sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Os sabiás pedem a Elon Musk para os livrarem da mordaça. Só que Musk terá que enfrentar Randolfe Rodrigues. Pacheco já foi a nocaute

Edição do Clube de Autores. O volume II será lançado em 2025

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 13 DE SETEMBRO DE 2024 – Os sabiás começam a cantar, em Brasília, no início de agosto, mas, este ano, começaram para valer só em setembro. Hoje, pela primeira vez, começaram a cantar às 4 horas, que é quando me levanto para escrever. Estou trabalhando no segundo volume de O CLUBE DOS ONIPOTENTES. Já tem título, mas só vou divulgá-lo quando entrar para venda na Amazon e no Clube de Autores, provavelmente no início do próximo ano. 

Quanto aos sabiás, tenho uma tese. Acho que a umidade relativa do ar em Brasília está tão baixa que afetou os machos da espécie. Já não chove, aqui, há quatro meses, e há dias em que fica mais seco do que no Saara. Isso, com o calor, manda muita gente para o hospital. Por isso, os sabiás devem ter brochado. 

Eles se reproduzem na primavera e atraem as fêmeas com seu canto. Sempre gostei do canto dos sabiás. Ainda bem que o ministro Alexandre de Moraes não pode amordaçar os sabiás. Só amordaça a mídia, incluindo sua aliada, a velha imprensa, que, aliás, nem precisa ser amordaçada, pois só divulga mentiras. Xandão tenta amordaçar o trilionário Elon Musk. Sem sucesso, diga-se, pois Musk é dono de milhares de satélites e sabe utilizar a internet como ninguém. 

O Senado, que é quem pode frear Xandão, é presidido por um sujeito tão asqueroso quanto carniça humana, mas os senadores já sabem como passar por cima de Rodrigo Pacheco. Só que para defenestrar Xandão a conta ainda não fechou. No Amapá, meu torrão natal, o senador Lucas Barreto, do PSD, deverá votar pela cabeça do Xandão, mas Davi Alcolumbre, do União, e o pestista Randolfe Rodrigues, líder de Lula no Senado, são pela mordaça. 

Lula e Alexandre de Moraes sentem ódio de Musk e querem impeachá-lo. Só que Musk, além de trilionário (se ainda não for está chegando lá; em dólares, claro), faz parte de um clube, muito pequeno, que reúne os maiores fornecedores de tecnologia para os Estados Unidos e com acesso a uma tecnologia capaz de ver, ouvir e ler tudo o que estão fazendo, para o bem e para o mal. 

Eles são capazes de saber e obter prova se alguém está chantageando, batendo em mulher, usando o poder público para perseguir, se estão estuprando, dando o derriere, conspirando, mandando matar, enfim, é um BBB completo, sem a punheta da Globo Lixo. 

O Amapá é famoso por acolher e se curvar a aventureiros. O mais famoso deles foi Jeca Sarney. Quando o ex-presidente, que não se elegeria mais nem para síndico no Maranhão, correu para o Amapá, os amapaenses ficaram encantados. Sarney inventou uma tal de Zona Franca de Macapá, atraindo dezenas de milhares de maranhenses desempregados e inchando Macapá. 

Agora temos Randolfe Rodrigues, que é de Garanhuns/PE, a mesma cidade natal de Lula. Ele e Davi Alcolumbre são os ídolos da intelectualidade e juventude amapaenses. Se depender deles, teremos Alexandre de Moraes indefinidamente. Só Musk na causa.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

É tão calma a noite. A noite é de nós dois. Ninguém amou assim, nem há de amar depois

Tudo acaba, mas as coisas que acontecem no coração são para sempre

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 6 DE SETEMBRO DE 2024 – Certa noite de 1976, o poeta Jorge Tufic e eu bebíamos a inesquecível Antarctica manauara, enevoada, em taças, como era comum no bar Nathalia. 

– Só lemos tudo o que precisamos ler na juventude. Depois disso, não lemos mais – disse-me o poeta, que tinha, então, 46 anos de idade. 

