segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

A identidade do Brasil. A identidade carioca

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 13 DE JANEIRO DE 2025 – A identidade do Brasil é um tema permanente, investigado e debatido por historiadores, intelectuais e acadêmicos, porque existe o interesse geral de sabermos o que essencialmente move a nação brasileira. Nesse aspecto, há uma lista de clássicos que se debruçam sobre o assunto, como Raízes do Brasil, do escritor Sérgio Buarque de Holanda. 

Trata-se de ensaio publicado originalmente pela Editora José Olympio, em 1936, passando, posteriormente, por várias reedições. Clássico da historiografia e da sociologia brasileiras, a obra foi traduzida para o inglês, alemão, francês, italiano, espanhol e japonês.

Muito já se escreveu sobre o livro de estreia de Sérgio Buarque de Holanda, pois aborda aspectos da formação da sociedade brasileira. Só o li, agora, nove décadas após sua primeira edição. Minhas impressões sobre ele são as seguintes: é um ensaio erudito, poético na sua profundidade, o que exige mais de uma leitura e algum conhecimento sobre o assunto, do contrário o leitor não irá entender muita coisa. 

Mas algumas coisas são claras: Portugal criou o Brasil, e assim como Portugal esteve sempre junto da Espanha, o Brasil paira sobre países de origem espanhola. De modo que somos ibéricos por excelência. Mestiços de tupis e africanos. Somos cordiais no que diz respeito à mestiçagem, e herdamos da aristocracia lusitana o patrimonialismo. 

Hoje, muitos políticos, ministros, governadores, prefeitos etc. procuram, em primeiro lugar, empregar toda a sua família. Também, os orçamentos de muitos dos órgãos brasileiros são uma afronta à falta de educação de qualidade, à falta de atendimento médico de qualidade, à falta de transportes públicos de qualidade, a pouca segurança pública em todo o território brasileiro etc. 

As raízes do Brasil são lusitanas, em primeiro lugar; em segundo, africanas; e, em terceiro, tupi. Com o drible que dom João VI deu em Napoleão Bonaparte, no início do século XIX, e a criação do Império de Portugal e Brasil, aí surgiu a nação brasileira, tropical, mestiça de cultura europeia, africana e tupi. 

Não foi fácil manter um território continental e a língua portuguesa falada no Brasil, pois, após consolidar o Brasil como nação, veio o desafio de inseri-lo na modernidade. Isso foi feito. Agora estamos diante de um terceiro desafio: consolidar nossa democracia, sempre atacada, atualmente com chumbo grosso. 

Voltemos a Sérgio Buarque de Holanda. Ele começou a gestação de Raízes do Brasil na Alemanha, em Berlim, quando morou nessa cidade como correspondente internacional, entre 1929 e 1930. Conviveu com vários intelectuais alemães e quando retornou à pátria trouxe 400 páginas de anotações a que denominou “teoria da América”. 

O resultado foi Raízes do Brasil. Estreia em grande estilo, pois a José Olympio era a mais importante casa editorial da época e o livro integrava a Coleção Documentos Brasileiros, dirigida por nada menos do que Gilberto Freyre. Raízes do Brasil possui cinco edições diferentes, a definitiva publicada em 1969. Isso baratinou um pouco os pesquisadores, que se prendem às várias edições tentando entender por que Sérgio Buarque de Holanda mudou isso e aquilo outro, ou inseriu tal e qual coisa. A última edição é o que importa. 

Contudo, em 2016, por ocasião do aniversário de 80 anos do livro, a Companhia das Letras lançou uma edição comemorativa de Raízes do Brasil, organizada por Lilia Schwarcz e Pedro Meira Monteiro. Mauricio Acuña e Marcelo Diego fizeram um trabalho de arqueologia das várias edições, inserindo notas que mapeiam todas as alterações realizadas entre a primeira edição, em 1936, e a quinta e definitiva, em 1969. O volume traz também todos os prefácios e posfácios das diversas edições. 

