O thriller histórico A IDENTIDADE CARIOCA, edição do Clube de Autores |
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 14 DE OUTUBRO DE 2024 – Estudantes amapaenses não leem autores amapaenses por três razões: não os conhecem, pois os professores de literatura das escolas, universidades e faculdades locais pouco conhecem da literatura local. Podem até saber muito de literatura e escritores, mas norte-americanos e brasileiros do Sudeste, precisamente porque americanos, cariocas e paulistanos são bons de marketing, bons vendedores da sua literatura. É preciso frequentar o clube do confete ou ser comunista para não encalhar. Escritores conservadores são apagados do mapa.
A segunda razão é o seguinte: sempre há quem tenha curiosidade e disposição de ler alguma coisa dos escritores do Amapá. Sei, por exemplo, que o poeta e contista Fernando Canto já vendeu mil exemplares em uma noite de autógrafos. Isso é um fenômeno, mesmo no Rio ou São Paulo. Mas ele é o escritor mais conhecido do Amapá, muito à frente dos demais, em termos de reconhecimento. Só que quando alguém procura alguma coisa da literatura amapaense não encontra porra nenhuma em livraria alguma.
Aí, tem o seguinte: livros há à venda. Eu, por exemplo, tenho dezenas de títulos de romances, livros de contos e de poemas à venda, em qualquer cidade do mundo, nas livrarias do Clube de Autores, da amazon.com.br, em sebos virtuais etc., mas o amapaense não tem o costume, às vezes nem sabe que existe, a compra de livro on line, para receber o volume em casa, pelos Correios.
A terceira razão é que existe muito mais literatura daquelas que a gente não larga até acabar o livro entre escritores americanos, europeus, japoneses e sudestinos (Rio e São Paulo).
Haveria uma quarta razão das vendas de livros de escritores amapaenses serem tão fracas: a divulgação da produção local é precária. Os jornais impressos não contam com críticos literários e há intelectuais comunistas que se o escritor for de direita – pode ser até Mario Vargas Llosa –, ignoram.
Quanto a mim, sou caboco de Macapá/AP e grande parte dos meus romances e contos é ambientada na Amazônia, especialmente nas grandes cidades da Amazônia. Tenho livros na Biblioteca Pública Alcy Lacerda, de Macapá, e, desconfio, na Biblioteca da Universidade Federal do Amapá (Unifap), e sou sócio correspondente da Academia Amapaense de Letras (AAL), mas pode haver o festival literário que houver em Macapá que não aparece um livro meu.
Em parte compreendo isso. Desde 1985 que a esquerda domina absoluta o mercado cultural brasileiro, e sou conservador. Também minha literatura tem muito sexo e violência, e tem um clube de coroinhas e carolas em Macapá que prefere o diabo a mim.
Assim, surpreendi-me com a tese de doutorado “A Literaturado do Amapá”, do professor-adjunto do Curso de Letras da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), Francesco Marino, com 553 páginas, apresentada em 2022, sob orientação do professor Aparecido Donizete Rossi, apresentada na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara/SP.
O que diz Francesco Marino sobre o meu trabalho: “Raimundo Pereira Cunha é o nome completo de Ray Cunha, nom-de-plume, que, na entrevista a Aldemyr Feio, se apresenta assim: Nasci em Macapá, na margem esquerda do estuário do rio Amazonas, e cortada pela Linha Imaginária do Equador, em 7 de agosto de 1954. Fui educado na Amazônia. Conheço a Hileia razoavelmente, por longa leitura e por ter estado lá. Vivo em Brasília por uma questão de mercado de trabalho. Aqui, consigo oferecer à minha família razoável padrão de vida, sustentado pela minha profissão, jornalismo. Literatura, para mim, é minha missão pessoal. Embora morando em Brasília, a internet me permite ficar ligado o tempo todo à Amazônia. Tenho ligação íntima com Belém, um dos meus grandes amores, e, naturalmente, com Macapá. Quanto a Brasília, já somos velhos namorados. Brasília me deu duas mulheres fundamentais: minha esposa, e minha luz, Josiane, e uma flor, minha filha Iasmim (CUNHA, 2013, online).
“Ray Cunha é escritor, jornalista, acupunturista, ou como ele se define no seu site, “terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa” (CUNHA, 2013, online), viveu em Macapá até os dezessete anos, viajou para o Rio de Janeiro em 1972, voltou para Macapá e depois deslocou-se para Manaus-AM (1975-1977) e, em seguida, para Belém-PA (1977-1987), com uma breve passagem por Rio Branco-AC (1978-1979), e, enfim, desde 1987, em Brasília, cidade onde mora atualmente.
“A sua produção literária espaça entre contos, romances, poemas, crônicas e a sua primeira publicação foi XARDA MISTURADA (1971), coletânea de poemas em conjunto com José Edson dos Santos e José Montoril; em seguida, publicou outro livro de poesia, intitulado SOB O CÉU NAS NUVENS (1982), e o terceiro e, por enquanto, último livro de poesia é DE TÃO AZUL SANGRA (2018), com poemas de cunho erótico.