De certa forma, o poeta tinha razão. No meu caso, aprendi a ler aos 5 anos e nunca mais parei. Era tão viciado que durante certo tempo da minha vida lia até dicionário, bula de remédio e catálogo telefônico. Comecei, aos 5 anos, lendo gibis e revistas ilustradas, do meu irmão mais velho, Paulo Cunha, e, pré-adolescente, passei para literatura pesada e livros técnicos, também do Paulo. Adolescente, já havia lido alguns clássicos, entre os quais Tender is the Night, Suave é a Noite, de um dos gigantes da literatura norte-americana, Francis Scott Fitzgerald. 

Quarto e último romance de Fitzgerald, lançado em 1934, Suave é a Noite é ambientado na Europa, especialmente na França, onde os americanos da geração perdida gastavam seus dólares. Conta a história de Richard Diver, psiquiatra que comete o erro de se apaixonar por uma paciente, Nicole Warren. 

E é isso. As mais de 300 páginas do romance marcam o contraste entre a velha Europa e o modo de pensar e de viver dos norte-americanos da Geração Perdida do pós-Primeira Guerra Mundial. 

Para um garoto macapaense, no fim dos anos 1960, tudo aquilo era um mundo novo que se abria. Aliás, tudo para mim era novidade. Vivi em Macapá até os 17 anos e quando saí de lá fui a Belém. Levei um choque. Ainda aos 17 anos fui para o Rio de Janeiro. Mais choque. 

Passei uma década vivendo para lá e para cá, até que comecei, em 1982, a fazer faculdade de Jornalismo na Universidade Federal do Pará, em Belém. E haja leitura. Sempre foi uma das coisas mais prazerosas da minha vida. Ler, para mim, é como viajar com um cartão de crédito ilimitado. 

Mas essa conversa toda é para dizer o seguinte: a imersão e compreensão de um livro são relativas à nossa experiência. Já não consigo mais ler alguns livros. Vejam o caso de O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar. Passei a juventude ouvindo falar no romance e só o adquiri na velhice. Comecei a ler O Jogo com avidez, mas broxei rapidamente. Os longos diálogos entre os personagens já não significavam nada para mim. Na minha juventude, quando passava horas bebendo e batendo todo tipo de papo, teriam significado, mas, agora, não. 

Quando li Suave é a Noite fiquei encantado com a Côte D’azur, aquelas mulheres longilíneas, as bebidas sofisticadas, os hotéis, a psiquiatria, a paixão. Esta semana, voltei a ler Suave é a Noite e não conseguir mais. Aos 70 anos, tudo aquilo se foi. Comecei a me interessar mais por autores do nosso tempo, como John Grisan e Stieg Larsson, por física quântica e o espírito etc. 

A verdade é que os grandes escritores escrevem coisas do seu tempo, e quando são realmente grandes, escrevem coisas que servem para qualquer tempo. Assim é que alguns escritores envelhecem, como Fitzgerald em Suave é a Noite, ou Ernest Hemingway em Adeus às Armas, mas serão sempre os que melhor captaram seu tempo, de modo que se quisermos saber como eram as coisas em determinado lugar e tempo basta procurarmos grandes romances que se passam nesse lugar e tempo. 

Assim é com Machado de Assis. Se quisermos ter uma visão viva do que foi o Rio de Janeiro entre os séculos 19 e 20, Machado é um dos escritores capazes de nos mostrar a Cidade Maravilhosa como em um documentário dirigido por um grande cineasta. 

É claro que meu ponto de vista é limitado a mim. Cada pessoa é um universo e imerge em um romance com lentes subjetivas, de modo que, além de mim, Suave é a Noite terá sempre sabor de champagne e perfume de rosas, e Adeus às Armas, armistício pessoal. 

Além disso, alguns títulos são inesquecíveis de tão completos em si mesmos. Suave é a noite foi retirado do poema Ode a um Rouxinol, de John Keats. Em 1962, virou filme, Tender is the Night, dirigido por Henry King, e música, de Sammy Fain com letra de Paul Francis Webster, vertida para o português por Nazareno de Brito:


É tão calma a noite

A noite é de nós dois

Ninguém amou assim

Nem há de amar depois

 

Quando o amanhã nos separar

Em nossa lembrança hão de ficar

Beijos de verão

Ternuras de luar

A brisa a murmurar

Sua canção

 

Tudo tem suave encanto

Quando a noite vem

A noite é só nossa

No mundo não há mais ninguém

 

Beijos de verão

Ternuras de luar

A brisa a murmurar

Sua canção

 

