Distração da violência no dia 3 de maio: circo com a
cantora e atriz americana Lady Gaga em Copacabana
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 16 DE FEVEREIRO DE 2025 – As cidades são como as mulheres: misteriosas, uterinas, portos seguros, absolutamente necessárias. Existem as cidades natais, as cidades onde moramos, levados pelas circunstâncias, e as que amamos. Quando podemos morar na cidade que amamos é como viver com a mulher amada. Não importa, porém, onde moremos, devemos ser sempre gratos à cidade que nos acolhe. E por mais que não moremos na cidade que amamos, ela estará sempre lá, feérica, maravilhosa.
Cada país tem uma cidade que todos amam, ou que, ao menos, ninguém possa ignorá-la. Por exemplo, os Estados Unidos têm Nova York; a França, Paris; a Itália, Roma; a Espanha, Madrid; a Amazônia, Belém do Pará; o Brasil, Rio de Janeiro. O fio da meada do meu romance histórico A IDENTIDADE CARIOCA é que o Rio de Janeiro foi o epicentro histórico e geográfico da formação do Brasil, da identidade brasileira. Antes dele, dizia-se que fulano era da província da Bahia, ou da província de São Paulo, ou do Grão-Pará; a partir dele, começou-se a usar o gentílico brasileiro. E para lá convergiram os grandes artistas nacionais, e continuam convergindo.
Situado na paradisíaca Baía de Guanabara, no Atlântico, o Rio de Janeiro é o maior destino turístico brasileiro, da Ibero-América e do Hemisfério Sul. Trata-se da cidade brasileira mais conhecida no exterior, assim como um de seus bairros e praia: Copacabana. É a segunda maior metrópole do Brasil, com mais de 6 milhões de habitantes, atrás somente de São Paulo. O Rio é conhecido como Cidade Maravilhosa. Quem mora nele são os cariocas, naturais ou por adoção.
O Rio exerce influência nacional, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político. Por ser geograficamente tão paradisíaca e culturalmente tão rica e tão difundida pelos meios de comunicação, a cidade atrai artistas, bilionários e políticos de todo o país. Seus maiores ícones – o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, Copacabana, o Maracanã, o Carnaval carioca, o samba e a bossa nova – são conhecidos mundialmente.
Fundada pelo capitão português Estácio de Sá, em um istmo entre o Morro Cara de Cão e o Morro do Pão de Açúcar, em 1 de março de 1565, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi, sucessivamente, capital da colônia portuguesa (1763-1815), do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822), do Império do Brasil (1822-1889) e da República dos Estados Unidos do Brasil (1889-1960).
Em 1808, o imperador Napoleão Bonaparte invade Portugal e o príncipe regente dom João foge com a rainha Carlota Joaquina de Bourbon, demente, para o Rio de Janeiro, que se converte na corte do Império Português. É aí que começa a nascer o Brasil moderno.
De meados do século passado para cá, além de políticos corruptos, o Rio atrai também narcotraficantes e toda espécie de bandido. Hoje, mata-se turista à facada, na rua. Copacabana está tomada por moradores de rua e assaltantes. Essa é a cidade atual.
O prefeito Eduardo Paes foi eleito quatro vezes para governar a cidade do Rio de Janeiro. Por que? Será ele o prefeito ideal para esta que é a cidade mais emblemática do país?
Recentemente, Paes (PSD) bateu boca na internet com o senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ), uma das mais lúcidas vozes da Direita, sobre segurança no Rio. Paes disse que o senador era o “rei da rachadinha” e que a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem “dedo podre”, e desafiou Flávio Bolsonaro a concorrer ao governo do Estado do Rio, em 2026. A acusação de rachadinha contra Flávio Bolsonaro foi arquivada pela Justiça.
– Acho que você devia largar essa proteção do mandato de senador e vir disputar o governo do Estado. Para de terceirizar e vem enfrentar a disputa contra o candidato que vou apoiar. Tá com medo? Duvido você ter coragem. Já pensou se fica sem mandato, hein? – disse Paes.
O senador havia postado uma foto do prefeito ao lado do ex-governador Sergio Cabral e do presidente Lula da Silva. Sérgio Cabral quase assalta o Estado do Rio Inteiro e o leva para um paraíso fiscal. Foi condenado a 425 anos de cadeia, mas foi solto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Quanto a Lula, calcula-se que desviou trilhões de reais.
– Está no quarto mandato e não conseguiu resolver os problemas básicos do Rio. Só lorota! A Guarda Municipal tá largada, orientada pra dar porrada em trabalhador e multar motorista, ao invés de qualificá-la e armá-la para atuar em complemento às polícias estaduais. Quanto você investiu em segurança pública nos seus 13 anos de governo? – disse Flávio Bolsonaro.
