mãe, minha rainha, Marina. Pensei que ela estaria bravíssima comigo, mas ficou imensamente aliviada quando me reviu. 

Aos 14 anos, passei uns dias na ilha do pai do José Montoril, que participou comigo, e com o Joy Edson (José Edson dos Santos), do livro de poemas XARDA MISTURADA. Na ilha, no arquipélago do Marajó, participei de uma caçada a porcos domésticos que ficaram selvagens e de pescaria com timbó. Uma vez, deixei o anzol armado no trapiche e fisguei uma arraia, que foi apreciada no prato. Comi jacuraru, um tipo de camaleão, comum no Marajó; soiá, um tipo de rato do mato; e quandu, porco espinho. Ainda, zanzei bastante de barco e navio entre Macapá, Belém, Santarém e Manaus. 

Esta introdução é para justificar que sou ribeirinho. Bem que eu poderia começar esta crônica assim: meu querido diário. Mas achei que seria melhor primeiro esclarecer o título. Na verdade, moro atualmente em Brasília/DF, mas jamais deixarei de ser macapaense, pois nasci e fui educado em Macapá. Simples assim. 

Sou da geração de escritores que teve como guru o poeta Isnard Brandão Lima Filho, e foi influenciada por outros artistas, como Alcy Araújo e Raimundo Peixe. Naquela época, em que as comunicações andavam de carroça, era chique ser comunista. Hoje, sabe-se que o comunismo é a pior máfia que existe, organisadíssima, a ponto de tomar conta de regiões inteiras do mundo, como aconteceu com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) no leste europeu, e, vizinhas a nós, Cuba e Venezuela. 

Até hoje, quando, com determinação e paciência, temos a oportunidade de pesquisar, refletir e chegar à verdade histórica e consciência moral, ainda há os fãs de Fidel Castro, Che Guevara e Lule. Sou conservador, daí que a academia e a mídia de Macapá, progressistas até a medula, lavaram meu nome com thinner. Contudo, após uma década e meia trabalhando como repórter, redator e editor nos maiores jornais da Amazônia e sete romances, dois livros de contos e um de poemas publicados, meu nome não foi registrado com tinta, mas esculpido. 

Se não vendo livros em Macapá, vendo-os no Rio de Janeiro, nos Estados Unidos e para alguns brasileiros ou falantes de língua portuguesa na Europa. Antes da internet, escritores só se tornavam conhecidos quando dominavam marketing tipo Paulo Coelho. Agora, com editoras virtuais como a Amazon e Clube de Autores, não só temos o potencial de sermos lidos em qualquer ponto do planeta, como também de vender. A qualidade do que escrevemos, é claro, é que faz toda a diferença. 

Dito isso, esse diário, para ser franco, abarca mais de um dia, mas, como sou escritor, e escritores podem muito no mundo da criação, vou abarcar mais de um dia. No Dia dos Namorados, almocei, com minha gata, Josiane, na Pães e Vinhos, a melhor, na minha opinião, cafeteria, e também restaurante, do Sudoeste, bairro onde moro, em Brasília. À noite, fomos à palestra Marido e Mulher Eternos Namorados!, pelo preletor da Seicho-No-Ie, Gilberto Lima Jr. Extraordinária! Quando saímos do templo da Seicho-No-Ie fomos novamente a Pães e Vinhos, bater papo e bebericar. 

Após mais de 40 anos de bebedeira pesada e um infarto, parei de beber, mas não resisti e degustei três Cerpinhas enevoadas. Cerpinha é a melhor cerveja do planeta; paraense. O papo com minha gata foi longe. Adoro conversar com ela. É brilhante. Minha luz! 

Ontem, tivemos mais uma reunião de criação da Abrajet/DF. A Abrajet é a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo. Nossa reunião foi na casa da jornalista e empresária Wera Rakowitsch, sob o comando do jornalista e pioneiro Wílon Wander Lopes. Assinamos os documentos exigidos pelo cartório e em breve teremos a Abrajet/DF.