Tudo tem suave encanto

Quando a noite vem

A noite é só nossa

No mundo não há mais ninguém

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Filosofia da Medicina Tradicional Chinesa

FOGO NO CORAÇÃO, thriller policial de Ray Cunha no qual as
personagens são acupunturistas que trabalham em Brasília/DF

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 3 DE SETEMBRO DE 2024 – Formei-me em Medicina Tradicional Chinesa pela Escola Nacional de Acupuntura (ENAc), em Brasília/DF, de 6 de agosto de 2013 a 12 de julho de 2016, com 2.080 horas/aulas presenciais e 440 horas de estágio nos ambulatórios da ENAc e Fernando Hessen, em um total de 2.520 horas/aula. Foi um curso técnico, ou tecnológico, então reconhecido pelo Ministério da Educação, tanto que a minha certificação foi publicada no Diário Oficial do DF. Fui preparado, por excelentes professores, para clinicar. Contudo, senti falta de uma disciplina: Filosofia da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Embora eu faça uso, o tempo todo, disto que é exclusivo do espírito: pensar. 

Pensar a Medicina Tradicional Chinesa, para o acupunturista, é fundamental, e muito importante. Alguns fatos, durante o curso, encaminharam-me a pensar a nova profissão que, então, estava abraçando (sou escritor e jornalista). Um dia, ouvi de um professor, um jovem brilhante, muito inteligente, que ele praticava a MTC clássica, ou seja, a acupuntura codificada no século 200 antes de Cristo, na China, país predominantemente frio. 

Obviamente que meu professor se referia à teoria da MTC, que, basicamente, diz o seguinte: o corpo humano, assim como a Terra, é movido à energia Qi, a energia vital, que se manifesta em duas polaridades: Yin e Yang. Essas polaridades são opostas, mas se complementam e se transformam uma na outra, em perfeito equilíbrio, o Tao. Mas o Taoismo é somente a base da acupuntura; quanto ao seu objeto, o homem, essa base é relativa. 

O homem da China clássica era primitivo, comparado ao homem de hoje, de 2024. Seus conhecimentos anatômicos, químicos e físicos eram escassos. De modo que a MTC significava, então, um tremendo avanço na medicina. Mas, raciocinar como um chinês de 2 mil anos atrás, em 2024, no Trópico, é insano. Começa que nos países frios nossos corpos não funcionam como no Trópico, que é uma zona geográfica quente. 

Mas, então, por que continuar praticando a MTC? Porque a base da MTC não muda de região para região; é apenas relativa. A base será sempre a mesma: a relação entra Yin e Yang e o meio ambiente. Mas há outra coisa entre 200 anos antes de Cristo e 2024: o avanço da Medicina Ocidental e tecnológico. Hoje, faz-se até cirurgia intrauterina, começou-se a compreender o mapa genético, sabe-se bastante como nosso corpo funciona, a Psicologia vem avançando na compreensão do comportamento humano e a parapsicologia vem comprovando a existência do espírito. 

Certa vez, um dos meus professores me contou que passara a noite em claro, pois sua filhinha estava gripada e com febre. Fez tudo o que podia no âmbito da MTC, mas, de madrugada, teve que levá-la a um pronto-socorro, onde o problema agudo foi rapidamente equacionado. 

Isso não quer dizer que devamos abandonar a MTC, mas que não existe uma terapia que resolva tudo. Comecei a clinicar em 2014, e, devido ao trabalho voluntário que realizo aos sábados e domingos, já atendi mais de mil pacientes, de todas as idades e com todo tipo de doença, inclusive de ordem espiritual, e o resultado é excelente. E a base do meu atendimento é a energia Qi, em suas polaridades Yin e Yang. Contudo, levo em consideração meus conhecimentos anatômicos, químicos, físicos e espirituais. 

Outra questão a que devemos atentar é para a fitoterapia. A fitoterapia chinesa é complexa; utiliza substâncias vegetais, animais e minerais, levando em consideração as polaridades Yin e Yang e os ciclos de geração e dominação dos cinco elementos: Fogo, Terra, Metal (Ar), Água e Madeira. Estudei fitoterapia chinesa na ENAc, mas apenas para passar na disciplina, pois utilizo fitoterapia brasileira, rica, resolutiva, muito mais simples do que a fitoterapia chinesa e à nossa disposição em qualquer região do país. 

