segunda-feira, 21 de abril de 2025

Brasília completa 65 anos com democracia meia-boca e a Papuda abarrotada de presos políticos

Capa do romance HIENA na edição da amazon.com.br

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 21 DE ABRIL DE 2025 – Brasília/DF, a capital do Brasil, atualmente com democracia meia-boca, completa, hoje, 65 anos de fundação. A Papuda é sua penitenciária, onde estão presos políticos, acusados de tentarem um golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, armados de batom e pipoca. Seus arquitetos, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, eram comunistas e desenharam uma cidade comunista, que, de certa forma, parece um cemitério, mas sem alma. 

Ergue-se no Planalto Central, a 1.172 metros acima do nível do mar, na região Centro-Oeste do país, tem 2.817.381 habitantes, é a terceira cidade mais populosa do país e a maior cidade do mundo construída no século XX. Uma Babel de sotaques, predominando o mineiro, goiano, paulista e nordestino. Seus escritores defendem que a cidade, embora ainda em cueiros, já tem literatura própria. 

É uma cidade feita para quem tem automóvel e, embora planejada e tão jovem, é um três por quatro do país em dois quesitos: cheia de favelas, vendedores ambulantes, pedintes e moradores de rua; e deteriorada. Entre em um banheiro público, na Rodoviária Interestadual, por exemplo. Dá vontade de vomitar. E muitas das calçadas, quando as há, dá a impressão de que foram bombardeadas. 

Apesar de planejada, fora do Plano Piloto, que é o centro da cidade, a fiação elétrica é aérea, motivo pelo qual muitas árvores ficam com apenas uma banda, para não prejudicar a fiação. Quanto ao policiamento, trata-se de um problema federal, pois os policiais estão cada vez mais desarmados e ameaçados de eles mesmos serem presos e não os bandidos. 

Em 31 de janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek toma posse. Vendo que não conseguiria chegar ao fim do seu mandato, em 31 de janeiro de 1961, se a capital continuasse no Rio de Janeiro, aproveitou uma ideia que começou no Brasil-Colônia, no século XVIII, de transferir a capital do Brasil para o interior do país. 

Um dos primeiros a pensar nisso foi Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, primeiro-ministro de Dom José I, entre 1750 e 1777. Pombal, um dos mais destacados representantes do despotismo esclarecido, responsável por reformas que catapultaram a economia do reino e das colônias, sugeriu, em 1761, que a capital do Brasil-Colônia fosse transferida para o interior do país, e contratou o cartógrafo italiano Francesco Tosi Colombina para estudar a geografia do Planalto Central, epicentro da imensa colônia. 

Em 1789, ano da Revolução Francesa, Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, também pensou em uma nova capital, mas em um país independente. Tiradentes nasceu na Fazenda do Pombal, próxima ao arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, disputado, à época, pelas vilas de São João del-Rei e São José del-Rei, no hoje município de Ritápolis/MG, e foi batizado em 12 de novembro de 1746. Dentista, tropeiro, minerador, comerciante, militar e ativista político, foi um dos líderes da Inconfidência Mineira, conspiração separatista do Brasil-Colônia de Portugal. Tiradentes foi preso, julgado, enforcado publicamente, esquartejado e seu corpo exposto, em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro. 

Após o golpe da República, em 15 de novembro de 1889, os golpistas, visando criar uma identidade republicana e enterrar o império, tornaram Tiradentes herói nacional, patrono cívico do Brasil e das polícias militares e civis. O 21 de Abril é feriado nacional. Em Minas Gerais, a antiga Vila de São José do Rio das Mortes foi renomeada cidade de Tiradentes em sua homenagem. Mitificado, pintam-no à semelhança do Jesus Cristo hollywoodiano. A iconografia tradicional de Tiradentes é de um homem de cabelos e barbas longas, como Jesus Cristo, no cadafalso. Porém, como militar, o máximo que Tiradentes poderia ter no rosto seria um discreto bigode. Na prisão, onde esperou ser executado durante três anos, teve barba e cabelo raspados, para evitar piolho. 

Em 1808, dom João VI e sua corte fugiram da iminente invasão de Portugal pelo imperador francês Napoleão Bonaparte e foram para o Rio de Janeiro, então uma pequena cidade, incompatível para abrigar a corte de Portugal. Também, na época, a localização costeira do Rio de Janeiro deixava a cidade vulnerável a ataques estrangeiros pelo mar. No século XVI, os franceses conquistaram facilmente a Baía de Guanabara e instalaram a França Antártica. No século XVIII, corsários franceses tomaram o Rio e só o libertaram após dois meses, quando receberam um gordo troféu para deixarem a cidade. 