Como estamos em Brasília, nossa pauta será local e nacional. Quanto à distrital, nunca tivemos política de turismo. O Teatro Nacional Claudio Santoro, que reputo um dos mais belos do mundo, é um três por quatro da política de turismo do DF: está ruindo. Sobre a pauta nacional, temos a legalização do jogo de azar. É claro que é fundamental que isso ocorra em plena democracia. Atualmente, não dá.

Até outro dia, meu querido diário!

quarta-feira, 12 de junho de 2024

TRÓPICO: livro é um raio X do Brasil de hoje

Congresso Nacional (Marcos Oliveira/Agência Senado)

BRASÍLIA, 12 DE JUNHO DE 2024 – Reuni em TRÓPICO contos que representam o "paraíso tropical", o Brasil, especialmente Brasília, onde as demais 26 unidades federativas se encontram, enviando para o Congresso Nacional os homens ou as ratazanas que definem o futuro do país. O conto que segue é uma recriação da criação do Congresso Nacional.

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O CANTO das cigarras lembrava uma grande orquestra de jazz, em longo solo de metal. A algazarra era tremenda sob o sol que crestava a relva do cerrado na imobilidade da tarde, que ia ao meio. Ouvia-se barulho de trator à distância. Os dois homens arriaram os bornais com o lanche e se sentaram sobre o tronco de uma árvore tombada, à sombra de outras árvores. O guia, Toninho das Veredas, abriu seu alforje e tirou dele uma lata com tutu, um pedaço de queijo, doce de leite e uma garrafa de água. O outro homem tirou do seu bornal um sanduíche de salame e três laranjas já descascadas.

    – É verdade que Brasília vai ter o formato de uma cruz, doutor? – o guia perguntou.

    – É verdade – o outro respondeu. “Está mais para curvas sinuosas, femininas” – imaginou. “Simples apenas no cruzamento de duas avenidas, dois caminhos pontilhados de luzes cortando o breu noturno do cerrado. O coração do Brasil pulsando no Planalto Central; uma cidade fraterna.” – Aqui, onde estamos, será construída uma esplanada – disse, e antes que o guia lhe perguntasse o que é uma esplanada, explicou: – Uma esplanada é um terreno plano, um enorme terreno plano, gramado, a perder-se de vista. – Fez uma pausa. – Tenho algumas ideias, já fiz alguns esboços, mas as coisas estão ainda se definindo.

        – O senhor vai mandar tirar toda esta mata, doutor? – Toninho perguntou, entre uma e outra mastigada.

O outro olhou para as árvores tortas que se enfileiravam na imensidão da savana.

        – O presidente da república despachará de dentro de uma obra de arte, assim como os políticos e os ministros da corte suprema, e o povo morará em edifícios coletivos sobre pilotis – disse, em um tom quase brincalhão. – O que sei é que Brasília será mais do que uma cidade; será o símbolo da união – disse ao guia.

Um tatu entrou no campo de visão dos dois homens, estacou e arrancou. O guia se levantou depressa, pegou a espingarda, mas o tatu entrara em um buraco adiante.

        – Sente-se, homem, deixe o tatu em paz no seu buraco. A propósito, meu trabalho será construído em três níveis – prosseguiu o outro. – No horizonte, debaixo do solo e no ar. No horizonte, haverá gramados, concreto, muito concreto, e asfalto; haverá uma cidade subterrânea; e, no ar, torres – disse, quase de si para si.

        Os dois homens se encontravam onde hoje se ergue o Congresso Nacional, um labirinto sinistro, subterrâneo, sob duas bacias – uma de boca para cima e outra emborcada – e as torres gêmeas.

– O senhor não quer um pedaço de “quejim”? – o guia perguntou. O outro fez que não. O guia comia, com gosto, queijo e doce de leite. Lambeu um dedo e perguntou: – Mas se o senhor vai colocar, aqui, concreto e asfalto, como é que os bichos vão viver, doutor?