Sérgio Buarque de Holanda nasceu em São Paulo/SP, em 11 de julho de 1902, e faleceu na mesma cidade, em 24 de abril de 1982. Foi historiador, sociólogo, escritor, crítico literário, jornalista e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). 

Pai dos músicos Chico Buarque, Miúcha, Ana de Hollanda e Cristina Buarque, e primo do linguista Aurélio Buarque de Holanda, descendia de portugueses, holandeses, cristãos-novos e indígenas. Filho do farmacêutico pernambucano Cristóvão Buarque de Hollanda e da dona de casa fluminense Heloísa Gonçalves Moreira Buarque de Hollanda, mudou-se, em 1921, para o Rio de Janeiro, onde participou do Movimento Modernista de 1922. 

Graduou-se pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1925. Em 1936, obteve o cargo de professor assistente da Universidade do Distrito Federal, incorporada depois na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e se casou com Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim, com quem teve sete filhos. 

Em 1941, passou longa temporada como visiting scholar em várias universidades dos Estados Unidos. Em 1946, voltou para São Paulo, onde assumiu a direção do Museu Paulista, até 1956. Em 1948, começa a lecionar na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na cátedra de História Econômica do Brasil. 

Viveu na Itália, entre 1953 e 1955, lecionando estudos brasileiros da Universidade de Roma. Em 1958, assumiu a cadeira de História da Civilização Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Em 1958, ingressa na Academia Paulista de Letras e recebeu o Prêmio Edgar Cavalheiro, do Instituto Nacional do Livro, por Caminhos e Fronteiras. 

A partir de 1960, passa a coordenar o projeto da História Geral da Civilização Brasileira e, em 1962, assume a presidência do recém-fundado Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Entre 1963 e 1967, foi professor convidado em universidades no Chile e nos Estados Unidos, e participou de missões culturais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura na Costa Rica e Peru. 

Em 1980, recebe os prêmios Juca Pato, da União Brasileira de Escritores, e o Jabuti de Literatura, da Câmara Brasileira do Livro. 

É autor de: Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, 1936.

Cobra de vidro. São Paulo, 1944.

Monções. Rio de Janeiro, 1945.

Expansão paulista em fins do século XVI e princípio do século XVII. São Paulo, 1948.

Caminhos e Fronteiras. Rio de Janeiro, 1957.

Visão do Paraíso. Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo, 1959.

História Geral da Civilização Brasileira (em coautoria). 1961.

Do Império à República. São Paulo, 1972. (História geral da civilização brasileira, tomo II, vol. 5).

Tentativas de mitologia. São Paulo, 1979.

Sergio Buarque de Hollanda: História (org. Maria Odila Leite Dias). São Paulo, 1985 (coletânea).

O extremo Oeste (obra póstuma). São Paulo, 1986.

Raízes de Sérgio Buarque de Holanda (org. Francisco de Assis Barbosa). Rio de Janeiro, 1988 (coletânea).

Capítulos de literatura colonial (org. Antonio Candido). São Paulo, 1991 (coletânea).

O espírito e a letra (org. Antonio Arnoni do Prado), 2 vols. São Paulo, 1996 (coletânea).

Livro dos prefácios. São Paulo, 1996 (coletânea de prefácios escritos pelo autor).

Para uma nova história (org. Marcos Costa). São Paulo, 2004. (coletânea de textos publicados, quase todos, em jornais de notícias).

Escritos coligidos – 1920-1979 (org. Marcos Costa), 2 vols. São Paulo, 2011 (coletânea). 

Meu romance histórico A IDENTIDADE CARIOCA mergulha sobre a questão da identidade brasileira, abarcando desde a migração dos tupis da Amazônia para o litoral, até os dias de hoje, tendo como trama central o Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo, a maior lenda urbana do Rio de Janeiro.

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