Pensar é inerente ao ser humano, daí que pensamos tudo, ou filosofamos o tempo todo. Há pessoas que são eminentemente burocratas, isto é, seguem uma cartilha, não leem e não estudam, logo, não pensam. Mas nós, acupunturistas, temos o dever de pensar a acupuntura, nas coisas mais simples da profissão. 

Por exemplo, quando acabamos de atender um paciente idoso e muito doente, jamais o deixe levantar-se sozinho, pois ele pode cair da maca e morrer da queda. Aí, o terapeuta será acusado de crime culposo, e se não estiver com os papeis em dia, será acusado também de exercício ilegal da profissão. Apenas porque não pensou. Por isso, exercite-se em um dos fenômenos mais extraordinários da raça humana: pensar. Sem ansiedade. 

A bíblia do Taoismo é o Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, escrito entre 350 e 250 a.C., atribuído ao lendário Lao Tzi, literalmente, velho mestre. A obra inspirou, além do Taoismo, o Budismo Chan, da China, e sua versão japonesa, o Zen. 

E assim como a cultura judaico-cristã tem seus Dez Mandamentos, o Tao tem seus dez preceitos:

Não matar, mas sempre estar atento ao conjunto de seres vivos.

Não ser lascivo ou ter pensamentos depravados.

Não roubar ou receber riqueza injusta.

Não enganar ou deturpar o bem e o mal.

Não ficar inebriado, mas sempre pensar de conduta pura.

Vou manter a harmonia com os meus antepassados ​​e familiares e nunca desprezar a minha família.

Quando vejo alguém fazer uma boa ação, vou apoiá-lo com alegria e prazer.

Quando vejo alguém triste, vou apoiá-lo com dignidade para recuperar a boa fortuna.

Quando alguém vem fazer-me mal, eu não vou nutrir pensamentos de vingança.

Mesmo que todos os seres não tenham alcançado o Tao, não vou esperar para fazê-lo eu mesmo.

domingo, 1 de setembro de 2024

Atenção, políticos do Amapá: a Academia Amapaense de Letras merece ter sede própria

Palestras de Leão Zagury, Ray Cunha e Wilson Carvalho 

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 1 DE SETEMBRO DE 2024 – Convidado para falar dia 20 de junho de 2023, no auditório do Senac, na Avenida Henrique Galúcio 1999, Centro de Macapá/AP, em comemoração aos 70 anos da Academia Amapaense de Letras (AAL), fundada em 21 de junho de 1953, o gancho da minha palestra foi a sede própria do silogeu. Afirmei, na minha fala, que a Academia é a maior responsável pela produção, provisão e vigilância da cultura amapaense, ou seja, da identidade tucuju. Daí que deve reivindicar sede própria aos políticos locais. 

Contudo, adverti: aos políticos não pedimos, exigimos, e as promessas devem ser amplamente divulgadas e cobradas, olho no olho. Soube, depois, que as promessas são muitas, do governador ao deputado, e que já deram sinal verde para os acadêmicos escolherem um prédio. 

Sugiro aos acadêmicos se reunirem e procurarem conversar, juntos, com o governador e com o prefeito, sempre com a imprensa ao lado, para garantir um prédio ou um terreno no centro da cidade. Se for um terreno, podem fazer negócio com uma construtora e incorporadora e garantir parte de um edifício de vários andares, onde a Academia seria instalada e as demais salas, alugadas, para custear o funcionamento e trabalhos da instituição. 

Ray Cunha defronte ao Palácio Austregésilo de Athayde, no centro do Rio

Na palestra, dei como exemplo a criação da Academia Brasileira de Letras (ABL), fundada em 20 de julho de 1897, nas instalações do Pedagogium, prédio fronteiro ao Passeio Público, no centro do Rio de Janeiro, pelos escritores Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, Afonso Celso, Graça Aranha, Medeiros e Albuquerque, Joaquim Nabuco, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay e Ruy Barbosa. 

Inspirada na Academia Francesa, é composta, atualmente, por quarenta membros efetivos e perpétuos, 25 dos quais devem morar no Rio de Janeiro, e 20 sócios correspondentes estrangeiros, com a missão de cultuar a língua portuguesa e a cultura nacional, especialmente a literatura brasileira. 