– Bom, eles deverão ter o seu lugar, quem sabe um zoológico, ou mesmo uma reserva só para eles? – disse o outro. – Todos terão o seu canto. Seremos um país realmente socialista. O presidente da república terá o palácio mais bonito – e pensou na Grécia Clássica. – Os congressistas, como são muitos, preciso projetar para eles um labirinto de gabinetes, auditórios, salas, salões, clínicas, restaurantes, corredores, passagens subterrâneas, para que eles possam se locomover à vontade no labirinto, se reunir, se sentir à vontade, como em casa, e permanecer no Congresso o maior tempo possível – disse.

– Mas esse negócio de buraco é bom pra tatu e pra bandoleiro se esconder, doutor! – disse o guia.

O outro riu.

– Isso pode ser resolvido com muita vidraça. Os subterrâneos serão para as pessoas caminharem. Arquitetura não constitui uma simples questão de engenharia, mas uma manifestação do espírito, da imaginação e da poesia. O Palácio do Congresso, por exemplo, posso formular sua composição em função das conveniências da arquitetura e do urbanismo, dos volumes, dos espaços livres, da oportunidade visual e das perspectivas, e, especialmente, da intenção de lhe dar o caráter de monumentalidade, com a simplificação de seus elementos e a adoção de formas puras e geométricas. Estou pensando... as avenidas que o ladearão deverão formar uma monumental esplanada, sobre a qual poderei fixar as cúpulas que o caracterizarão. E também posso projetá-lo em profundidade. A forma arquitetônica, mesmo contrariando princípios estruturais, é funcional quando cria beleza e se faz diferente e inovadora. E na outra extremidade da esplanada poderemos construir uma pirâmide – disse, pensando em Keopes e como Picasso a desenharia.

– O senhor acha que vai dar certo, gente de toda parte se mudar pra cá? Vai caber todo mundo? – disse o guia.

– Sim. Aqui, todos serão iguais – o outro respondeu. – Todos serão tratados com igualdade – disse ainda, como a confirmar seu próprio pensamento.

O sol despejava labaredas na mancha imóvel do cerrado. Os dois homens caminhavam devagar entre as árvores, até o jipe, estacionado no fim da picada. O arquiteto se sentou no banco do carona, ajeitou sua prancheta e se pôs a traçar esboços, enquanto o jipe sacolejava entre as árvores tortas.

domingo, 9 de junho de 2024

Senador é degolado com katana em hotel infestado de prostitutas no SHS de Brasília

Edição da Amazon: detetive investiga morte de senador

BRASÍLIA, 9 DE JUNHO DE 2024 – Em HIENA (Amazon e Clube de Autores, 157 páginas), romance policial de Ray Cunha, senador é degolado em uma Brasília de duas faces: corrupta ou luminosa. Personagens fictícias se misturam com pessoas de carne e osso, vivas ou mortas.

O país afunda em corrupção e o erário escorre pelo ralo em obras bilionárias e superfaturadas, e que nunca terminam. Ao investigar o assassinato de um senador da República, degolado com uma katana no suntuoso Tropical Hotel, que ocupa uma quadra inteira do Setor Hoteleiro Sul e onde voejam prostitutas de luxo, o detetive particular Hiena faz a grande descoberta de sua vida. 

Ray Cunha nasceu em Macapá/AP, na Amazônia Atlântica, e mora em Brasília. Devido ao seu trabalho como jornalista, conhece os subterrâneos, bem como os bastidores da cidade-estado, além de ser também observador privilegiado dos seus palácios e shoppings, catedrais pós-modernas da Ilha da Fantasia. 

Neste romance desfilam personalidades reais, como, por exemplo, o maestro Silvio Barbato, ressuscitado para reger a Orquestra do Teatro Nacional Claudio Santoro em dois clássicos: o Concerto Para Piano e Orquestra, em Ré Menor, de Mozart, e o Bolero de Ravel; as cantoras paraenses Carmen Monarcha, que se apresenta com André Rieu, e Joelma, da Banda Calypso; três artistas plásticos: José Pires de Moraes Rego, Olivar Cunha e André Cerino; e até a famosa personagem de ficção Brigitte Montfort. 

