Ray Cunha e A IDENTIDADE CARIOCA: thriller histórico sobre o Brasil
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 12 DE JULHO DE 2024 – O Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo são 67 toneladas de ouro e uma imagem em tamanho natural de Santo Inácio de Loyola, também em ouro, com olhos de brilhantes e dentes de pérolas. Onde estará o tesouro?
Conforme a BBC News Brasil, 171,3 mil toneladas de ouro caberiam em uma sala quadrada com paredes de 20,7 metros de comprimento por 9,8 metros de altura. Segundo a revista Exame, o Brasil ocupa a quadragésima primeira posição no ranking de lastro de ouro, com 67,2 toneladas, 0,8% das reservas do país. O Tesouro dos Jesuítas ocuparia uma sala com cada uma das quatro paredes, chão e teto medindo cerca de sete metros.
Em 1 de março de 1565, Estácio de Sá desembarca na várzea do Morro Cara de Cão, na Ilha da Trindade, um ponto estratégico, e, em 20 de março, batiza o acampamento com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro, em homenagem ao rei Sebastião I. Na Ilha da Trindade, Estácio acampa em terreno plano, entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, onde ergue uma paliçada, embrião da Fortaleza de São João. Havia ainda, na Ilha da Trindade, o Morro da Urca.
A ilha, que era separada do continente por um canal raso e que, ainda no século XVI, foi aterrado, transformado em um istmo, foi estratégica na defesa aos ataques dos franceses e tamoios. Assim, a Ilha da Trindade, atual bairro da Urca, foi o embrião da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
A batalha decisiva de fundação do Rio de Janeiro, Uruçumirim, deu-se no Outeiro da Glória, então uma paliçada franco-tamoia, atacada pelas tropas portuguesas e os temiminós, em 20 de janeiro de 1567. Doze anos antes, em novembro de 1555, os franceses fundavam uma colônia na Baía de Guanabara, a França Antártica, na Ilha de Serigipe, atual Ilha de Villegagnon, onde construíram o Forte Coligny, arrasado, em março de 1560, pelo governador-geral Mem de Sá.
Mas os franceses se reorganizaram na Glória. Então, naquele janeiro de 1567, Mem de Sá, Estácio de Sá e Arariboia comandaram mais de 200 portugueses e centenas de temiminós contra Uruçumirim. O líder tamoio Aimberê, 600 tamoios e cinco franceses morreram em Uruçumirim, e dez franceses foram enforcados no dia seguinte à batalha. Da Glória, foram para a Ilha do Governador, outro reduto franco-tamoio, e da Ilha do Governador para outras aldeias. Segundo o padre José de Anchieta, foram “160 aldeias incendiadas, passado tudo a fio de espada”.
Hoje, no alto do outeiro descortina-se a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, ou Imperial Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, mais conhecida como Igreja da Glória, que foi frequentada pela Família Imperial.
Após a Batalha de Uruçumirim, o núcleo da cidade foi mudado da Urca para o Morro do Castelo, com 63 metros de altura e 184 mil metros quadrados de área no centro do Rio de Janeiro, onde, hoje, fica a Esplanada do Castelo. No morro , foi construída a Casa do Governador, a Câmara, a Cadeia, os Armazéns, o Colégio e a Igreja de São Sebastião.
Passado um certo tempo, a população da cidade começou a ocupar a área entre outros três morros: São Bento, Santo Antônio e Morro da Conceição. O acesso ao Morro do Castelo era feito pela Ladeira da Misericórdia, primeira via pública da cidade, e, depois, também pelas ladeiras do Castelo, do Poço do Porteiro e do Seminário.
Fora do Morro do Castelo foram erguidos o Colégio dos Padres Jesuítas da Companhia de Jesus, instalações que depois deram lugar ao Hospital Militar da Corte, e o Observatório Nacional, pois não demorou para que o Morro do Castelo ficasse pequeno demais para a expansão da cidade.
A reforma urbana do Rio de Janeiro, inspirada no que o barão Georges-Eugène Haussmann fez no Século XIX em Paris, começou com o prefeito Pereira Passos, nomeado pelo presidente Rodrigues Alves (1902-1906). Em 1905, foi aberta uma das principais vias urbanas do país, a Avenida Central, atual Rio Branco, no limite do Morro do Castelo com a Cinelândia. Foi durante as obras de abertura da Avenida Central que se descobriu uma galeria que ia para as entranhas do morro, onde os jesuítas teriam guardado o mitológico tesouro ao serem expulsos pelo Marquês de Pombal.
De 1921 a 1922, o Morro do Castelo veio abaixo a peso de dinamite, pás mecânicas, escavadeiras e bombas hidráulicas de jatos de alta pressão. O entulho foi utilizado para construir o Aeroporto Santos Dumont e aterrar a Glória, parte da Lagoa Rodrigo de Freitas e o Jardim Botânico. A obra, monumental, foi idealizada e comandada pelo prefeito Carlos Sampaio, 58 anos. Foi ele que também desmontou o Morro do Senado, ampliou o cais do porto e o aterro do Flamengo, abriu a Avenida Rio Branco e implementou a Light.