Sem sede própria nem dinheiro, as reuniões da ABL eram realizadas nas dependências do antigo Ginásio Nacional, no Salão Nobre do Ministério do Interior, no salão do Real Gabinete Português de Leitura e no escritório de advocacia do primeiro secretário, Rodrigo Octávio, na Rua da Quitanda 47. 

A partir de 1904, as reuniões passaram a acontecer no Silogeu Brasileiro, um prédio público que abrigava outras instituições culturais, até 1923, quando o governo francês doou à academia o prédio do Pavilhão Francês na Exposição do Centenário da Independência do Brasil, na Avenida Presidente Wilson 203, uma réplica do Petit Trianon de Versalhes, projetado pelo arquiteto Ange-Jacques Gabriel, entre 1762 e 1768. 

Em 1923, o governo francês doou à ABL o prédio do Pavilhão Francês, tombado, em 9 de novembro de 1987, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. 

Desde a década de 1950, os acadêmicos tinham planos de demolir o Petit Trianon para erguer no terreno uma torre moderna, para o que precisavam conseguir financiamento na Caixa Econômica Federal. 

Pernambucano de Caruaru, Belarmino Maria Austregésilo Augusto de Athayde nasceu em 25 de setembro de 1898 e faleceu em 13 de setembro de 1993, no Rio de Janeiro. Graduado em Direito, trabalhava como jornalista. Fez oposição à Revolução de 1930 e apoiou o Movimento Constitucionalista de São Paulo, de 1932, o que o levou à prisão e ao exílio durante meses na Europa – Portugal, Espanha, França, Grã-Bretanha e Irlanda do Norte – e Buenos Aires, Argentina, onde morou por dois anos (1933-1934). 

Retorna ao Brasil e reassume no grupo Diários Associados, como articulista e diretor do Diário da Noite e redator-chefe de O Jornal, onde mantém a coluna diária Boletim Internacional. Cai o Estado Novo e Austregésilo de Athayde faz pressão para a abertura de inquérito policial e administrativo para apurar os crimes e desvio de verbas públicas do regime deposto. Ao convite do magnata da imprensa Assis Chateaubriand, torna-se CEO dos Diários Associados, então o maior conglomerado de mídia da América Latina. Após a morte de Assis Chateaubriand, em 1968, passa a integrar o condomínio proprietário dos Diários Associados. 

Em 1948, integra a delegação brasileira na III Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, e a comissão redatora da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Em 1953, é diplomado na Escola Superior de Guerra e passa a ser conferencista daquele centro. 

Em 17 de maio de 1958, recebe a comenda da Ordem Militar de Cristo; em 20 de dezembro de 1960, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique; e, em 26 de novembro de 1987, é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal. 

Autor de Direitos Humanos no Século 21 (Austregésilo de Athayde e Daisaku Ikeda), Histórias Amargas (1921), A Influência Espiritual Americana (1938), Mestres do Liberalismo (1952), Vana verba (1966), Epístola aos Contemporâneos (1967), Conversas na Barbearia Sol (1971), Filosofia básica dos direitos humanos, ensaio (1976), e Alfa do Centauro, crônicas (1979), ingressa na Academia Brasileira de Letras, em 9 de agosto de 1951, para a cadeira 8, sucedendo a Oliveira Viana, e é recebido pelo acadêmico Múcio Leão, em 14 de novembro daquele ano. Em 1958, torna-se presidente do silogeu, o que exerce durante 34 anos, até sua morte, em 1993. 

Austregésilo de Athayde era contra a demolição do Petit Trianon e mudou o rumo da história. Pediu ao presidente Juscelino Kubitschek a doação do Pavilhão Inglês, anexo ao Petit Trianon, na Avenida Presidente Wilson com a Rua Santa Luzia e a Avenida Presidente Antônio Carlos, com o objetivo de demoli-lo e construir em seu lugar uma moderna torre. 

No último ano do seu mandato, 1960, Kubitscheck atende ao pedido e assina o decreto de doação. Contudo, no ano seguinte, o novo presidente da República, Jânio Quadros, revoga a doação feita pelo presidente Bossa Nova. 