O cenário é a Brasília deslumbrante criada na prancheta de Oscar Niemeyer. 

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quarta-feira, 5 de junho de 2024

Rachadinha no conto O DEPUTADO

O Trópico em todo o seu fovismo nestes contos de um Brasil em chamas

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 5 DE JUNHO DE 2024 – Rachadinha, o furto do salário do assessor pelo senador, deputado ou vereador, ou qualquer bandido do colarinho branco, é uma indecência comum no Congresso Nacional, segundo a mídia. Até a mídia-carniça denuncia isso. Em TRÓPICO, recém-publicado, o conto O DEPUTADO é sobre isso:

O DEPUTADO parecia uma égua prenha de tão barrigudo. Acabara de comer de uma marmita de um quilo a mesma comida gordurosa que seu chefe de gabinete, e soltava pequenos arrotos em sequência.

– É pegar ou largar – disse para seu assessor de imprensa.

O caso era o seguinte: o deputado fora eleito líder da Minoria e colocaria seu assessor de imprensa lá, desde que ele concordasse em lhe repassar um terço do seu salário.

– Eu lhe dou a resposta, amanhã, deputado – disse o assessor de imprensa.

O deputado pensou um pouco.

– Está bem – disse. – Amanhã!

A esposa do deputado, que estava presente, disfarçava lixando as unhas, mas estava atenta ao diálogo. Era uma dessas mulheres fúteis, que passava a vida participando de festas com o único objetivo de aparecer nas colunas mundanas.

“Liderança da Minoria, meu Deus, onde fui parar” – pensava o jornalista, ao deixar o gabinete do deputado. “E ainda ter que continuar a dar o suor do meu rosto a esse depravado...” Ele sabia o que é que o deputado fazia, de vez em quando. Enquanto uma assessora dirigia seu carro, ele comia a outra no banco traseiro. Depois, a que acabara de ser comida ia ao volante enquanto a outra era papada. O deputado parecia um porco reprodutor. A mulher dele devia saber de tudo, mas não se importava. Certamente tinha seu pé de pano. “Bom, de qualquer forma tenho que dar uma resposta a esse filho de uma égua.”

No dia seguinte, o assessor de imprensa se apresentou ao novo líder da Minoria, para dar a resposta.

– Consegui um salário de 10 mil reais, mas tu vais repassar 5 mil para o Machado (o chefe de gabinete) e vais ter que atender ao gabinete e à liderança. Outra coisa: para de replicar matéria falando mal do Presidente. Vamos publicar no site somente matérias positivas, mostrando o crescimento do país. Que mania, só ver o lado ruim das coisas! Quero que tu cries um blog para mim e também quero ter um Twitter – disse o deputado, igual uma metralhadora.

O soco pegou-o na boca e ele caiu igual Silvio Berlusconi quando tomou aquela porrada... Levantou-se grogue. O chefe de gabinete, que também estava na sala, ficou amarelo.

– Filho duma égua, eis teu Twitter, ladrão do caralho. Acho que vou fazer teu parto, mensaleiro buchudo. Mete esse ultraje, que é a liderança da minoria, na flor do teu jardim de trás – disse o assessor de imprensa.

– Você não pode fazer isso – balbuciou o chefe de gabinete e levou um tabefe na cara.

Estavam somente os três homens no gabinete e um gabinete ao lado passava por reforma, de modo que o barulho na sala era abafado pela barulheira ao lado.

– E mais, patife, tu vais me pagar 24 mil reais, agora, referentes aos 1 mil reais que repasso todo mês, há dois anos. Agora! Anda, assinas o cheque! Tenho todos os recibos bancários dos depósitos na conta desta anta corrupta, aqui – disse, apontando para o chefe de gabinete. – Vamos! Vamos! Não há sobre o que pensar. Se não, vou rebentar com vocês. Tenho alguém no jornal O Estado de S.Paulo que publicará minha história com prazer, pois tenho documentos também daqueles favores que tu fizeste para o Sarnento Filho. Anda! Anda!...