Em 1813, a interiorização da capital ganhou as páginas do influente Correio Braziliense, editado por Hipólito José da Costa, para quem a nova cidade deveria ser construída na capitania de Goiás, no ponto onde nascem “caudalosos rios que se dirigem ao norte, ao sul, ao nordeste e ao sudeste”. Segundo Hipólito, isso permitiria o contato fluvial da capital com todo o território brasileiro. O que não é verdade. 

Em 1823, o ministro e deputado José Bonifácio de Andrada e Silva (SP), conhecido como Patriarca da Independência, propôs à Assembleia Constituinte a transferência da capital para o interior e sugeriu que se chamasse Brasília. “Como essa cidade deve ficar equidistante dos limites do Império tanto em latitude como em longitude, vai-se abrir, por meio das estradas que devem sair desse centro como raios para as diversas províncias, uma comunicação e decerto criar comércio interno da maior magnitude. Vai-se chamar para as províncias do sertão o excesso da povoação sem emprego das cidades marítimas e mercantis” – propôs Bonifácio. 

Só que Dom Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte e a transferência da capital foi para a gaveta, tanto que na Constituição imposta pelo imperador, em 1824, não se fala nisso. 

Mas no reinado de Dom Pedro II, a campanha pela nova capital renasceu, encabeçada pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen. Ele argumentava que a permanência da sede do Império no Rio significava a continuidade do atraso colonial, que a entrada do Brasil na modernidade dependia dessa transferência. 

Inspirado por Varnhagen, o senador (1838-1863/PE) Antônio Francisco de Paula de Holanda Cavalcanti de Albuquerque, Visconde de Albuquerque, apresentou um projeto de lei prevendo uma nova capital. Para ele, o sertão teria boa utilidade se fosse ocupado por plantações de café, então o motor da economia nacional. 

“O Brasil deve, em minha opinião, ser mais uma nação agrícola do que comercial. Ora, o desenvolvimento da agricultura em vasta escala não poderá conseguir-se senão promovendo-se a formação de grandes estabelecimentos no centro do Império. O meio mais óbvio que se antolha para realizá-los é a criação da capital nesse centro” – argumentou. Segundo ele, a cidade poderia ficar pronta em dez anos, usando como mão de obra escravos negros, que, aliás, construíram o Brasil debaixo de chicote, até a Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, pela Princesa Isabel, quando os negros passaram a outra casta, de escravos para marginais; poderiam ser presos até por olharem nos olhos de uma autoridade, ou policial. A proposta foi para a gaveta e o Cerrado não foi ocupado por cafezais, mas, depois da inauguração de Brasília, em 21 de abril (Tiradentes) de 1960, por extensas plantações de soja. 

Em 1877, Varnhagen partiu para a ação. Embrenhou-se pelos sertões do Planalto Central para identificar o ponto onde seria construída a nova cidade, que se chamaria Imperatória, em homenagem ao imperador Dom Pedro II, e seria construída exatamente entre as lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas. 

O tema foi desengavetado na Assembleia Constituinte de 1891, após a derrubada da Monarquia. O senador constituinte Virgílio Damásio (BA) apresentou uma proposta denominando a nova capital do Brasil de Cidade Tiradentes e argumentou que o Rio de Janeiro estava inchado, com 400 mil moradores; um barril de pólvora. 

“Nesta cidade populosa, falemos a verdade, encontram-se muitos que vivem entre a ociosidade e manejos ou expedientes poucos confessáveis. Essa grande massa de homens é uma arma, uma alavanca poderosíssima em mãos de agitadores. Uma cidade populosa não convém para capital” – disse. 

O deputado constituinte Thomaz Delfino (DF) concordou com Virgílio Damásio. “Uma capital não se sente muito bem no meio da multidão da vasta cidade, por sua natureza agitada e, de vez em quando, algum tanto revolucionária. É sabido que nos Estados Unidos da América do Norte os diferentes estados têm geralmente pequenas cidades por capitais. A sede do governo do estado de Nova York não é a riquíssima cidade desse nome e sim a insignificante Albany. Quando a capital da União Americana foi fixada em Washington, era esta apenas uma pequena cidade de 70 a 80 mil habitantes” – argumentou. 