A partir daí, Austregésilo de Athayde percorre um longo caminho pelos corredores da Ditadura dos Generais (1964-1985), conversando e trocando correspondência com militares graduados, como o coronel Jarbas Passarinho e o general Lira Tavares. Em abril de 1967, o presidente Castelo Branco assina o decreto de doação do Pavilhão Inglês, mas uma cláusula impedia qualquer modificação no edifício. 

Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva adoece e assume o comando do país uma junta militar, liderada por Lira Tavares. Morre o acadêmico Múcio Leão. Em 30 de dezembro daquele ano, Lira Tavares se candidata à vaga de Múcio Leão e vence o poeta alagoano Lêdo Ivo. Em 2 de junho de 1970, Lira Tavares toma posse na ABL. 

Em setembro de 1970, o presidente Garrastazu Médici derruba o impedimento de demolição do Pavilhão Inglês, resolução aprovada pelo Congresso Nacional em 3 de dezembro daquele ano. 

Em 1974, Austregésilo de Athayde se encontra com o presidente Ernest Geisel, que lhe dá sinal verde para pedir um empréstimo na Caixa Econômica Federal. O empréstimo sai em 15 de maio do ano seguinte. Em 16 de junho, falecia o acadêmico Ivan Lins. O ex-presidente Juscelino Kubitscheck se candidata à vaga, mas os militares não queriam Juscelino na academia. Outro candidato era o escritor baiano Bernardo Élis, que, assim como Juscelino, fora punido pela Revolução de 1964. Mas o que os militares não queriam na academia era Juscelino, que perdeu para Bernardo Élis. 

Em 1975, começam as obras do Edifício Centro Cultural do Brasil, o Palácio Austregésilo de Athayde, projetado pelo arquiteto carioca Maurício Roberto Doria Baptista (1921-1996), formado pela Escola Nacional de Belas Artes (1939-1944). Construído pela Ecisa Engenharia e inaugurado em 1979, o Palácio Austregésilo de Athayde é uma torre de 115 metros, 30 andares, 12 elevadores sociais, ar-condicionado central, 112 vagas de estacionamento, garagem com manobrista, salas de auditório com capacidade de 12 a 288 pessoas e brigada de incêndio 24 horas. A ABL ocupa somente algumas das dependências do edifício, que é sede de empresas nacionais e multinacionais. 

Parte do Palácio Austregésilo de Athayde é utilizada para as atividades culturais da ABL e parte é alugada para várias empresas. É daí que vem a renda da academia.

A Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça fica no segundo andar do Petit Trianon, ocupando uma área de 250 metros quadrados. Além de livros, seu acervo se constitui também de quadros de grandes pintores, esculturas e móveis de época. Remonta à criação da Academia Brasileira de Letras, com a doação do romance Flor de Sangue, pelo seu autor, Valentim Magalhães, em 28 de dezembro de 1896, mas foi criada em 13 de novembro de 1905, proposta por Rodrigo Octavio, seu primeiro diretor, ainda sob a presidência de Machado de Assis. 

Desde sua fundação, a academia recebe doações de coleções particulares de acadêmicos, escritores, intelectuais e bibliófilos, como do próprio Machado de Assis e escritores como Manuel Bandeira e Olavo Bilac. Seu acervo conta com primeiras edições de obras clássicas da literatura mundial, assim como obras raras, destacando-se a edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões, de 1572. 

Em 1999, com 20 mil volumes, não havia mais espaço para ampliar o acervo, assim, por sugestão do acadêmico Josué Montello, na presidência do acadêmico Arnaldo Niskier, foi criada a Biblioteca Rodolfo Garcia, no Palácio Austregésilo de Athayde, visando o público em geral, enquanto a Biblioteca Acadêmico Lúcio de Mendonça atende aos acadêmicos e pesquisadores.

Ray Cunha autografa o romance JAMBU, nos 70 anos da AAL

Em 5 de abril deste 2024, fui eleito o primeiro sócio correspondente da Academia Amapaense de Letras, por unanimidade, conforme comunicado do secretário da AAL, Paulo Tarso Barros, confirmado pelo presidente do silogeu, Fernando Canto, pessoalmente, durante encontro, dois dias depois, no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília/DF, onde o escritor fez escala rumo a São Paulo.

Meu patrono na AAL é o poeta Isnard Brandão Lima Filho, que considero o pai da minha geração de escritores.