“Ai, que alívio deixar esse esgoto” – disse o assessor de imprensa, de si para si. Do zebrinha ele via a Esplanada dos Ministérios, “capital da corrupção”. Com os 24 mil reais iria respirar um pouco em Salinópolis.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

TRISTES TRÓPICOS é culpa do Bolsonaro

Clássico de Claude Lévi-Strauss: crônica de viagem ao exótico

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 3 DE JUNHO DE 2024 – O poeta Jorge Tufic e eu estávamos tomando a maravilhosa Antarctica manauara, naquela noite de 1976, refugiados no Nathalia, onde alguns membros do Clube da Madrugada costumavam beber. 

– Só lemos para valer quando somos jovens – disse Tufic. 

Ele tinha 46 anos e se dedicava, à noite, após a labuta diária, ao culto à Antarctica. 

Na época, eu tinha 21 anos e trabalhava em A Notícia, ou em A Crítica, não lembro exatamente. Comecei a ler aos cinco anos de idade e na juventude traçava tudo o que ia aparecendo, de livros clássicos à bula de remédio e catálogo telefônico. Até dicionário eu lia. Lembrei-me disso, hoje, porque estive lendo Tristes Trópicos (Companhia das Letras, São Paulo, 2016, 454 páginas), de Claude Lévi-Strauss. 

De certa forma, meu caro amigo Tufic – que agora frequenta o Quartinho da Casa Amarela, um bar frequentado por escritores que já partiram para o Astral – tinha razão. Há livros que só lemos na juventude, porque, na juventude, lemos tudo. Já dobrei o Cabo da Boa Esperança há muito tempo e recentemente comprei no sebo do Ed Book um livro que há muito queria ler, O Jogo da Amarelinha, de Júlio Cortázar. Acho que aos 21 anos eu o teria lido tranquilamente, mas, aos 69, li apenas algumas páginas, folheei o livro todo, li alguma coisa da crítica sobre ele e o larguei. Não aguentei aquela conversa interminável daqueles jovens em Paris. Não fazia sentido para mim. E depois não sou crítico literário, nem tenho mais que escrever resenhas para jornal. Ao passo que li os seis volumes da Série Millennium, três de Stieg Larsson e três de David Lagercrantz, ambos escritores suecos, com total de 3 mil páginas, um atrás do outro; ia relê-los, mas vi que tenho uma pilha de livros para ler com urgência e, para dar espaço na minha estante, dei a série ao Ed Book.

E há aqueles livros do qual fazemos leitura meia-boca. Como aconteceu com Tristes Trópicos, de Claude Lévi-Strauss, que nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 28 de novembro de 1908, e morreu em Paris, França em 30 de outubro de 2009, judeu, antropólogo, professor, filósofo, sociólogo, membro da Academia Francesa. Tristes Trópicos foi publicado em 1955, pela Editora Plon, em Paris. O editor pediu a Lévi-Strauss um relato das suas viagens e ele o escreveu em quatro meses, baseado em uma viagem que fizera ao Brasil nos anos 1930. Lévi-Strauss trabalhava, na época, em um romance, e aproveitou o título para o novo livro: Tristes Trópicos. 

Em 500 páginas, Lévi-Strauss coloca frente à frente o novo e o velho mundos, e as mudanças geopolíticas dos anos 1930/1940, com uma erudição espantosa, desconcertante, sem linearidade, pulando as épocas. Foi sucesso instantâneo. 

Trata-se, de fato, de um livro de viagem, um diário, um olhar europeu sobre o Trópico. Um olhar sobre a primeira metade do século passado, de um jovem europeu estourando de erudição, de descobertas. O Trópico será sempre exótico para os europeus. 

Hoje, às vésperas de completar 70 anos de idade, no trópico dos trópicos, o Brasil, que se esgueira sob a ameaça de censura, de ditadura, com a economia corroída, li, em Tristes Trópicos, notícias de um tempo antigo, que interessa certamente aos estudantes de antropologia. Fico até em dúvida. Os estudantes de antropologia lerão Tristes Trópicos, ou apenas ouvem resenhas curtas no YouTube? 