Com efeito, a deposição de Dom Pedro II era um nervo exposto. Inclusive, dom Pedro II poderia ter resistido, pois teve todo o apoio necessário para isso, mas parece que ele queria mesmo era se aposentar, e a herdeira do Império, a princesa Isabel, era mais beata do que estadista. Havia a preocupação, por parte dos republicanos, de uma insurreição pela volta do Império. A minoria republicana que deu o golpe contra o Império não contava com respaldo popular; o Rio de Janeiro era monarquista. Durante os governos de Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894), ambos militares, o Rio foi bombardeado por navios de guerra dos insurgentes da Revolta da Armada. 

Mas como a Constituição de 1891 previa a construção de um novo Distrito Federal no centro do Brasil, os dois primeiros presidentes da República, Deodoro e Floriano, seguiram a lei e criaram uma comissão de técnicos para delimitar, no interior de Goiás, o quadrilátero da futura capital. Em 1892, o belga Louis Cruls mapeou um território no Planalto Central para a construção da nova capital. 

Mas o sucessor de Deodoro e Floriano, e primeiro civil a ocupar a Presidência da República, Prudente de Moraes (1894-1898) engavetou o plano, argumentando que os cofres públicos não tinham dinheiro para a empreitada. Contudo, o motivo era outro. Quem então mandava no país eram as oligarquias nos estados, porque eram quem sustentavam o Estado, e eles não queriam que a capital saísse do Rio, embora o Rio estivesse fervilhando, inclusive Prudente de Moraes escapou por um triz de ser assassinado a espada, durante a cerimônia de boas-vindas às tropas que haviam massacrado Canudos. 

No governo de Rodrigues Alves (1902-1906), que sucedeu Campos Salles (1898-1902), o Rio foi depredado pelos cariocas na Revolta da Vacina. 

Em 1905, o senador Nogueira Paranaguá (PI) apresentou projeto de lei dando prazo para a mudança da capital, até 1921, cem anos da Independência do Brasil. Paranaguá argumentou que o Rio não espelhava o Brasil: “Esta é uma cidade cosmopolita por excelência. Aqui, há o elemento português, o italiano, o alemão, o espanhol e muitos outros. Os estrangeiros têm força preponderante. Os interesses desta cidade são muitas vezes antagônicos com o interesse nacional. Eu quero uma capital tranquila, verdadeiramente nacional, em que o brasileirismo seja predominante” – disse. Além disso, alegava que o clima do Rio não era bom: “Neste momento, estou a sentir um calor senegalesco. Eu estou transpirando, apesar destes ventiladores. Nós vemos que o próprio presidente da República se retira da capital durante alguns meses do ano por não poder ficar neste clima asfixiante”. E arrematou: “No Planalto Central, teríamos uma capital que reuniria todas as condições de salubridade”. 

Naquela época, não havia aparelho de ar-condicionado no Brasil, que só começou a utilizá-los na década de 1940. O Rio, cercado pela Baía de Guanabara, era rodeado de pântanos, ambiente propício para a disseminação de cólera, peste bubônica e febre amarela. Rodrigues Alves, o primeiro presidente eleito no século XX, executou uma reforma radical na região portuária do Rio para combater a insalubridade, demolindo cortiços e construindo amplas avenidas, praças e edifícios públicos, uma Paris tropical. Não queria nem ouvir falar em capital no Planalto Central. 

Mas, em 1922, é construído um obelisco na zona rural de Planaltina/DF, a mando do presidente Epitácio Pessoa (1919-1922). Em 1929, o intelectual Theodoro Figueira de Almeida publicou um plano da futura cidade, que teria ruas e praças com nomes que contariam a história do Brasil desde Pedro Álvares Cabral. Ainda em 1922, o tenente-coronel Luiz Mariano de Barros Fournier, professor da Escola Militar, apresentou ao Senado uma parceria público-privada que lhe permitiria liderar a construção da nova capital. O governo só teria que providenciar 67 mil contos de réis e o tenente-coronel entregaria a cidade pronta, em 1931. 

“O proponente permite-se assegurar-lhes que conhece perfeitamente o problema que se propõe resolver, que, educado em severo regime militar, tem inteira noção do que seja responsabilidade e que o exercício de suas funções no magistério militar é uma prova de que se acha em pleno gozo de perfeita razão” – negociou o tenente-coronel. Os senadores agradeceram a proposta e a engavetaram imediatamente. 

