Marina Colasanti em foto de 1968: linda e talentosa |
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 28 DE JANEIRO DE 2025 – O thriller político O OLHO DO TOURO, segundo volume da trilogia que começou com O CLUBE DOS ONIPOTENTES, tem como trama ficcional a perseguição, prisão ou assassinato do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Trata-se de um romance jornalístico, com personagens de ficção e reais, vivas e mortas, movendo-se no Brasil de hoje. Entre os personagens reais pontua a escritora Marina Colasanti, que teve sua vida ligada ao Parque Lage, uma das catedrais culturais da Cidade Maravilhosa.
A escritora, tradutora e jornalista Marina Colasanti faleceu nesta terça-feira 28, aos 87 anos, na sua casa, no Rio de Janeiro, e o velório será no Parque Lage. Segue trecho de O OLHO DO TOURO no qual Marina Colasanti aparece:
O ENGENHO DEL REY, erguido, em 1567, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, por Antonio Salema, acabou nas mãos de Rodrigo de Freitas, então dono da Zona Sul, em 1811, que o adquiriu de Sebastião Fagundes Varela. Em 1840, o paisagista inglês John Tyndale é contratado para reformar a fazenda e recria nela o romantismo dos parques da sua terra natal. Em 1859, a fazenda é vendida para o empresário Tonico Lage, Antônio Martins Lage, e passa a ser chamada de Parque dos Lage. Em 1900, os três filhos de Lage herdam a fazenda e a vendem, treze anos depois, ao dr. César de Sá Rabello. Mas, em 1920, o magnata Henrique Lage, neto de Tonico Lage, resgata a antiga propriedade da família e dá início a uma reforma para a qual convida o arquiteto italiano Mario Vodret como projetista do palacete que fora de seu pai.
Em 1918, a contralto italiana Gabriella Besanzoni se apresenta no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e canta Carmen, de Bizet. Ao ouvi-la, Henrique Lage, amante do canto lírico, se apaixona irremediavelmente por ela e envia flores ao seu camarim, com um convite para jantar. Ela recusa. Estava apaixonada por Arthur Rubinstein. Mas Henrique Lage continua cortejando-a mundo afora. Ela não resiste a tanto charme e acaba se apaixonando por ele. Casam-se em 7 de fevereiro de 1925, em regime de separação total de bens, por exigência dela.
Em 1931, Henrique Lage manda construir no parque um palazzo romano para sua diva. Projetado pelo arquiteto italiano Mário Vodrel, o pórtico do casarão é revestido de cantaria, mármore, azulejos e ladrilhos importados da Itália. No centro da mansão, decorada com rico mobiliário, mármore, tapeçaria e obras de arte, há um pátio com piscina. Do jardim, 174 mil metros quadrados de Mata Atlântica, divisa-se o Morro do Corcovado, encimado pelo Cristo Redentor, inaugurado em 12 de outubro de 1931. Em 1936, Gabriella Besanzoni funda a Sociedade do Teatro Lírico Brasileiro e promove festas estreladas pelas celebridades cariocas da época.
Em 1948, mudam-se para a mansão dos Lage os sobrinhos-netos de Gabriela Besanzoni: o ator Arduíno Colassanti (com dois esses) e a escritora, jornalista, tradutora e artista plástica ítalo-brasileira Marina Colasanti, que nasceu em Asmara, a capital da Eritreia, então colônia italiana, na África, em 26 de setembro de 1937. Colasanti passou parte da infância em Trípoli, Líbia, e na Itália, de onde sua família emigrou para o Rio de Janeiro após a Segunda Guerra Mundial, em 1948. Em 1956, entra para a Escola Nacional de Belas Artes, como professora de Desenho. Em 1962, começa a trabalhar no Jornal do Brasil, onde permanece por 11 anos, como repórter, redatora, editora, colunista e cronista. De lá, foi para a Revista Nova, da Editora Abril, onde permanece por 18 anos. Colaborou com várias publicações, apresentou programas de televisão e escreveu roteiros para filmes e novelas. Seu primeiro livro, Eu Sozinha, foi publicado em 1968. Publicou mais de 70 livros de ficção, especialmente livros infantis, além de crônicas e poesia.
Nos anos 1960, os herdeiros dos Lage estavam endividados com o Banco do Brasil; assim, parte da propriedade foi repassada ao banco como pagamento e parte foi vendida para empresários, entre os quais Roberto Marinho, que pretendia construir no local a sede da TV Globo. Depois, Roberto Marinho tentou construir um condomínio de edifícios, vetado pelo governador Carlos Lacerda, pois o Parque Lage fora desapropriado, convertido em parque público, tombado como patrimônio histórico, artístico, paisagístico, ambiental e cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), em 1957. Em 1965, o Parque Lage é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), com o empenho de Carlos Lacerda.
Em 1957, a Secretaria de Cultura do Estado da Guanabara cria o Instituto de Belas Artes (IBA), que passa a funcionar no Parque Lage a partir de 1966. Desmantelado durante a Ditadura dos Generais (1964-1985), é ressuscitado em 1975, agora como Escola de Artes Visuais (EAV). Em 1967, Glauber Rocha filma Terra em Transe no palacete, como sede do governo da cidade de Alecrim, no fictício país de Eldorado, com os atores Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce Rocha e Jardel Filho.
Hoje, o palacete do Parque Lage é endereçado na Rua Jardim Botânico 414, em área de 52 hectares, ou campos de futebol, no Parque Nacional da Tijuca.
Julieta Besanzoni sentia-se em casa nas aulas de Charles Watson, pintor escocês que se tornou professor e coordenador do Departamento de Pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, desde 1979. Nunca mais quis saber de outra cidade para viver. Criou o curso O Processo Criativo. Watson também constrói veleiros.
Otelo aspirava ser como Henrique Lage, carioca, nascido em 14 de março de 1881 e falecido em 2 de julho de 1941. Industrial, dono de uma empresa de mineração e uma companhia de navegação, Henrique Lage criou ainda, em 1935, a Companhia Nacional de Navegação Aérea, primeira fábrica de aviões no Brasil.
Mas Otelo queria ser apenas magnata, e já tinha os meios
para isso. Tornara-se especialista em Di Cavalcanti. Podia produzir Di
Cavalcanti de olhos fechados. Sabia tudo de Di. Ninguém poderia dizer que uma
reprodução sua não era um legítimo Di Cavalcanti. Julieta era também
especialista na obra do pintor carioca. Inclusive Navio Negreiro passara pelo seu crivo na mostra da tela, de 13 a 17
de fevereiro de 2023.
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