Só há uma obra que ele quis fazer mas não conseguiu: um metrô ligando o Rio de Janeiro a Niterói por debaixo da Baía de Guanabara. Porém rasgou estradas de ferro e pavimentadas, aterrou ilhas, reconfigurou bairros e avenidas, como a Portugal, que deu origem à Urca, e se envolveu com navegação e portos, levantando, ele mesmo, o financiamento, junto a investidores ingleses, canadenses e americanos, entre os quais o financista Percival Farquhar.
Debate-se, até hoje, a razão pela qual derrubaram o Morro do Castelo, que tinha 4 mil moradores e 408 casas, que foram todas desapropriadas. Pois foi pelo motor da História: o fator econômico. A ideia central era urbanizar a cidade para a Exposição Internacional do Centenário da Independência, aberta em 7 de setembro de 1922, mas a demolição do morro proporcionou o segundo maior investimento na indústria imobiliária no país, depois da construção de Brasília. A abertura da Esplanada do Castelo permitiu que o Rio de Janeiro crescesse para os lados, saneando seus pântanos, e para cima, com arranha-céus.
Em 20 de janeiro de 1922, foi realizada, com início às 8 horas, a última missa na Igreja de São Sebastião do Morro do Castelo – que viria a ser demolida em novembro daquele ano –, com a presença do presidente da República, Epitácio Pessoa, e do prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Sampaio.
Seguiu-se uma procissão de transladação dos restos mortais do fundador e primeiro governador da cidade, Estácio de Sá, a imagem de São Sebastião, trazida de Portugal por Estácio de Sá, e o Marco da Fundação da Cidade do Rio de Janeiro, até um casarão que pertencia às Monjas do Ajuda, na Rua Conde de Bonfim 290, Tijuca, adquirido pela prefeitura para os capuchinhos se abrigarem, provisoriamente, até que ficasse pronto o novo Santuário Basílica Matriz de São Sebastião dos Capuchinhos do Rio de Janeiro, na Rua Haddock Lobo 266, onde os jesuítas estavam instalados desde 1840.
A procissão chegou à Rua Conde de Bonfim às 12h30. Os capuchinhos permaneceram lá, com as relíquias removidas do Morro do Castelo, durante nove anos, de 20 de janeiro de 1922 a 15 de agosto de 1931. Às 7h30 daquele 15 de agosto, as relíquias foram transportadas em procissão e com honras militares do casarão na Rua Conde de Bonfim para o Santuário Basílica Matriz de São Sebastião dos Capuchinhos do Rio de Janeiro. Quanto ao casarão da Conde de Bonfim, abrigou uma agência dos Correios e Telégrafos, até 1976, quando foi demolido para a construção do metrô.
O Santuário Basílica Matriz de São Sebastião dos Capuchinhos do Rio de Janeiro foi erguido entre 1928 e 1931, em estilo neobizantino e neorromânico, em mármores coloridos, mosaicos e vitrais. Entre 1941 e 1942, a fachada da igreja foi alterada pelo arquiteto italiano Ricardo Buffa, autor também do altar-mor.
Além dos restos mortais de Estácio de Sá e da imagem de São Sebastião, os capuchinhos guardam no templo objetos históricos e artísticos da igreja de São Sebastião do Morro do Castelo, como o marco de pedra da fundação da cidade, com o escudo português esculpido, e a lápide tumular do fundador da cidade, com o brasão de Estácio de Sá em alto-relevo e uma inscrição comemorativa que Salvador Correia de Sá, primo de Estácio e segundo governador do Rio, mandou fazer, em 1583: “Primeiro capitão e conquistador dessa terra e cidade”.
Os jesuítas teriam escondido seu tesouro nas entranhas do Morro do Castelo, abaixo do nível do mar. Mas as galerias sob o antigo morro foram vasculhadas, esmiuçadas, e nunca encontraram nem uma moeda de ouro. A Esplanada do Castelo é delimitada pela Avenida Rio Branco, o Aeroporto Santos Dumont e a Praça 15 de Novembro, área onde foram construídos os atuais Palácio Gustavo Capanema, que sediou o Ministério da Educação e Cultura, as antigas sedes dos ministérios do Trabalho e da Fazenda, o Museu Histórico Nacional, o Fórum, o Palácio Tiradentes, a Escola Naval, a Igreja de Santa Luzia, a Biblioteca Nacional e a Academia Brasileira de Letras.
As 67 toneladas de ouro e uma imagem em tamanho natural de Santo Inácio de Loyola, também em ouro, com olhos de brilhantes e dentes de pérolas estariam ainda no subsolo da Esplanada do Castelo ou era muita coisa para ser retirada de lá em uma época na qual ainda não se dispunha da tecnologia de hoje? O tesouro existe, ou é só a maior lenda urbana do Rio de Janeiro? Se existe, onde está?
Em A IDENTIDADE CARIOCA (Clube de Autores, Amazon, 2024, 233 páginas), deste que vos escreve, não só esse segredo é desvendado, como também o leitor vai saber o que realmente se passou durante a criação do Rio de Janeiro e da identidade brasileira, livre da mentira comunista, ou positivista, com que os professores costumam contar a História do Brasil.
A IDENTIDADE CARIOCA é fundamental para todos que procuram
compreender o Brasil e a identidade brasileira.
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