Até onde li e folheei dá para sentir que Lévi-Strauss gostaria de salvar o Novo Mundo perdido, de salvar os selvagens. Tristes Trópicos é, de fato, uma crônica de viagem. Uma catedral ibérica no trópico. E mostra o sertão brasileiro com a clareza do sol. Nesse aspecto, é um livro atualíssimo. 

Se Lule já estivesse na ativa no começo do século passado quem sabe salvaria os indígenas de Lévi-Strauss, como está fazendo atualmente com os Yanomami. Os índios querem saúde, escola, trabalho e a preservação de sua cultura. Mas isso nem a ralé dos brasileiros brancos (mestiços, na verdade) têm. Hoje, não são somente os Yanomami que estão sufocando. 

Resta, em Tristes Trópicos, aquela maravilha de erudição. Mas isso já é para críticos literários, estudantes de antropologia e intelectuais. Os comunistas dirão que os tristes trópicos são culpa do Bolsonaro.

domingo, 2 de junho de 2024

2024. Ou uma crônica de inverno

Em A IDENTIDADE CARIOCA (Clube de Autores) chefão do crime
organizado sai à caça do Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 2 DE JUNHO DE 2024 – O inverno começa em duas semanas e meia, e vai até 22 de setembro. As madrugadas são frias e os dias, secos. Nossos irmãos do Rio Grande do Sul precisam de víveres e orações, de toda ajuda possível, pois foram atingidos duplamente: por uma inundação histórica e em tempos obscuros. No outro extremo do país, o ditador Nicolás Maduro ameaça invadir Roraima. 

O Brasil está cada vez mais frágil: escancarou as portas para os chineses, um bilhão e meio de chineses famintos, e o Brasil produz alimento suficiente para todas essas bocas. Rompeu relações diplomáticas com Israel, única democracia no Oriente Médio e celeiro da mais avançada tecnologia no planeta, e simpatiza com a ditadura iraniana e os terroristas do Hamas. E, aparentemente, torce pela Rússia. 

Já faz frio, muito frio, mas tentam amordaçar os brasileiros para que eles não reclamem do frio, para que aguentem a mandioca, calados. Só conseguem falar os jornalistas baseados nos Estados Unidos ou na Europa. 

O que os Estados Unidos dirão de tudo isso? Lá, está cheio de comunistas, mas a democracia americana é tão forte, baseada em instituições justas, que os vermelhos não conseguem destruir a família e o Estado para se espojarem nas suas carcaças. 

Porém as coisas estão se resolvendo. Vêm aí as eleições municipais e temos jornalistas, senadores e deputados democratas, justos e heroicos, que estão cuidando disso. E escritores também. Este ano tem sido muito produtivo para mim. Acabo de publicar um romance histórico, A IDENTIDADE CARIOCA, que corrige a visão marxista e positivista de historiadores clássicos. 

Após exaustiva pesquisa e interpretação do que foi pesquisado, alicerço a trama de A IDENTIDADE CARIOCA na construção do Brasil, a partir da descoberta da Baía de Guanabara pelos portugueses. Quanto à trama do romance, um jornalista e um chefão do crime organizado descobrem que a maior lenda urbana do Rio de Janeiro, o Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo, não é uma lenda, mas existe realmente, e saem à caça ao tesouro. Quem chegará à frente? Muita gente morrerá nessa corrida. 

Também A IDENTIDADE CARIOCA é a história do Rio de Janeiro, resgatando personalidades de ontem e de hoje. 

Trabalho ainda na sequência de O CLUBE DOS ONIPOTENTES. A trama deste segundo volume se estenderá de 8 de janeiro de 2022 até as próximas eleições americanas. 

Além disso, publiquei dois livros de contos: AMAZÔNIA e TRÓPICO. Quem quiser conhecer a Amazônia, em toda a sua nudez, leia meu romance JAMBU e também AMAZÔNIA, e quem quiser conhecer o Brasil, leia A IDENTIDADE CARIOCA, O CLUBE DOS ONIPOTENTES e TRÓPICO.