“As coletâneas dos contos começam com A GRANDE FARRA (1990) e continuam com A CAÇA (1996), TRÓPICO ÚMIDO – TRÊS CONTOS AMAZÔNICOS (2000), todos eles com a maioria dos contos ambientada na Amazônia, especialmente no Amapá, em Belém e no interior do Pará. Compôs também as coletâneas de contos O CASULO EXPOSTO (2008), com histórias ambientadas em Brasília, sobretudo no ambiente político; NA BOCA DO JACARÉ-AÇU – A AMAZÔNIA COMO ELA É (2013), contos ambientados na ilha do Marajó e na cidade de Belém-PA.
“O primeiro romance lançado foi A CASA AMARELA (2003), apresentando Macapá dos anos de 1960, no começo da ditadura militar e os seus efeitos na capital do Amapá; HIENA e A CONFRARIA CABANAGEM, ambos de 2014, são thrillers político-policial com o detective que desvenda os casos, o primeiro é ambientado em Brasília e o segundo em Belém, este último com uma vertente ecológica; também FOGO NO CORAÇÃO (2016) faz parte dos thrillers policias e é ambientado em Brasília, mas no âmbito de um instituto de holística com acupuntura como fundo; com o romance JAMBU (2019) Ray Cunha voltou a ambientar o seu romance no Amapá, durante o Festival de Gastronomia do Pará e Amapá; nesse livro é retomada a questão amazônica. O último romance publicado é O CLUBE DOS ONIPOTENTES (2021) preconizando o assassinato do presidente e vice-presidente. O escritor também produziu crônicas, as quais estão publicadas no seu site e de outros escritores.
“Entre as várias temáticas que os textos dele abordam, a Amazônia é um dos temas mais recorrentes, sendo retratada em vários contos e romances, sobretudo ambientando as narrativas no Amapá, especialmente na sua cidade natal, como A CASA AMARELA que é ambientada em Macapá, no período de 1960, em que narra fatos acontecidos durante a ditadura como o “engasga-engasga” ou a Fortaleza usada como cadeia para encarcerar os presumidos comunistas.
“A coletânea de contos de TRÓPICO ÚMIDO que tem como subtítulo TRÊS CONTOS AMAZÔNICOS, além de conter o conto LATITUDE ZERO, apresentado no segundo capítulo, há dois outros ambientados em Belém (PA), Manaus (AM) e Rio Branco (AC) e o livro começa com: INFERNO VERDE. Conta a história do repórter Isaías Oliveira, num duelo com o sinistro traficante Cara de Catarro. A trama se passa em Belém e na ilha do Marajó.
“O segundo conto, LATITUDE ZERO, desenrola-se em Macapá, cidade onde nasci, situada no estuário do maior rio do planeta, o Amazonas, esquina com a Linha Imaginária do Equador. Um punhado de jovens começa a descobrir que a vida produz também ressaca.
“O terceiro conto, A GRANDE FARRA, foi publicado em livro homônimo, em 1992. Começou a ser escrito em Manaus, em 1976, e foi concluído em Belém dez anos depois. Narra as peripécias do jovem repórter e playboy Reinaldo. Candidato a escritor, ele gasta seu tempo trabalhando como repórter, bebendo e se envolvendo com inúmeras mulheres. O conto tem sua geografia em Manaus, encravada no meio da selva amazônica. A ação transfere-se depois para Rio Branco, no extremo oeste brasileiro.
“O motivo de o escritor publicar esses contos é sensibilizar o leitor a conhecer a Amazônia visto que “Por meio deste livro, espero proporcionar aos leitores – os que já me conhecem de outros trabalhos de ficção e os que ainda não me conhecem – uma viagem ao âmago da Amazônia, que é o caboclo, o nativo da floresta e das cidades da floresta”.
A pesquisa de Francesco Mariano vai até 2022. Este ano, publiquei o thriller histórico A IDENTIDADE CARIOCA. Um jornalista descobre o paradeiro da maior lenda carioca: o Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo. Em segundo plano, faço uma leitura da História do Brasil, sem a mordaça marxista.
Francesco Marino é doutor em Estudos Literários na Unesp, mestre em Letras pela Università degli Studi di Padova, reconhecido pela UFRGS. Graduado em Língua e Cultura Italiana, tem formação em literatura italiana, brasileira, portuguesa, inglesa, norte-americana, francesa, espanhola e hispano-americano; tradução; teoria literária; filologia moderna; História da Filosofia Medieval; Estética; Filosofia da História; e História da Filosofia Moderna e Contemporânea.
Ministrou as seguintes disciplinas: Literatura
Luso-Brasileira, Literatura Brasileira, Literatura da Amazônia, Literatura Portuguesa,
Teoria da Literatura, Literatura Universal, Tópicos Avançados de Literatura,
Literatura Infanto-Juvenil, Trabalho de Conclusão de Curso, Estudos de
Linguagem e Códigos, Linguagem e Meios de Comunicação (Português Instrumental),
Tópicos Especiais, Língua Portuguesa, Texto e Discurso, Pressupostos
Linguísticos, Estágio Supervisionado; e História da Filosofia Medieval.
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