terça-feira, 3 de setembro de 2024

Filosofia da Medicina Tradicional Chinesa

FOGO NO CORAÇÃO, thriller policial de Ray Cunha no qual as
personagens são acupunturistas que trabalham em Brasília/DF

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 3 DE SETEMBRO DE 2024 – Formei-me em Medicina Tradicional Chinesa pela Escola Nacional de Acupuntura (ENAc), em Brasília/DF, de 6 de agosto de 2013 a 12 de julho de 2016, com 2.080 horas/aulas presenciais e 440 horas de estágio nos ambulatórios da ENAc e Fernando Hessen, em um total de 2.520 horas/aula. Foi um curso técnico, ou tecnológico, então reconhecido pelo Ministério da Educação, tanto que a minha certificação foi publicada no Diário Oficial do DF. Fui preparado, por excelentes professores, para clinicar. Contudo, senti falta de uma disciplina: Filosofia da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Embora eu faça uso, o tempo todo, disto que é exclusivo do espírito: pensar. 

Pensar a Medicina Tradicional Chinesa, para o acupunturista, é fundamental, e muito importante. Alguns fatos, durante o curso, encaminharam-me a pensar a nova profissão que, então, estava abraçando (sou escritor e jornalista). Um dia, ouvi de um professor, um jovem brilhante, muito inteligente, que ele praticava a MTC clássica, ou seja, a acupuntura codificada no século 200 antes de Cristo, na China, país predominantemente frio. 

Obviamente que meu professor se referia à teoria da MTC, que, basicamente, diz o seguinte: o corpo humano, assim como a Terra, é movido à energia Qi, a energia vital, que se manifesta em duas polaridades: Yin e Yang. Essas polaridades são opostas, mas se complementam e se transformam uma na outra, em perfeito equilíbrio, o Tao. Mas o Taoismo é somente a base da acupuntura; quanto ao seu objeto, o homem, essa base é relativa. 

O homem da China clássica era primitivo, comparado ao homem de hoje, de 2024. Seus conhecimentos anatômicos, químicos e físicos eram escassos. De modo que a MTC significava, então, um tremendo avanço na medicina. Mas, raciocinar como um chinês de 2 mil anos atrás, em 2024, no Trópico, é insano. Começa que nos países frios nossos corpos não funcionam como no Trópico, que é uma zona geográfica quente. 

Mas, então, por que continuar praticando a MTC? Porque a base da MTC não muda de região para região; é apenas relativa. A base será sempre a mesma: a relação entra Yin e Yang e o meio ambiente. Mas há outra coisa entre 200 anos antes de Cristo e 2024: o avanço da Medicina Ocidental e tecnológico. Hoje, faz-se até cirurgia intrauterina, começou-se a compreender o mapa genético, sabe-se bastante como nosso corpo funciona, a Psicologia vem avançando na compreensão do comportamento humano e a parapsicologia vem comprovando a existência do espírito. 

Certa vez, um dos meus professores me contou que passara a noite em claro, pois sua filhinha estava gripada e com febre. Fez tudo o que podia no âmbito da MTC, mas, de madrugada, teve que levá-la a um pronto-socorro, onde o problema agudo foi rapidamente equacionado. 

Isso não quer dizer que devamos abandonar a MTC, mas que não existe uma terapia que resolva tudo. Comecei a clinicar em 2014, e, devido ao trabalho voluntário que realizo aos sábados e domingos, já atendi mais de mil pacientes, de todas as idades e com todo tipo de doença, inclusive de ordem espiritual, e o resultado é excelente. E a base do meu atendimento é a energia Qi, em suas polaridades Yin e Yang. Contudo, levo em consideração meus conhecimentos anatômicos, químicos, físicos e espirituais. 

Outra questão a que devemos atentar é para a fitoterapia. A fitoterapia chinesa é complexa; utiliza substâncias vegetais, animais e minerais, levando em consideração as polaridades Yin e Yang e os ciclos de geração e dominação dos cinco elementos: Fogo, Terra, Metal (Ar), Água e Madeira. Estudei fitoterapia chinesa na ENAc, mas apenas para passar na disciplina, pois utilizo fitoterapia brasileira, rica, resolutiva, muito mais simples do que a fitoterapia chinesa e à nossa disposição em qualquer região do país. 

Pensar é inerente ao ser humano, daí que pensamos tudo, ou filosofamos o tempo todo. Há pessoas que são eminentemente burocratas, isto é, seguem uma cartilha, não leem e não estudam, logo, não pensam. Mas nós, acupunturistas, temos o dever de pensar a acupuntura, nas coisas mais simples da profissão. 

Por exemplo, quando acabamos de atender um paciente idoso e muito doente, jamais o deixe levantar-se sozinho, pois ele pode cair da maca e morrer da queda. Aí, o terapeuta será acusado de crime culposo, e se não estiver com os papeis em dia, será acusado também de exercício ilegal da profissão. Apenas porque não pensou. Por isso, exercite-se em um dos fenômenos mais extraordinários da raça humana: pensar. Sem ansiedade. 

A bíblia do Taoismo é o Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, escrito entre 350 e 250 a.C., atribuído ao lendário Lao Tzi, literalmente, velho mestre. A obra inspirou, além do Taoismo, o Budismo Chan, da China, e sua versão japonesa, o Zen. 

E assim como a cultura judaico-cristã tem seus Dez Mandamentos, o Tao tem seus dez preceitos:

Não matar, mas sempre estar atento ao conjunto de seres vivos.

Não ser lascivo ou ter pensamentos depravados.

Não roubar ou receber riqueza injusta.

Não enganar ou deturpar o bem e o mal.

Não ficar inebriado, mas sempre pensar de conduta pura.

Vou manter a harmonia com os meus antepassados ​​e familiares e nunca desprezar a minha família.

Quando vejo alguém fazer uma boa ação, vou apoiá-lo com alegria e prazer.

Quando vejo alguém triste, vou apoiá-lo com dignidade para recuperar a boa fortuna.

Quando alguém vem fazer-me mal, eu não vou nutrir pensamentos de vingança.

Mesmo que todos os seres não tenham alcançado o Tao, não vou esperar para fazê-lo eu mesmo.

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