Pesquisa do instituto Prefab Rio dá Eduardo Paes liderando a corrida para governador, com 37,2%, em levantamento feito entre os dias 8 e 11 de fevereiro, com 2 mil eleitores em 35 cidades. Seguem-no Wladimir Garotinho (5,2%), também do PSD de Eduardo Paes, e filho dos notórios ex-governadores do Rio, Anthony e Rosinha Garotinho. Mas a pesquisa mostra alto índice de indecisos (25,2%) e votos brancos e nulos (18,6).
Para presidente, em 2026, a pesquisa dá Jair Messias Bolsonaro na cabeça, com 41,2% das intenções de voto, enquanto o presidente Lula aparece com 21,8%.
Segundo a pesquisa, o maior problema que o Estado enfrenta é falta de segurança pública (48,3%). A capital reflete isso.
Voltemos a Eduardo da Costa Paes, carioca de 1969, prefeito do Rio de Janeiro de 2009 a 2017 e de 2021 até agora. Filho de pai advogado e mãe professora, formou-se bacharel em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com especialização em Políticas Públicas e Governo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Iniciou sua carreira política no início dos anos 1990, pelas mãos de Cesar Maia, prefeito do Rio durante 12 anos. Paes foi nomeado subprefeito da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Em 1996, é eleito vereador pelo Partido da Frente Liberal (PFL), com a maior votação obtida por um candidato ao cargo no Brasil, 82.418 votos. Dois anos depois, elege-se deputado federal, com 117.164 votos. Filia-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); em 2001, retorna ao PFL e é nomeado secretário do Meio Ambiente da cidade do Rio durante a gestão Cesar Maia. Em 2002, é reeleito deputado federal, com 186.221 votos, e no ano seguinte filia-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Em 2006, concorre ao governo do Estado, mas obtém pouco mais de 5% dos votos, no primeiro turno, e declara apoio ao peemedebista Sérgio Cabral Filho, no segundo turno. Cabral ganha e acomoda Paes na Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer. Em 2007, Paes deixa o PSDB e filia-se ao PMDB, partido pelo qual é candidato a prefeito do Rio de Janeiro, em 2008; é eleito, derrotando o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira, do Partido Verde (PV).
Em 2012, reelege-se no primeiro turno com 64% dos votos; em 2026, o Rio sedia os Jogos Olímpicos e os Jogos Paralímpicos. A cidade passa por profundas transformações, como a instalação de BRT e a criação do Porto Maravilha.
Paes é sucedido por Marcelo Crivella. Em 2018, Paes é novamente candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro, mas é derrotado por Wilson Witzel, que sofreu impeachment, em 30 de abril de 2021, por improbidade administrativa.
Em 22 de dezembro de 2020, a Justiça decreta o afastamento e prisão de Marcelo Crivella. Assume, interinamente, Jorge Miguel Felipe. Paes concorre novamente à Prefeitura do Rio, agora pelo DEM, e vence com 64.07% dos votos (1.629.319 votos).
Em 2024, Paes concorre ao quarto mandato e vence no primeiro turno com 60,47% dos votos válidos o candidato de Jair Bolsonaro, o deputado federal, delegado da Polícia Federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Informação (Abin), Alexandre Ramagem (PL/RJ).
Alexandre Ramagem tinha tudo preparado, se ganhasse, para instalar uma central de inteligência para ajudar as polícias federal e estadual a combater o crime organizado no Rio, mas o carioca não quer saber disso; prefere circo. E circo é o que Eduardo Paes melhor sabe fazer. A última será a apresentação de Lady Gaga em Copacabana, no dia 3 de maio.
– Madonna, ano passado. Este ano tem Lady Gaga – comentou Eduardo Paes. – Vai gastar dinheiro público com Lady Gaga? Vou. Com a Madonna gastei também. Sabe por quê? Porque enche todos os hotéis, enche todos os restaurantes, gera emprego.
E a segurança? Que se foda. O Rio é isso mesmo; continua sendo a capital de um país governado por um condenado pela Justiça, a qual vem soltando bandidos perigosos, manietando as polícias e amordaçando os políticos da Direita.
Paes precisará, para chegar ao comando do Estado, do dobro
de votos para prefeito do Rio. Os fluminenses quererão Paes como governador? Ou
Paes optará pelo Senado? Muita água vai rolar, até 2026. Que o digam Donald
Trump e Elon Musk.
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