Durante os trabalhos da Assembleia Constituinte de 1934, o deputado Nero de Macedo (PSR/GO) lamentou: “As circunstâncias já têm demonstrado a necessidade de uma nova capital. Os governantes, porém, ou por pirronice, ou por inércia, jamais cumpriram o dispositivo constitucional. Nós conhecemos bem os costumes políticos, conhecemos bem o encanto que tem o Rio de Janeiro”. 

A Revolução de 1930 enfraqueceu as oligarquias estaduais e a transferência da capital para o Planalto Central voltou com força à Constituição de 1934. Foi nesse clima que o diretor do Serviço de Informações e Estatísticas do Ministério da Educação, Mário Augusto Teixeira de Freitas, propôs ao governo de Getúlio Vargas a transferência da capital para o interior, aos poucos. Assim, Belo Horizonte, a capital mineira, planejada e fundada em 1897, tornar-se-ia a capital provisória do país, até que as obras da nova capital, Cabrália (em homenagem a Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil) fosse construída em Goiás. Teixeira de Freitas não conseguiu nada com Getúlio Vargas, mas, em 1938, ajudou a fundar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que endossou o projeto em duas etapas da nova capital. 

Na Assembleia Constituinte de 1946, convocada após a queda da ditadura do Estado Novo, os parlamentares acharam que em vez de Belo Horizonte a capital seria Goiânia, inaugurada em 1942. 

“Não vemos como se possa realizar, nos próximos decênios, a obra ciclópica da nova capital do Brasil, que deve ser projetada com a maior perfeição e caprichosamente executada, para não prejudicar o futuro do país. Planificada e construída em moldes moderníssimos, é Goiânia a cidade ideal, entre todas as suas irmãs, para sede provisória do governo da República. Ela já está ali à nossa vista, ao nosso alcance” – propôs o deputado constituinte Diógenes Magalhães (PSD/GO). 

Os constituintes da bancada de Minas Gerais reagiram a Diógenes Magalhães e ofereceram o Triângulo Mineiro para o novo Distrito Federal, inclusive o deputado Juscelino Kubitschek (PSD/MG): “Trago ao conhecimento dos senhores representantes um magnífico trabalho de autoria do secretário de Viação do estado de Minas Gerais. Nele, além de sugerir a mudança da capital para o pontal do Triângulo Mineiro, são estudados os variados aspectos do problema e apontada uma solução que satisfaz os partidários da ideia da mudança da capital” – discursou Juscelino, em 1946. 

Durante o governo Nereu Ramos (1955-1956), em 1955, foi enviada nova missão ao Planalto Central, a qual recomendou que o Distrito Federal fosse criado no mesmo local, em Goiás, já delimitado na época de Floriano Peixoto, e que a futura cidade fosse chamada de Vera Cruz, um dos nomes dados ao Brasil logo depois do Descobrimento. 

Em 1955, Juscelino Kubitschek, fruto de uma coligação entre o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ambos ligados ao ditador Getúlio Vargas, disputou a Presidência da República. Na campanha, sentiu que se fosse eleito não chegaria ao fim do seu mandato se a capital continuasse no Rio de Janeiro. Assim, prometeu construir Brasília. Empossado, em 1956 (até 1961), dedicou seu governo à sua promessa. Abriu um concurso para o Plano Piloto da nova cidade, vencido pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa, de modo que a construção de Brasília faria com que ele se ausentasse amiúde daquele barril de pólvora e mantivesse seu nome aceso em nível nacional. 

“Juscelino poderia ter descumprido a promessa. Nada o obrigava a cumpri-la. Ele não seria o primeiro político a não cumprir a totalidade do seu programa eleitoral. O que ocorreu foi que Juscelino, um herdeiro do getulismo, se elegeu com apenas 35% dos votos, e setores conservadores da política e das Forças Armadas, os mesmos que haviam levado Getúlio ao suicídio, questionaram essa vitória. No fim de 1955, houve duas tentativas de golpe de Estado para impedir a posse de Juscelino. No início de 1956, uma revolta militar tentou derrubá-lo. Nesse ambiente hostil, Juscelino percebeu que a transferência da capital tinha a capacidade de mobilizar o imaginário da nação e colocá-la ao seu lado. Foi por isso que levou a ideia adiante” – analisa o historiador francês Laurent Vidal, autor do livro De Nova Lisboa a Brasília (Editora UnB). 

