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O cronista amapaense Edevaldo Leal no seu metiê em Belém |
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 16 DE ABRIL DE 2025 – O escritor amapaense Edevaldo Leal disse, no Facebook, que anda com a síndrome do cronista. Anota tudo o que pode render uma crônica. Edevaldo foi meu primeiro copy desk. Desde os 5 anos de idade eu já sabia que seria escritor, mas comecei a escrever seriamente aos 14 anos, quando passei a frequentar a casa do poeta e cronista Isnard Brandão Lima Filho. Escrevia, então, poemas e crônicas, que levava para o Edevaldo Leal copidescar. Anos mais tarde, ele me disse, rindo, que as minhas primeiras crônicas eram de arrepiar, de tão ruins. Hoje, há até quem as leia.
O escritor americano Ernest Hemingway dizia que devemos anotar as boas ideias, mas não se apegar a elas, pois, se ficarmos preocupados com as anotações elas amarram a nossa criatividade. Ele tem razão. Até porque se não fizermos as anotações literárias esquecemo-las a seguir. Sei disso por experiência própria. Assim, anoto tudo, mas sem me apegar as elas, de modo que, às vezes, anoto uma coisa e escrevo crônicas inteiras sobre outra coisa, mas o gancho é a anotação.
Edevaldo Leal é da escola de Rubem Braga. É elegante na construção das frases. Apenas a experiência de um é completamente diferente da vivência do outro. Quanto a mim, sofri mais influência de Hemingway, pois meu texto é mais enxuto do que o de Rubem Braga. Certa vez, o escritor Fernando Canto, ao ler um conto meu, perguntou se aquilo era literatura ou jornalismo. Foi a partir daí que procurei separar melhor as duas coisas.
Falar em Fernando Canto, deixou-nos excelentes crônicas. Suas crônicas imergem sempre pelo realismo fantástico, e recriam, mais do que seus contos, a Amazônia, especialmente o Amapá, o dia a dia de Macapá, presente também nos seus poemas e ensaios.
Eu também vivo a síndrome do cronista, permanentemente. Às vezes, dou-me conta de que pareço um cientista vendo o mundo por meio de um microscópio. Olho tudo detidamente, procurando utilizar ao máximo meus seis sentidos.
É outono em Brasília. Gosto do outono e do inverno. Os dias são nublados e a temperatura é de cruzeiro, 21 graus centígrados. As barrigudas explodem em flores. Barrigudas são árvores com o tronco semelhante a mulheres grávidas. Há muitas em Brasília. De madrugada, levanto-me para escrever.
As madrugadas, no outono, começam a ficar mais frias e quando chega o inverno preciso de casaco. Às vezes, passo o dia de casaco e entro pela noite. Quando preciso sair, ponho meu casaco azul, que me protege do frio do inverno, quando a temperatura fica em torno dos 15 graus, nas frentes frias.
A queda de braço política continua na Praça dos Três Poderes, onde armaram a pior armadilha para prender Bolsonaro, e, segundo ele mesmo, matarem-no na prisão, envenenando-o. Envenenar um homem preso pode ser feito até com comida estragada. No caso de Bolsonaro, já o esfaquearam nos intestinos, de modo que basta um pouco de comida estragada para o enviarem desta para melhor. Querem vê-lo no além porque ele, quando foi presidente, estancou a roubalheira inacreditável a que este bananal vem sendo submetido pelo crime organizado.
Um punhado de jornalistas, liderados por Wílon Wander Lopes, vem tentando fundar a seccional do Distrito Federal da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet). Temos reunião decisória na próxima semana. De vez em quando, escrevo sobre turismo. Venho escrevendo sobre a inevitável legalização dos cassinos. Todo o Primeiro Mundo tem cassinos. Quem diz que isso é coisa do diabo deve ter o inferno na mente. Mas defendo cassinos em uma democracia, a legítima, não a relativa.
Hoje, é quarta-feira. A Feira do Guará funciona de quarta a domingo. É a melhor do DF. Na minha opinião, claro. Às vezes, vou lá só para tomar um segundo café da manhã, com empada de camarão ou bolo de mandioca (os daqui levam trigo; os de Macapá e Belém são feitos com macaxeira, açúcar, manteiga e coco – são os melhores do planeta). Aqui e ali, passo no quiosque da dona Zenaide, amapaense, para tomar açaí de Belém do Pará. De vez em quando, almoço na feira, geralmente rabada ou mocotó com arroz e macarrão.
Sou caseiro. Quando estou em casa, passo muito tempo no meu escritório. Adaptei o quarto de empregada para escritório e biblioteca. Quando vivia me mudando de casa dei milhares de livros. Hoje, minha biblioteca se resume a uns 300 ou 400 volumes, pelo menos 30 dos quais ainda não li. A biblioteca do escritor e jornalista Maurício Melo Júnior, no Park Way, é uma das maiores de Brasília, um salão com estantes repletas de livros do chão ao teto. Uma beleza. Ele também integra a Abrajet/DF.
Bom, esta crônica está parecendo vídeo, que é a crônica
moderna. Sou jurássico. Um ou outro leitor lê o que eu escrevo até o fim. Já
ouvi comentários de que sou prolixo. É verdade que ser lido causa prazer ao
escritor, que, afinal, está sendo ouvido, mas o ato de escrever é superior a
ser lido. Não estou nem aí se vou ser lido ou não; estou mais interessado em
escrever, pois recriar é como se estivéssemos vivendo de novo. Um clássico do
chique no último.
Saudades do meu amigo Edivaldo . Lembro quando eu comprei o papel para o livro dele, portanto, o Galego estava com um livro no prelo e faltou papel. O Edivaldo como foi sempre bom de coração, cedeu o seu papel para o galego, e nunca teve retorno.
ResponderExcluirLembro também quando ele ia na minha casa no Guamá, comia a minha comida braba e suava que nem uma porca velha. Saudade de verdade do meu amigo.
A crônica está perfeita. Abraço.
Bom dia Ray. Sempre que o tempo é as doenças permitem leio sua crônicas . Por elas me sinto mais próximo da minha Macapa . Com certeza se vivesse em Brasília te acompanharia nessa feira . Fraterno abraço .Leão Zagury
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