Para Vidal, os brasileiros desconhecem a história de todas as Brasília imaginadas, de modo que JK conseguiu criar para si a imagem do mito que fez tudo sozinho: “É importante que os brasileiros conheçam a história completa de Brasília para que, assim, conheçam a si próprios. A ideia de uma nova capital no Planalto Central apareceu de tempos em tempos, sempre em momentos de crise e ruptura, como forma de reaglutinar o país dividido. Foi assim após a Independência, após a Proclamação da República, após a Revolução de 1930, após a ditadura do Estado Novo. A nova capital sempre trouxe essa ideia de progresso, de modernidade, o que mexe forte com o imaginário das pessoas. Mas, na avaliação dos governantes, bastava formular o projeto. Não era preciso ir até o fim. Por 150 anos, o importante foi apenas superar as crises”. 

Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Os militares adoraram. Em 1964, deram um golpe. Em Brasília, naquela época, não existia a possibilidade de protesto popular. Nem povo Brasília tinha, ainda. A Ditadura dos Generais durou até 1985. 

E há o mito de que São João Bosco, italiano, fundador da Congregação dos Salesianos, teria sonhado com Brasília, em 1883, e profetizado a construção da cidade, segundo o livro Memórias Biográficas de São João Bosco, de seu assistente, padre Lemoyne. Em agosto de 1883, Dom Bosco sonhou que fazia uma viagem à América do Sul, onde jamais esteve. No sonho, visitou um território que ia da Colômbia ao sul da Argentina. Segundo ele: “Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse então uma voz repetidamente: – Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível”. 

Diz-se que o lago mencionado por Dom Bosco é o Lago Paranoá. A primeira obra de alvenaria erguida na nova capital foi a Ermida Dom Bosco, uma pequena capela piramidal projetada por Oscar Niemeyer, às margens do Lago Paranoá, construída em 1957, em homenagem ao santo, que se tornou padroeiro de Brasília, juntamente com Nossa Senhora Aparecida, e os Salesianos foi a primeira ordem religiosa a chegar a Brasília, em 1956, atuando nos acampamentos dos candangos. 

Vim para cá em 1987. Ia para o Rio de Janeiro. A caminho, hospedei-me na casa de um casal de amigos, o jornalista Walmir Botelho e sua esposa, Deury Farias. O Walmir tinha acabado de assumir a diretoria de redação do jornal Correio do Brasil e me convidou para ajudá-lo no fechamento da capa, prometendo que dali a três meses conseguiria vaga para mim no Jornal do Commercio do Rio, pois o diretor de redação do Jornal do Commercio era amigo do Walmir. 

Acabou que em vez de vaga começaram a demitir no Jornal do Commercio, eu casei e nasceu minha princesinha. Até hoje estou em Brasília. Em 1987, quando cheguei aqui, logo depois o governador Joaquim Roriz começou o que eu chamo de segunda fase da construção de Brasília, que era ainda o quintal de São Paulo. Hoje, é uma cidade grande, com sotaques de todo o Brasil, as embaixadas estrangeiras, restaurantes com todo tipo de comida, e a sensação de que estamos em Minas Gerais e em Goiás. Não à toa seu fundador, Juscelino Kubitscheck, era mineiro, e o Distrito Federal é um naco de Goiás. 

Quanto aos cariocas, têm um bairro quase só de cariocas, o Cruzeiro, sede da maior escola de samba de Brasília, a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), e os cariocas estão em toda parte na administração federal e distrital, afinal, a capital era deles. 

Brasília tem bons shoppings, cinemas, restaurantes, bares, cafés, padarias, livrarias, feiras, clubes para todos os gostos e bolsos, e, claro, pamonharias. O Parque da Cidade é ótimo para caminhadas e o Lago Paranoá, uma beleza. O Sudoeste, que fica ao lado do Parque da Cidade, é o melhor bairro da cidade, onde se come bem e a noite demora a terminar. 

O romance HIENA e o livro de contos TRÓPICO, deste autor, revelam as duas Brasília: a de Oscar Niemeyer e a do Congresso Nacional, para onde os brasileiros de todos os rincões enviam seus mais destacados cidadãos, mas também os mais perigosos bandidos. Tanto um como o outro estão à venda no Clube de Autores, amazon.com.br e amazon.com

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